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No Dia da Mulher, ONG alerta para a dupla condenação das sírias: refugiadas e assediadas

Anistia Internacional alerta sobre a exploração das mulheres que fogem da guerra na Síria

Natalia Sancha
Mulher observa cerca que barra passagem de refugiados na região da Macedônia.
Mulher observa cerca que barra passagem de refugiados na região da Macedônia.Georgi Licovski (Efe)

As restrições e uma insuficiente ajuda internacional colocam em risco as mulheres sírias refugiadas no Líbano, para onde 1,6 milhão de pessoas já fugiram por causa da guerra na Síria, denuncia a Anistia Internacional nesta terça-feira, Dia Internacional da Mulher. O relatório coincide com uma reunião de líderes mundiais em Londres para discutir a crise síria. Após cinco anos de conflito, o objetivo é arrecadar o equivalente a 37,5 bilhões de reais para auxiliar os 4,6 milhões de refugiados sírios no Líbano, Egito, Iraque, Jordânia e Turquia e os 11 milhões de refugiados internos. “A maioria de refugiados sírios no Líbano luta para sobreviver em condições geralmente desesperadoras. Precisam enfrentar a discriminação e numerosos obstáculos para obter comida, alojamento e trabalho”, diz Kathry Ramsay, especialista em gênero da Anistia Internacional.

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Em 2015, a agência da ONU para os refugiados (ACNUR) deixou de registrar a entrada dos sírios, a pedido do Governo libanês, que impunha novas medidas restritivas. A infraestrutura do país, já insuficiente, não deu conta do peso dos refugiados, que após cinco anos de guerra já representam 25% da população do Líbano. Sem documentação válida, os refugiados se expõem a extorsões e abusos de policiais e cidadãos.

“Para as mulheres encarregadas das famílias, sobreviver é mais difícil, pois muitas delas estão expostas a riscos de perseguição, exploração e abusos, tanto nas ruas como no trabalho”, diz Ramsay. As mulheres representam 26% dos refugiados sírios no Líbano. Com milhares de homens mortos, desaparecidos ou foragidos durante o conflito, as mulheres precisam cuidar sozinhas de 20% dos lares de refugiados sírios neste país – cifra que passa de 30% no caso das palestinas sírias.

Nas ruas libanesas, aumentam as tensões sociais, assim como a competição no concorrido mercado de trabalho. O apelo do ministro alemão de Desenvolvimento, Gerd Müller, para a criação de 500.000 postos de trabalho na Jordânia, Turquia e Líbano provocou a imediata reação do ministro libanês do Trabalho, Sejaan Azzi: “A ajuda deveria chegar ao Líbano sem condições”.

No ano passado, os doadores internacionais desembolsaram apenas 40% dos 35 bilhões de reais prometidos, levando o Programa Mundial de Alimentos a reduzir em 50% a ajuda econômica, crucial para os refugiados mais vulneráveis. Segundo a ONU, 70% dos refugiados sírios vivem abaixo da linha de pobreza no Líbano. Por telefone, a síria Um Haytham, viúva e mãe de cinco filhos, conta que a ajuda mensal, antes equivalente a 125 reais, agora caiu pela metade. Ela paga um pouco mais de 400 reais pelo aluguel de um quarto numa precária casa no sul do Líbano. “Sobrevivemos graças às ajudas das mesquitas e da comida que os vizinhos nos dão”, diz essa mãe, cujo orgulho a impede de admitir que às vezes se viu obrigada até mesmo a mendigar.

Para as mulheres encarregadas das famílias, sobreviver é mais difícil, alerta organização

A deterioração da ajuda também coloca em risco outro coletivo vulnerável, o de crianças e adolescentes refugiados, que representam 53% do total no Líbano – um grupo que já tem sido chamado de “geração perdida”. Três em cada quatro refugiados menores de idade não têm acesso à educação. Nas ruas de Beirute, centenas de menores se veem obrigados a trabalhar ou mendigar, e são presa fácil para máfias. O jovem A. A., de 16 anos, lidera uma turma de crianças e adolescentes sírios que vendem rosas em uma rua central. “Pagamos uma parte aos chefes e ficamos com 15.000 a 25.000 libras diárias (37 a 63 reais)”, diz o adolescente. Em meio ao grupo, meninas de apenas seis anos mendigam até altas horas da madrugada, expostas a assédios sexuais.

A reunião de doadores em Londres coincide com as negociações em Genebra, onde, mediados pela comunidade internacional, opositores e Governo sírio procuram uma saída política para a guerra.

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