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Bernie Sanders, o ‘vovô viral’ que pode ser presidente dos EUA aos 74 anos

O apoio dos jovens e seu carisma na imprensa foram as chaves do seu crescimento nas pesquisas

Bernie Sanders, em Henderson (Nevada), no dia 19.
Bernie Sanders, em Henderson (Nevada), no dia 19.JIM YOUNG (REUTERS)
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Feel the Bern’, ‘Bern, baby, Bern’, ‘Bern The White House’. Esses são apenas alguns dos dezenas de slogans que povoam as redes sociais para apoiar Bernie Sanders, o senador independente que tenta derrotar Hillary Clinton nas primárias democratas e ser candidato à presidência dos Estados Unidos. Fazendo uso do jogo fonético com o verbo burn (queimar, em inglês), a comunidade digital mostra seu apoio ao carismático septuagenário que, com seu aspecto de avô bêbado e suas ideias progressistas, está revolucionando o país e a Internet. Sanders não tem medo das redes sociais (tem quase três milhões de seguidores no Facebook), arrisca-se no canto e na dança, defende a regulamentação do aborto e a legalização da maconha e é protagonista do merchandising mais criativo e espirituoso dos últimos anos. Além das camisetas e buttons, seus seguidores esforçam-se para convertê-lo em bonecos (esgotadíssimos), leggings, cuecas ou sorvete. Sim, sorvete, de menta com chocolate, criado pelo fundador da franquia Ben&Jerry’s. Porque não há nada mais poderoso do que uma ideia (ou um sabor) para quem sabe que chegou a sua hora.

Alguns exemplos do merchandising que seus fãs vendem na rede.
Alguns exemplos do merchandising que seus fãs vendem na rede.

Filho de um polonês que imigrou ao país fugindo do Holocausto e natural do Brooklyn, se for eleito presidente, Sanders seria o primeiro em muitas coisas: o primeiro não-cristão (é judeu), o mais velho (tem 74 anos) e o mais socialista (declarado, com o significado que esse termo tem hoje em dia). Inimigo obstinado de Wall Street, votou contra a guerra do Iraque e pró-luta contra as mudanças climáticas.

Seu trabalho político é tão extenso que até participou da marcha sobre Washington, na qual Martin Luther King pronunciou seu lendário discurso Eu tenho um sonho. Foi durante aqueles anos, já instalado no Estado de Vermont (uma das zonas mais progressistas do país), que deu sequência as suas duas grandes paixões: a política e a música. Nos anos 1980, Sanders editou o álbum We Shall Overcome (Venceremos), um disco folk em que eram interpretados alguns hinos da esquerda americana. Apesar do seu questionável ouvido musical, vendeu oitocentas das mil cópias editadas. Alguém que tem a coragem de lançar um disco com uma voz dessas não deve ser descartado para nada. Nem mesmo para líder do mundo livre.

Clinton e Sanders estão disputando primárias mais emocionantes do que o esperado, colocando-se como favorito instantâneo para a presidência quem conseguir vencê-las, graças à atual ausência de um partido republicano sequestrado pelo circo de Donald Trump. Por sua vez, a fama de Sanders multiplicou-se em poucos meses, alcançando um recorde de três milhões de dólares em doações individuais e superando as recebidas por Barack Obama quatro anos atrás.

Sua presença carismática não passou despercebida pela mídia, e embora o próprio Jimmy Fallon já tenha imitado Sanders, ficamos com a atuação de Larry David. O criador das séries Seinfeld e Curb your enthusiasm, e um dos cérebros mais privilegiados que pisam esse planeta, é o autêntico álter ego do senador. Suas aparições no Saturday Night Live foram tão bem recebidas no último dia 6 de fevereiro que Larry David foi eleito como anfitrião do programa e até já compartilhou um sketch com o próprio Sanders.

Mas seu momento de maior popularidade chegou nas eleições primárias de New Hampshire, nas quais Sanders conseguiu um surpreendente apoio de 86% entre eleitores de 18 a 24 anos. O que esse septuagenário tem para conseguir se conectar tão bem com os jovens? O senador consegue ganhar os fiéis graças ao seu discurso de “revolução política” (saúde universal, retirada das tropas do Afeganistão, legalização da maconha) contra o conservadorismo de Clinton, que aposta em continuar o caminho marcado por Obama. “Por definição, os jovens são idealistas e olham para um mundo com tantos problemas e se perguntam: por que não? Por que todas as pessoas deste país não podem ter seguro de saúde? Por que não podem fazer universidades gratuitas?”, questionava Sanders no programa de Stephen Colbert.

Além de colocar os jovens no bolso, Sanders também conta com o respaldo do mundo das artes e uma presença televisiva que cresce no mesmo ritmo da sua posição nas pesquisas. Os estúdios americanos recebem-no ao ritmo de Disco Inferno, do The Trammps, honrando seu slogan Bern, Baby, Bern, e ele não tem medo de fazer uma dancinha para entrar em cena. O público da Ellen DeGeneres parece entusiasmado com seus movimentos e estrelas do cinema como Susan Sarandon, Will Ferrel, Sarah Silverman ou Mark Ruffalo; a modelo Emily Ratajkwoski, os músicos Hans Zimmer, Anthony Kiedis (Red Hot Chili Peppers) e Jeff Tweedy (Wilco), o co-fundador da Apple, Steve Wozniak; todos posicionaram-se a seu favor publicamente. 

As pesquisas colocam-no com 40% dos votos, a apenas sete pontos de Hillary Clinton (há alguns meses, eram separados por mais que o dobro). Mesmo assim, suas possibilidades ainda parecem muito remotas. Por um lado, desperta o ódio febril em Estados mais conservadores. Por outro, o peso específico de Hillary Clinton dentro do partido (não esqueçamos que Sanders é um independente), o apoio que grandes empresários lhe dão e sua experiência como Secretária de Estado e Primeira Dama complicam as coisas para o seu rival veterano.

O que parece claro é que o Partido Democrata está destinado a fazer história se vencer as eleições em 8 de novembro. Hillary Clinton pode ser a primeira mulher presidente da história do país, e Bernie Sanders, o primeiro socialista. Resta saber de qual das duas inéditas opções para a Presidência o establishment norte-americano tem mais medo: da mulher ou do socialista?

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