_
_
_
_
_

Andrew Bird, sempre em busca da canção de amor perfeita

Em novo disco, o cantor registra o nascimento do primeiro filho, o câncer da esposa e de paixão Foi gravado às altas horas. E regado a uísque

Travou em uma canção. Ela estava ficando pop demais, mas Andrew Bird, o cantor e compositor de Chicago permanentemente oscilante entre o folk, o pop e o jazz, queria que ela fosse mais barulhenta. Não conseguiu fazer isso, até que o seu produtor, no desespero, mostrou-lhe imagens de uma tempestade arrasando uma planície furiosamente. A partir daí a coisa fluiu. Fazia tempo que vinha querendo fazer a canção de amor perfeita. Precisava da voz de Fiona Apple. Conseguiu. Ela ficou nervosa e não conseguia juntar “a” com “b”. Ele levou uma garrafa de uísque para o estúdio de gravação. À medida que se embriagavam, os notívagos gravavam uma infinidade de músicas, até que, ao amanhecer, decidiram que haviam chegado aonde queriam. Tinham canção de amor perfeita, Left handed kisses, incluída no novo disco de Bird, Are you serious.

O rosto de Andrew Bird aparece nitidamente abatido graças ao traumático descobrimento de que se é um quarentão durante pelo menos uma década
O rosto de Andrew Bird aparece nitidamente abatido graças ao traumático descobrimento de que se é um quarentão durante pelo menos uma décadaJesse Lirola
Mais informações
Radiohead reaparece nas redes e lança primeira música inédita em cinco anos
Divulgado vídeo inédito dos Beatles
Beyoncé: orgulho negro e lavação de roupa suja do casamento em novo disco

Aos 42 anos de idade, Bird criou o seu disco mais heterodoxo. Ao menos no que se refere ao processo, pois logo se percebem, nele, os tiques e os toques de genialidade que caracterizam o artista prolífico, imperfeito, iconoclasta e admirado que ele é hoje, duas décadas e 16 álbuns depois de sua estreia. O novo trabalho, que acaba de ser lançado, responde a uma necessidade a mais: as canções contêm sentimentos desencontrados e simultâneos, como a felicidade de ter tido seu primeiro filho e o golpe da notícia de que sua mulher está com câncer.

“Mudar para Nova York para descansar a cabeça, ter um filho e ao mesmo tempo vivenciar a doença de minha mulher, tudo isso me levou a enfrentar a mortalidade na própria família. Foi um acúmulo brutal de sentimentos, e eu queria que o disco refletisse isso”, lembra o músico. “Por isso é que interferi em todo o processo, desde a primeira melodia até a última mixagem, passando pela produção. E com uma nova banca, mais direta, mais bruta. Este precisava ser o meu trabalho mais honesto, pois o que eu conto nele sou eu”.

Mudar para Nova York para repousar a cabeça, ter um filho e ao mesmo tempo vivenciar a doença de minha mulher, tudo isso me fez enfrentar a mortalidade em minha própria família. Foi um acúmulo brutal de sentimentos

Atenção: não se deve cair na tentação de considerar que este é o seu disco mais maduro. “Não gostaria que escrevessem que este é o disco em que Andrew Bird aparece crescido e adulto, pois isso não é verdade. Ele fala de um momento vital, mas não deve ser relacionado com a idade. Continuo sendo relativamente jovem. O mesmo músico de sempre”.

Bird afirma não ser um artista comprometido, mas, logo em seguida, se desmente: “Escrevi sobre o racismo, a violência policial em Chicago e a falta de sentido de ainda haver pena de morte em meu país. Mas não gosto de misturar aquilo que faço com temas políticos. Acabam saindo umas canções deprimentes demais”. E conclui: “Componho a partir de alguma emoção real. O que vem depois é imprevisível”.

Andrew Bird e Fiona Apple interpretam a dilacerante Left handed kisses no programa de Ellen DeGeneres

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_