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Novo alvo dos apoiadores de Dilma, Temer ganha seu pedido de impeachment

Ex-governador Cid Gomes apresenta denúncia contra o vice-presidente com base na Lava Jato

Rodolfo Borges
Cid Gomes fala aos jornalistas após apresentar denúncia contra Michel Temer.
Cid Gomes fala aos jornalistas após apresentar denúncia contra Michel Temer.Zeca Ribeiro (Câmara dos Deputados)
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O alvo agora é Michel Temer. Enquanto o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff avança na Câmara dos Deputados, o Governo reúne forças políticas e sociais para resistir. Se até a semana passada o principal catalisador dos protestos era o juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava jato, agora o magistrado divide as atenções dos governistas com o vice-presidente da República. Nesta sexta-feira, o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Educação Cid Gomes apresentou uma denúncia contra Temer com base nas investigações da Lava Jato. No dia anterior, os protestos contra o impeachment de Dilma reverberaram país afora a imagem de Temer como conspirador.

A denúncia de Gomes por crime de responsabilidade, que serviria de base para o impeachment de Temer, está baseado em seis atos do vice-presidente, explicou o ex-governador após protocolar o pedido na Câmara. “Apresento denúncias que fazem citação direta ao nome do vice-presidente Michel Temer ou ao PMDB”, disse o ex-governador, que destacou ter apresentado a denúncia “na condição de cidadão brasileiro”, já que atualmente não ocupa cargo público. Segundo Gomes, que foi ministro da Educação do Governo Dilma e deixou o cargo após chamar os deputados de "achacadores", sua denúncia se baseia em delações, depoimentos e conversas telefônicas apuradas durante a Lava Jato.

Gomes fez questão de mencionar uma troca de mensagens em especial, na qual o presidente da construtora OAS, Léo Pinheiro, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estariam falando sobre um repasse de 5 milhões de reais para Temer. "E vc ter feito 5 paus para MICHEL direto de uma vez antes. Todos souberam e dá barulho sem resolver os amigos", escreveu Cunha em registros expostos pela imprensa em janeiro. Cunha complementa: "Até porque Moreira tem mais rapidez depois de prejudicar vcs do que os amigos que brigaram com ele por vc, entende a lógica da turma? Aí inclui Henrique, Geddel, etc".

Ao apresentar o pedido, o ex-governador solicitou que a denúncia seja analisada pelo vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), já que Eduardo Cunha é citado nos eventos denunciados. Caso o pedido de investigação não seja aceito, ele já avisou que pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). O STF recebeu um pedido parecido nesta sexta. O advogado Mariel Marley Marra impetrou um mandado de segurança solicitando que o tribunal interrompa a tramitação do processo de impeachment contra a presidenta Dilma. Ele diz que o processo só poderia seguir depois de a Câmara analisar o pedido de impedimento contra Temer que ele apresentou em dezembro do ano passado — assim, presidenta e vice seriam julgados juntos.

Sucessor

Como primeiro na linha de sucessão da presidenta Dilma, Temer é visto pelos defensores do Governo como um conspirador. O vice incomodou o Planalto em agosto do ano passado ao dizer que o país precisava de alguém capaz de “reunificar a todos”. Meses depois, em dezembro, a divulgação de uma carta enviada pelo peemedebista à petista causou ainda mais desconforto. O fato de ser o presidente do PMDB, principal aliado do Governo Dilma até o rompimento, nesta semana, não joga a favor de Temer nesse aspecto. A posição institucional de vice-presidente exige discrição neste momento, mas o PMDB, que rompeu com um discurso de independência e hegemonia programada para as eleições de 2018, demanda comando.

Temer evitou participar da reunião que selou o desembarque do PMDB, na terça-feira, e fez questão de ficar fora de Brasília nas horas subsequentes. Dois dias depois, contudo, o vice-presidente rebateu especulações de que pode vir a interferir na Lava Jato caso assuma a presidência e repetiu os comentários em seu perfil no Twitter. "Dizer que eu poderia interferir em processo judicial, levado adiante em função da posição do Ministério Público: isso jamais eu faria", disse o vice-presidente, que também refutou as informações de que já estaria negociando cargos para um futuro Governo: "Sou muito procurado, mas não trato desse assunto. Não trato sequer do assunto do que possa ou não possa acontecer".

Resposta

Horas após a apresentação da denúncia, Temer respondeu, por meio da assessoria de imprensa da vice-Presidência da República, que "o pedido de impeachment protocolado hoje na Câmara traz uma série de citações já esclarecidas à imprensa". O vice-presidente classifica essas citações como "notícias velhas sem sustentação, citações equivocadas e interpretações de pessoas mal informadas". Ela seriam base, segundo Temer, "da justificativa do senhor Cid Gomes, cuja coleção volumosa de fotografias ao lado do delator Paulo Roberto Costa ilustram bem a biografia e retratam de forma definitiva sua verdadeira prática política".

O vice-presidente, que foi chamado nesta sexta-feira por Cid Gomes de "presidente de um partido precursor e aperfeiçoador de uma prática de achaque do serviço público nacional", ressalta que defende a Operação Lava Jato e que "tem a convicção de que os trabalhos baseados em Curitiba significam o início de uma reforma nos hábitos políticos brasileiros, necessários para melhorar e aprimorar nosso sistema de representação". Temer finaliza a nota criticando o ex-governador do Ceará: "Só com um processo de evolução de nossos costumes deixaremos de assistir ao espetáculo deprimente representado hoje pelo senhor Cid Gomes, agente terceirizado escalado para atingir reputação alheia de forma vil e rasteira". Segundo a nota, "tudo isso nada mais é que um plano orquestrado cujo objetivo é desconstruir a imagem do vice-presidente da República".

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