_
_
_
_
_

A semana de protestos: das bombas da PM na PUC à ‘malhação’ de Dilma

As imagens dos protestos contra e a favor do impeachment que movimentaram São Paulo

Boneco de Dilma é incendiado na Paulista neste sábado.
Boneco de Dilma é incendiado na Paulista neste sábado.M. Rossi.
Marina Rossi
Mais informações
Manifestações anti-Dilma voltam às ruas do Brasil
As caras do protesto anti-Dilma em SP
Esquerda se une contra impeachment e supera mobilização anti-Dilma em São Paulo
Após protestos anti-PT, ato contra impeachment mede forças na avenida Paulista

As manifestações em torno do impeachment de Dilma Rousseff começaram há mais de um ano. Durante todo o ano de 2015, milhares de pessoas foram às ruas pedir pelo impedimento da presidenta. O caldeirão foi levantando fervura e agora, com o processo em andamento na Câmara, oposicionistas ao Governo petista e também aqueles que defendem a permanência de Rousseff na presidência saíram de casa. Agora, há vezes em os mesmos espaços físicos são disputados por grupos antagônicos. Em geral, marcam atos em dias separados. No entanto, um ato pró-Dilma pode acontecer no dia seguinte ao ato pró-impeachment, numa espécie de espiral do protesto ao protesto que eleva a tensão e faz crescer o temor a enfrentamentos. Só na semana que passou ao menos cinco manifestações ocorreram em São Paulo e mais estão programadas para os próximos dias. Haverá ato contra o impeachment na quinta, escolhido para unir o movimento a favor de Dilma a uma data simbólica: o aniversário do golpe de 1964.

Segunda-feira, PUC: o ato contra o ato que terminou em repressão policial

Naquele dia, em frente à Pontifícia Universidade Católica, manifestantes pró-impeachment levaram um carro de som para pedir a saída da presidenta. Marcavam posição uma semana depois de que um ato contra o impedimento do Governo ocorrera ali, no teatro da universidade.

Em pouco tempo, um grupo contra o impeachment apareceu gritando "fascistas não passarão". Divididos por um cordão policial, ambos os lados puxavam palavras de ordem em provocação ao grupo oposto. Os ânimos se exaltaram, a polícia interveio com forte repressão: bombas de gás e tiros de bala de borracha foram disparados, inclusive em direção à universidade. Ao menos um estudante ficou ferido na nuca por uma bala de borracha. No dia seguinte, a PUC emitiu uma nota "lamentando" o ato, e a secretaria de Segurança Pública afirmou que "foi necessário o uso progressivo da força para dispersar o tumulto".

Manifestação na PUC na segunda, dia 21 de março.
Manifestação na PUC na segunda, dia 21 de março.Futura Press/Folhapress

Terça-feira, metrô Butantã: CPI da merenda e "não vai ter golpe"

Os estudantes secundaristas, protagonistas de uma forte mobilização no final do ano passado contra uma política educacional do Governo Alckmin que fecharia escolas, voltaram. Concentraram-se às sete da manhã em frente à estação do metrô Butantã e marcharam pela zona oeste da cidade. Pediram uma CPI para investigar o caso de desvio de verba para a merenda. Protestaram também contra o fechamento de salas de aulas, chamado por eles de "reorganização escolar por baixo dos panos". "Faz dois meses que a merenda é suco e bolacha", disse a estudante Beatriz Andrade, da escola João Kopke. "Teve um dia que deram merenda para uma parte dos alunos, mas a comida acabou e não deu pra todo mundo. Aí deram bolacha pro resto. Ontem mesmo só teve arroz".

O grupo, inicialmente de cerca de 50 alunos, fechou cruzamentos importantes na cidade. Não houve repressão policial. Dentre os cartazes criticando o governador tucano, havia ao menos um com os dizeres "não vai ter golpe".

Ato de secundaristas contra a corrupção na merenda também diz "não ao golpe".
Ato de secundaristas contra a corrupção na merenda também diz "não ao golpe".Marina Rossi

Quarta-feira, Mackenzie: "a história não se repetirá"

Estudantes em ato no Mackenzie lembram de vítimas do regime militar.
Estudantes em ato no Mackenzie lembram de vítimas do regime militar.Douglas Romão (CUCA da UNE / Facebook)

Estudantes do Mackenzie convocaram um ato na rua Maria Antônia contra o impeachment. O endereço escolhido foi também para relembrar do ocorrido em outubro de 1968, durante o regime militar. A Batalha da Maria Antônia, como ficou conhecida, foi um embate violento entre alunos da USP, em sua maioria contra o regime militar, e os estudantes do Mackenzie, a favor do regime. Na época, ambas as faculdades ficavam naquela rua. Um estudante morreu no confronto.

Os organizadores afirmavam que o "golpe" não se repetirá. Cerca de 300 alunos se reuniram, debaixo de chuva, em frente à universidade para dizer "não vai ter golpe". No final, houve um princípio de tumulto, quando um grupo de quatro estudantes gritou palavras de ordem como "petista ladrão" e "Lula na cadeia". Jogaram bombas de pólvora - nenhum dos lados se responsabilizou por isso -, mas a polícia não interveio. Ninguém se feriu.

Quinta-feira, Largo da Batata: contra o golpe e o Governo

Organizada pela Frente Povo sem Medo, a manifestação contra o impeachment teve a militância do Movimento dos Sem Teto dando peso maior ao ato. Do Largo da Batata, saíram em marcha até a Rede Globo, a mais de oito quilômetros de distância. De acordo com Guilherme Boulos, líder dos sem teto, a emissora "tem se usado de uma concessão pública para semear a intolerância e fazer política partidária no Brasil". A Polícia, que não reprimiu o ato, não divulgou estimativa de participantes. O MTST estimou em 30.000 pessoas. E deixou claro: "Nós não defendemos a política desse Governo. O que está em jogo é barrar essa ofensiva antidemocrática que está em curso no país", disse Boulos.

Manifestação na quinta-feira contra o impeachment: "golpe é guerra".
Manifestação na quinta-feira contra o impeachment: "golpe é guerra".Nelson Antoine (AP)

Sábado, avenida Paulista: Lula, Dilma e o Judas

Sábado de Aleluia, como é chamado o dia anterior ao domingo de Páscoa, é um dia em que os brasileiros tradicionalmente malham um boneco que representa Judas, o grande traidor de Jesus. O boneco é pendurado e apanha até se desfazer. Não raro há políticos envolvidos. Em 1998, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o alvo, com um boneco Judas gigante feito pela CUT.

Neste ano, os manifestantes pró-impeachment que estão acampados na avenida Paulista há cerca de 15 dias aproveitaram a data para mais uma demonstração de ojeriza colérica à presidenta. Penduraram dois bonecos na ciclovia, em frente ao prédio da Fiesp, um representando o ex-presidente Lula, com um boneco da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e uma garrafa de cachaça em uma das mãos. O outro boneco representava Dilma Rousseff. Foram espancados, queimados e o que sobrou foi colocado em um caixão. O cortejo, de cerca de 15 manifestantes, andou uma quadra da avenida e voltou, pela ciclovia.

Para Leandro Mohallem, que estava com um cabo de vassoura batendo nos bonecos, o ato não alimenta a incitação à violência. "Todos os países pacíficos também queimam bonecos e bandeiras. Nos Estados Unidos queimam bandeiras [em manifestações], por que nós não podemos?", disse. "A nossa parte é pacífica. A violência vem deles [os manifestantes contrários ao impeachment]". Dentre os gritos durante a queima dos bonecos, estavam "morre, Dilma" e "a demônia morreu".

Manifestantes na avenida Paulista 'malham' boneco de Dilma e Lula...

      ...e depois, ateiam fogo nos dois

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_