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Mosquitos mutantes contra o zika vírus

Liberação de milhões de machos transgênicos reduz a população do transmissor da doença em 82%

Funcionária da Secretaria de Saúde de SP mostra uma larva do mosquito ' Aedes aegypti'.
Funcionária da Secretaria de Saúde de SP mostra uma larva do mosquito ' Aedes aegypti'.Andre Penner (AP)
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Diante da falta de uma vacina contra o zika vírus, na cidade de Piracicaba (interior de São Paulo) a luta se concentrou no mosquito que o transmite. Nos arredores dessa cidade foram soltos milhões de mosquitos geneticamente modificados (GM) para que sua descendência morra antes de chegar à fase adulta e, portanto, não possa transmitir a doença. Os primeiros resultados mostram uma redução de larvas de mosquito de 82%.

O principal vetor ou transmissor do zika e outros vírus, como o da dengue e o chikungunya, é a fêmea do mosquito Aedes aegypti e, em menor medida, a do mosquito tigre (Aedes Albopictus). Salvo alguma vacina experimental, nenhum desses vírus tem cura. Outro enfoque possível é controlar a população de mosquitos, geralmente com inseticidas. Mas há uma terceira via: o controle biológico mediante o uso da genética.

É o que propôs a empresa britânica Oxitec às autoridades de Piracicaba no primeiro semestre do ano passado. Seu plano era soltar exemplares macho do Aedes aegypti GM em tal quantidade e durante tempo suficiente para que deslocassem os machos silvestres no acasalamento com as fêmeas. Esses machos do mosquito, denominados OX513A, portam e transmitem uma mutação genética que faz com que suas crias sejam dependentes da tetraciclina, um antibiótico. Se lhes falta, morrem antes de superar o estágio de pupa ou larval.

O objetivo inicial do ensaio, autorizado pelas autoridades de biossegurança do Governo brasileiro, era combater a dengue, transmitida também pelo Aedes aegypti. Mas, ao compartilhar o vetor, o zika vírus também pode ter sua incidência reduzida na região. Desde o início da estratégia, em abril, foram liberados cerca de 25 milhões de mosquitos. As autoridades locais prorrogaram o experimento por mais um ano e estudam estendê-lo a uma área maior, na qual vive um décimo da população de Piracicaba. Para isso construirão na região uma instalação para criar os insetos.

Os 'filhotes' dos mosquitos GM são dependentes de um antibiótico e morrem antes de chegar à fase adulta

O anúncio dos resultados desse primeiro ano e da prorrogação do ensaio impõe pressão sobre os encarregados da saúde pública no país, responsáveis por autorizar a distribuição comercial e maciça desses mosquitos transgênicos.

Até agora a Oxytec, comprada recentemente por uma empresa norte-americana, realizou outros experimentos em países como Panamá, Malásia e as ilhas britânicas Caiman. Desde o final de 2014 também planeja sua liberação no arquipélago Flórida Keys, no sul do Estado norte-americano da Flórida.

Os ambientalistas demonstraram muito receio desses mosquitos GM. No ano passado, a organização britânica GeneWatch publicou um relatório sobre os mosquitos da Oxitec. O trabalho menciona os riscos para o meio ambiente com a liberação desse tipo de insetos. Questiona a falta de dados sobre a redução das doenças transmitidas por mosquitos onde os GM foram soltos e critica a falta da apresentação de dados da eficácia dos testes.

No entanto, em julho, cientistas da Oxitec e colegas brasileiros publicaram em uma revista científica os resultados de um dos ensaios, desenvolvido em Juazeiro, no Estado da Bahia, entre 2010 e 2011. Ao término de um ano, nas áreas onde mosquitos GM tinham sido soltos a população adulta de Aedes aegypti se reduzira em 95% e a quantidade de ovos, em 82%, a mesma porcentagem de êxito de Piracicaba.

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