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Mulheres marcham contra Cunha e impeachment e a favor do aborto

Ato em São Paulo começa com divergências sobre apoio ao Governo Dilma Rousseff

Marina Rossi
Ativista na manifestação em São Paulo.
Ativista na manifestação em São Paulo.Andre Penner (AP)
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A manifestação em celebração ao Dia Internacional da Mulher em São Paulo reuniu milhares de mulheres e homens no centro da cidade, e teve um começo tumultuado. Na concentração do ato na avenida Paulista, um grupo que defendia que a marcha levantasse apenas as bandeiras feministas - como a legalização do aborto - e não queria que o apoio ao Governo Dilma ou ao ex-presidente Lula entrasse na pauta, discutiu com lideranças que defendiam que a luta fosse também "contra o golpe" e o impeachment de Dilma Rousseff. Houve bate-boca no carro de som do ato e cada parte foi para um lado: um grupo desceu a avenida Brigadeiro Luiz Antônio, e outro, a maior parte, desceu a rua Augusta em direção à praça da República, no centro.

Essa segunda parcela de manifestantes era composta por movimentos sindicais, estudantis, de moradia, partidos políticos como o PCdoB e o PT e centenas de pessoas com faixas e cartazes com os dizeres "não vai ter golpe". Fora do carro de som, a falta de consenso sobre essa última bandeira se repetiu também durante a marcha. "O movimento perdeu o foco", disse a estudante secundarista Vanessa Cavalcanti. " O que estava escrito no evento é que seria um ato feminista. Juntar várias causas enfraquece o ato".

"[O ato] não é a favor do PT", disse Lua Rosa, estudante que estava com Vanessa. "É contra o impeachment". Para Ana Carolina Grassnann, também estudante que acompanhava as amigas no ato, "tirar o [Eduardo] Cunha é uma reivindicação feminista". De fato, mais uma vez, as mulheres pediram a saída do presidente da Câmara, por colocar em votação e ser autor de projetos considerados conservadores e que ferem os direitos feministas, como a PL 5069, que dificulta o atendimento de mulheres vítimas de estupro. No ano passado, foram elas as primeiras a irem às ruas pedir seu afastamento.

O ato deste 8 de março pode ter sido uma espécie de termômetro para medir a temperatura da força dos movimentos de esquerda nas próximas semanas. Na última sexta-feira, manifestantes a favor do ex-presidente Lula, que naquele dia foi levado a depor na Polícia Federal em uma nova fase da Operação Lava Jato, anunciaram que o Dia Internacional da Mulher seria o primeiro de uma série de atos "contra o golpe". O segundo está marcado para o dia 18 de março. "O golpe não é contra um partido", disse Jacqueline Oliveira do Nascimento, da União Brasileira das Mulheres. "É contra o povo brasileiro, e seria um absurdo as mulheres não tomarem partido neste momento". Ela carregava um cartaz com os dizeres "mulheres com Lula".

Além da divergência inicial, a marcha foi marcada pela presença de muitas meninas e adolescentes, várias delas que militaram no movimento secundarista no ano passado contra a reorganização escolar. Elas aproveitaram o ato para lembrar do caso de corrupção na merenda do governo Geraldo Alckmin (PSDB): "que contradição! Aborto é crime, [mas] roubar merenda, não!", gritavam, em frente à sede da secretaria de Educação do Estado, que fica na praça da República. Apesar das divergências, as vaias foram um consenso quando, na rua Caio Prado, o morador de um prédio saiu na janela para bater panela, uma já tradicional ferramenta que os movimentos contra o Governo usam para protestar. "Não vai ter golpe" foi a resposta que tomou conta da rua toda.

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