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Coluna
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Guia prático do amor em 2016

Chega de buscar o amor da vida. Que tal encontrar o amor do dia, o amor da semana, o amor da quinzena?

Casal assiste os fogos do réveillon de Copacabana nesta sexta.
Casal assiste os fogos do réveillon de Copacabana nesta sexta.RICARDO MORAES (REUTERS)

“O que é melhor? Amar ou ser amado? Nenhum dos dois, se a sua taxa de colesterol for muito alta”. (Woody Allen)

Como na música dos Doces Bárbaros, nossos planos são muito bons... “Alto astral, altas transas, lindas canções”. Chego bem hippie nessa virada de ano. Nossos planos são muitos bons, tão bons que muitos seguem intocáveis por décadas. Resoluções para ampliar a culpa? Prefiro não. Deixo aqui, nesta alvorada de 2016, notas e fragmentos para uma prática amorosa bem mais realista:

Calma, Lola. Chega de buscar o amor da vida. Que tal encontrar o amor do dia, o amor da semana, o amor da quinzena?

No pinga-pinga do amor líquido também se constrói um relacionamento sólido...

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Pois sim, vale a infâmia do trocadilho neo-pentecostal: Deu é amor.

Mais vale um cafa na mão do que dois fofos rondando área com falsas promessas.

Mais vale um papai-mamãe de responsa do que um risível kama-sutra inteiro sem intimidade no bate-coxas.

Mais vale...

Sim, todo mundo quer a sorte de um amor tranquilo. Pena que não exista. O nome disso é tédio e rotina. Esquece, Lola. Se é tranquilo em paz demais, não é amor, é campanha da fraternidade.

Também não carece exagerar no barraco e na D.R., a mitológica discussão de relação. Sobretudo naquelas dê-erres tipo cinema iraniano: arrastadas e deliberadamente sem foco. Nestas ocasiões, vale uma questão de ordem: “Cala a boca e transa!”

É só o fim. Se não há mais o que dizer um ao outro a não ser um lacônico “passa a salada”... Passar bem, já era, acaba logo com esse cinema mudo dentro de casa. Chama o “The end”, Lola, e sobe os créditos. Você já viu tantas vezes esse filme.

Comidinhas

Importante: como dizia Vinicius de Moraes, é bom entender que conta ponto saber fazer coisinhas, ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, filés com fritas, comidinhas para depois do amor.

Só não vale miojo, capaz de infantilizar demais a relação... Assim como também não tem graça um mundo sob efeito do raio gourmetizador.

Em vez da obsessão gazelística e giselística, Lola, a comilança de sustança. Como é lindo uma mulher que come e se lambuza.

Sai ano velho, entra ano novo, mas continua valendo o mais antigo e repetido mantra deste cronista: homem que é homem não sabe a diferença entre estria e celulite. Acredite.

Saia por ai e devore, em SP, todo “O Guia da culinária ogra”, de André Barcinski.

Amor e viagem

Conta ponto também, agora me dirijo exclusivamente aos machos lesados, tentar antecipar o desejo das suas mulheres. Sem que elas precisem rogar a Deus ou passar nas nossas caras. É só prestar atenção no que elas dizem e nas entrelinhas das suas falas. A moça não para de comentar a viagem incrível de um casal amigo? Hora de propor um pé-na-estrada. Seja para a Europa ou para o friozinho cearense de Guaramiranga.

Falar em Nordeste... Por um 2016 com mais rede na varanda e menos rede social.Você já fez amor numa rede? Deitado, por favor. Transar em pé na rede é arte impossível e põe em risco a integridade física. De qualquer forma, mais dengo na rede e menos treta, truta, no twitter.

Por um 2016 de mais observações sexuais ou amorosas. Sabe o pezinho dela que flutua no ar na hora do gozo? E as marcas de lençóis no corpo para você ler o futuro nas primeiras manhãs?

Oba-la-lá, o coração...

Sem se falar no que mais fala ao falo: aquele strip-tease ao contrário, ela se vestindo como em um ritual sacro-profano; peça a peça; ela pintando os olhos com o lápis da maldade...

Por um ano novo cheio de risadas ao lado do seu amor envelhecido em barris de bálsamo.

O amor é pão & circo: comer e rir juntos.

Feliz ano novo.

Xico Sá, escritor e jornalista, é autor da trilogia de crônicas de costumes “Modos de macho & Modinhas de fêmea” (editora Record).

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