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Opinião
Texto em que o autor defende ideias e chega a conclusões basadas na sua interpretação dos fatos e dados ao seu dispor

O polêmico beijo de dois deputados no Congresso espanhol

O selinho do líder do partido Podemos com um deputado catalão foi um beijo pelo povo. Um beijo contra a Troika e os cortes de despesas

Os deputados espanhóis Iglesias e Domenech, no Congresso.Vídeo: EL PAÍS

Não sabemos se dois deputados ou deputadas já haviam se beijado na boca nas dependências do Congresso espanhol antes desta quinta-feira; estamos falamos do hemiciclo, esse lugar onde as bocas, mais do que os beijos, costumam impingir ataques verbais. Mas chegou uma nova era, na qual cada sessão televisionada parece ser acompanhada por uma imagem para guardar. Neste caso, não faltam detalhes. Pablo Iglesias (do partido Podemos) e Xavier Domènech (do En Comú Podem) se derretem em um caloroso abraço, que culmina com um beijo nos lábios; um beijo apaixonado, de reencontro. Um beijo pela mudança. Um beijo pelo povo. Um beijo contra a Troika e os cortes de despesas.

O público em geral não tinha consciência de o quanto esses dois políticos se davam bem. E tudo foi perfeitamente capturado por uma câmera de televisão rápida e atenta, e diante de uma plateia que assiste a esse estreitamento de laços com espanto; não pelo beijo em si, e sim pelo fato de que dois seres humanos tenham sido capazes de expressar ternura dentro de semelhante edifício.

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Quem vemos, por acaso, ao fundo? Alfonso Alonso, do Partido Popular (PP), à esquerda, para quem, por seu gesto afetado, o beijo ocorre bem no incômodo momento no qual o croissant e o café da manhã começavam a lutar sem trégua na parte inferior do intestino. O ministro da Economia, Luis de Guindos (centro), parece ter suas lúcidas ideias em outro lugar, possivelmente, no jogo do Atleti da noite passada (3 x 0 contra o Real Sociedad, senhor ministro). E se olham nos olhos por um nanossegundo, como se estivessem pensando: "Traga esses lábios, que enfiarei a língua até a campainha". Pela Espanha. Pela União Europeia. Pela Troika. Pelo neoliberalismo. Por aquela maioria absoluta. Você se lembra, Luis?

Enquanto isso, o taquígrafo (abaixo, à esquerda) certamente está se perguntando se o ocorrido deve constar ou não na ata, e, em caso positivo, como registrá-lo. “Será que este teclado tem emoji?”. E, para terminar, enquanto os protagonistas retornam aos seus lugares, Domènech dá um tapinha gracioso no traseiro de Iglesias, um gesto inédito, este sim com certeza, nas instalações do Congresso (mas se essas paredes falassem...). No Congresso há WIFI, e, sim, é permitido usar o Tinder.

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