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Encurralado por inimigos internos, Governo inicia ofensiva internacional

Dilma e Lula vão convocar correspondentes para dar sua versão da crise

Jaques Wagner fala para a imprensa internacional.
Jaques Wagner fala para a imprensa internacional.FERNANDO MAIA
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Com o impeachment na porta do Planalto e influentes veículos internacionais sugerindo sua renuncia nos seus editoriais, a presidenta Dilma Rousseff quer contar ao mundo sua versão. A mensagem vai chegar, entre outros, a través dos correspondentes estrangeiros no país que serão exclusivamente convocados em encontros com Dilma, mas também com Lula.

A estratégia já começou nesta quarta-feira. Enquanto seus inimigos políticos negociam os cargos de um novo Governo, Rousseff enviou ao Rio ao seu chefe de gabinete Jaques Wagner para encontrar a mídia internacional – os veículos locais tiveram o acesso vedado. Durante as mais de duas horas que durou o encontro, Wagner afirmou em várias ocasiões que ao Brasil lhe falta amadurecer e que existe uma “cobertura (midiática) descompassada” da crise política. “É óbvio que tem segmentos da imprensa nacional que militam por uma tese”, criticou.

O Planalto subiu o tom nos últimos dias e já qualifica abertamente o processo de impeachment que corre na Câmara contra a presidenta como um “golpe”. "Apesar de ser forte a palavra golpe é porque efetivamente é um golpe. Não precisa ser militar, pode ser até sutil como eles estão tentando fazer agora. É golpe porque é mau uso do dispositivo constitucional", disse Wagner.

Para o Governo, uma discussão "mais legítima" seria a antecipação das eleições mediante o chamado recall ou revocatória do mandato, "pois o Governo que vai sentar lá não vai ter legitimidade" no caso do impeachment prosperar. Essa ferramenta não está prevista na legislação brasileira e para ser uma alternativa seria necessária uma emenda constitucional, mas o petista a qualificou de "mais saudável". “Quer se instituir covardemente no Brasil uma lógica de que um Governo impopular pode ser objeto do impeachment. O impeachment não é solução de nada, é agravamento da crise”, disse Wagner.

Lula, assessor presidencial

Wagner reconheceu que o Planalto tem de lidar diariamente com “incêndios” e “pautas-bomba” ( a mais grave delas é o impeachment) e insistiu no desejo do Governo de Lula formar parte da equipe. Com sua nomeação como ministro da Casa Civil no ar, o ex-presidente poderia se tornar assessor especial da presidência, segundo revelou Wagner, caso o Supremo Tribunal mantenha a suspensão.

No caminho de tentar conquistar os ouvidos estrangeiros, o próprio Itamaraty enviou na última sexta-feira circulares telegráficas às suas delegações no exterior denunciando “o processo reacionário que está em curso no país contra o Estado Democrático de Direito”. A circular, que foi desautorizada no mesmo dia pelo secretario-geral do ministério, Sérgio Danese, pedia que cada delegação designasse um interlocutor para dialogar com as organizações da sociedade civil locais e concluía com um “Não ao Golpe! Nossa luta continua!”. Os telegramas foram enviados pelo ministro (cargo na hierarquia do Itamaraty) Milton Rondó Filho, conhecido entre seus colegas pela sua defesa do Governo Dilma. A leitura de três diplomatas consultados por este jornal é que Rondó pretendia com essa ação se promover e conseguir algum cargo no Governo. Rondó, no entanto, foi amoestado e proibido de enviar telegramas, conforme informou o Itamaraty. De qualquer forma, a polarização política já chegou ao corpo diplomático, considerado de excelência dentro da buracracia brasileira. Mesmo antes de Rondó era possível ver nas redes sociais declarações de diplomatas contra e a favor do Governo.

A presencia de diplomatas internacionais também foi requerida no ato da presidenta com juristas que foram a Brasília manifestar apoio à petista, essa terça-feira. Ao evento compareceram 70 representantes de delegações estrangeiras, incluindo embaixadores. O número surpreendeu a diplomatas brasileiros que costumam encontrar seus colegas gringos apenas em eventos associados a assuntos de dimensão internacional.

A crise vista pelos países vizinhos

A situação de crise no Brasil é vista com preocupação na região, mas a defesa da presidenta divide os países vizinhos. O Uruguai, que detém a presidência rotatória da Unasul e o Mercosul, propôs na última quinta feira a divulgação de um texto de apoio à presidenta Dilma onde era criticada a ação da Justiça brasileira, mas a nota não chegou a ser divulgada. Os países do bloco não concordam na posição que eles devem adotar respeito as turbulências que atravessa o Brasil. O Paraguai, entre outros, alegou que a crise trata-se de um assunto interno e que o bloco não deve intervir.

No Mercosul, após a chanceler argentina, Susana Malcorra, levantar a hipótese de que o Brasil poderia ser suspenso do bloco no caso do impeachment prosperar, planeja-se uma reunião, considerada urgente, para discutir a crise no país. A reunião deve ser convocada pelo Uruguai, que preside o bloco, mas o Itamaraty anunciou que, até esta quarta-feira, não há previsão para o encontro. A posição do presidente Maurício Macri, no entanto, é de cautela. Diferentemente de seus homólogos no Equador, na Bolívia e na Venezuela, evita falar de golpe.

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