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Brasília já debate nomes para compor eventual Governo de Temer

Com impeachment à vista, vice-presidente se mantém discreto, mas discute cenários com aliados Bolsa de aposta de ministeriáveis está em alta. José Serra, Paulo Skaf e Nelson Jobim são cotados

Carla Jiménez
Temer, com Dilma ao fundo, na posse em 2015.
Temer, com Dilma ao fundo, na posse em 2015.Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O paciente está na UTI, mas adversários e parentes já discutem seu espólio. É mais ou menos isso que está acontecendo no Brasil neste momento. Depois que o Governo Dilma Rousseff foi abatido pela abertura de um processo de impeachment – e a rocambolesca novela da nomeação de Lula ministro –, a oposição e nomes do PMDB já falam abertamente sobre planos para o futuro num eventual Governo do vice Michel Temer, caso a presidenta seja afastada. Na leitura de quem está próximo do vice, se o impeachment é um fato quase consumado, o importante é contar com um projeto consistente e um time reserva para preencher as cadeiras que ficarão vazias na Esplanada dos Ministérios.

As especulações aumentam a bolsa de apostas sobre nomes que podem suceder o Governo petista. Nesta segunda, uma entrevista do senador José Serra ao Estado de São Paulo mostrou que o tucano já começou a debater cenários, o que já o colocou como um dos nomes cotados para assumir a Fazenda, por exemplo, caso a presidenta seja afastada. Seu partido, o PSDB, intensificou conversas com o PMDB há algumas semanas depois que o país entrou numa crise aguda com Lula no foco da Lava Jato.

Moreira Franco, ex-ministro da Aviação Civil do Governo Dilma, e muito próximo ao vice-presidente Michel Temer, também tem circulado com algumas propostas a tiracolo. Nesta segunda, ele esteve com empresários em São Paulo para defender o programa Uma ponte para o Futuro, com as diretrizes do PMDB para a economia.

Temer é o herdeiro natural dos 55 milhões de votos da presidenta, caso ela seja destituída nas próximas semanas ou meses no Congresso. Prefere se manter discreto, fugindo do tiroteio de informações, para evitar interpretações duvidosas sobre seu modo de agir neste momento delicado. Ainda mais depois do episódio da carta à presidenta, em dezembro do ano passado, quando expôs seu descontentamento dentro do Governo e foi visto como oportunista e conspirador por tentar de descolar da presidenta. Agora que a situação de Dilma chegou ao limite, não quer passar recibo de ‘golpista’ por ajudar a empurrar ao precipício um governo que está no limite.

A bolsa de apostas de ministeriáveis para Temer tem nomes para todos os postos chaves, segundo fontes de Brasília. Os nomes de José Serra e do economista Mansueto de Almeida, por exemplo, foram aventados para uma equipe econômica voltada a implementar o ajuste fiscal que Dilma não conseguiu fazer a contento neste segundo mandato. Entram no balão de ensaio, ainda, nomes como o de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo para o Ministério do Desenvolvimento, Nelson Jobim para a Justiça, e Eliseu Padilha para a chefia da Casa Civil.

Na entrevista ao O Estado São Paulo, Serra mostrou desenvoltura para falar sobre o futuro do Brasil. “O PSDB será chamado [a participar de um novo Governo] e terá a obrigação de participar”, disse ele, lembrando que as duas áreas mais críticas atualmente no Brasil são a economia e saúde. Por coincidência, duas áreas nas quais foi ministro (Planejamento e Saúde) nos tempos do Governo de Fernando Henrique Cardoso (1994 a 2002). O senador, que já concorreu à presidência da República duas vezes (foi derrotado por Lula em 2002, e por Dilma em 2010), chegou a sugerir que o o atual vice peemedebista não dispute reeleição em 2018 caso chefie este Governo de transição.

Temer toma distância das especulações. Nesta segunda, soltou uma nota em clara resposta à entrevista de Serra. “Michel Temer não tem porta-voz, não discute cenários políticos para o futuro governo e não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre a sua vida pública”, afirmou. O recado  é duro para preservá-lo dos holofotes, mas nos bastidores ele conversa com interlocutores de todas as cores partidárias. “Ele se faz de morto para aparecer mais vivo do que nunca quando for convocado a entrar em campo”, diz um observador próximo.

Seus gestos precisam ser cirúrgicos, ainda, diante da possibilidade de o PMDB anunciar o desembarque do Governo Dilma no próximo dia 29. Temer ficaria onde está, nesse caso, até porque não tem outra alternativa, desde que a ampulheta do impeachment começou a correr. Se virar realidade, as expectativas de tirar o país do buraco vão recair sobre seus ombros. Por isso, já estaria discutindo alguns nomes caso a bomba de um governo de transição caia nas suas mãos. Do dia para a noite terá de tomar decisões sobre a dura recessão econômica, lidar com uma Olimpíada pela frente, e uma epidemia de zika vírus: precisará ter habilidade para desarmar essa bomba com rapidez.

Tudo ainda está no terreno das possibilidades e ninguém dá como favas contadas um desfecho em específico. Mas, pelo perfil do vice-presidente, é certo que ele negociaria com seus pares para restaurar o ambiente de governabilidade imediatamente. Se presidente, avalia-se, manteria intactas, por exemplo, as engrenagens que alimentam a Lava Jato, ou seja, a Procuradoria Geral da República, o Ministério Público e a Polícia Federal. Um campo minado também para o atual vice, que também foi citado no esquema da Petrobras pelo senador Delcídio do Amaral em delação premiada.

Corrida contra o tempo

Enquanto isso, a presidenta Dilma corre contra o tempo para sair da UTI. Sem poder contar com Lula, seu principal aliado e mentor, Dilma nesta segunda-feira um apelo aos seus ministros e pediu o empenho deles na tentativa de barrar o impeachment que tramita no Congresso. Essa função seria principalmente de Lula, que está impedido ainda de assumir a Casa Civil.

A presidenta lotou sua agenda de encontros políticos. Após a tradicional reunião de coordenação, da qual participaram oito ministros, ela chamou em seu gabinete representantes de outras legendas que não estavam no encontro. Chegou-se a aventar também a possibilidade de investir numa reaproximação com o vice, agora que as relações andavam frias. Um quadro insólito. Do dia para a noite, a presidenta e o vice, que convivem há seis anos, se veem como concorrentes. Diante de um cenário tão sui generis, o Brasil não sabe qual dos dois será presidente da República nos próximos meses.

Colaborou Afonso Benites

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