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Editoriais
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Urnas e pactos

Depois das eleições deste domingo serão necessárias negociações longas e difíceis

Preparativos para as eleições em um colégio eleitoral de Madri.
Preparativos para as eleições em um colégio eleitoral de Madri.Víctor Lerena (EFE)

Na noite deste domingo saberemos a decisão dos espanhóis a respeito da representação que a cada um dos operadores políticos caberá no Congresso dos Deputados. Não há tanta certeza que o final da contagem de votos deixe igualmente claro como será formado o futuro Governo da Espanha. O número de atores políticos que aspiram a chegar ao poder faz prever um período de longas negociações com esse objetivo.

As urnas verterão uma primeira incógnita: saber se algum dos partidos se destaca o suficiente para se atribuir uma clara vitória e se as novas opções conseguem, como indicaram as pesquisas, uma representação importante. As emergentes não têm nada a perder nas urnas. Todo o apoio que obtiverem será positivo para elas, dado que são novas no mercado; já PP, PSOE, IU, UPyD e os partidos nacionalistas e independentistas ficarão sujeitos, naturalmente, à comparação com os resultados do passado.

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É claro que a força mais votada terá mais chances que qualquer outra de tentar a formação de um Governo, em especial se ficar claramente distante da formação situada no segundo lugar. Mas não se pode negar aos partidos o direito de explorar combinações diferentes. Nos sistemas de representação proporcional que vigoram na maioria da Europa, a tarefa de formar o Governo é confiada a quem tem condições de reunir maioria parlamentar suficiente, e não é automático que isso seja feito pelo mais votado.

O que dá um ar inaugural às eleições gerais deste domingo é a disputa entre mais de dois partidos com possibilidades teóricas de poder. Nunca houve votação de âmbito nacional, desde a Transição [entre o fim da ditadura de Francisco Franco, em 1975, e a Constituição de 1978], em que até quatro forças distintas disputassem esses espaço. Parece superada a divisão em blocos, entre a centro-direita (primeiro sob a UCD, depois, PP) e os socialistas. Do encontro deste domingo com as urnas sairão Casas Legislativas mais fragmentadas que as anteriores, e isso exigirá mudança considerável na cultura política da Espanha.

Disso não se pode inferir que o futuro Governo esteja fadado a se apoiar em maiorias frágeis, e sim que será trabalhoso formar o quórum de deputados necessário não apenas para a investidura do presidente, mas também para sustentá-lo em outras situações parlamentares. Muitas pessoas gostariam de ter sabido de antemão as intenções de cada partido a respeito da política de pactos, como um elemento adicional de sua tomada de decisão. Mas as forças em campanha omitiram essa informação. Somente o que foi minimamente esclarecido é que o PSOE não apoiará o atual presidente de Governo, Mariano Rajoy, o Podemos desconfia dos socialistas caso esses o superem em votos, e o Cidadãos propõe aplicar critério semelhante ao utilizado nas comunidades autônomas: deixar os mais votados governarem e não apoiar o Podemos de forma nenhuma.

Além do que surgir da contagem de votos, tudo dependerá depois da habilidade e da moderação dos diferentes protagonistas políticos.

Para apoiar uma gestão sensata dos resultados também é importante a mobilização dos cidadãos às urnas. O primeiro objetivo dos eleitores consiste em selecionar uma opção entre as apresentadas, mas não se trata de utilizar os resultados eleitorais como forma de dividir o caminho rumo ao futuro, e sim de votar com a vontade de dar lugar na Espanha a uma cultura política mais construtiva.

Depois de um ano cheio de convocatórias eleitorais, os espanhóis estão de novo com a palavra.

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