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A oposição confia no desencanto chavista para chegar à vitória

Consciente da vantagem da oposição nas pesquisas, Maduro chamou uma “ofensiva popular” para que todos fossem votar

Lilian Tintori votando hoje em Caracas. AFP PHOTO/LUIS ROBAYOFoto: reuters_live
Javier Lafuente

Na Venezuela tudo é tão complicado que até um dia aparentemente simples, o de eleições parlamentares, se torna um quebra-cabeças. A oposição confiava neste domingo à noite que o desencanto do eleitor chavista fosse suficientemente forte para que pudesse assumir o controle da Assembleia Nacional pela primeira vez em 17 anos. A situação prenunciava uma provável Operación Remolque (Operação Reboque), a estratégia para mobilizar à tarde seu eleitorado, o que já deu frutos nas últimas eleições vencidas por Hugo Chávez, em 2012, e nas presidenciais de 2013, quando Nicolás Maduro ganhou de Henrique Capriles.

Os integrantes da oposição, o amálgama de partidos políticos aglutinado em torno da Mesa da Unidade Democrática (MUD), conscientes da importância da data, madrugaram para chegar às urnas. Durante toda a campanha, as pesquisas apontavam para uma vitória folgada da oposição, mas a diferença se reduziu consideravelmente nos últimos dias de campanha.

Nesse período, Maduro foi intensificando seu discurso, a ponto de dizer que teria de ganhar “do jeito que fosse”. No entanto, o presidente se mostrou especialmente conciliador na noite anterior às eleições; garantiu que suas declarações tinham sido mal-interpretadas e insistiu que reconheceria os resultados, quaisquer que fossem. De certa forma, jogou uma pedra no telhado da oposição, apesar de seu próprio telhado de vidro, para o caso de não conseguirem uma vitória que davam como certa. Além disso, tentava remediar os temores sobre a reação que pudesse haver caso isso ocorresse.

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A figura de Chávez

Apesar de o sistema eleitoral, assim como foi concebido, favorecer o chavismo devido a várias medidas que foram tomadas durante anos, a situação estava consciente, segundo rumores internos, de que uma participação inferior a 70% daria quase com toda a certeza a vitória à oposição, não só em votos, como já ocorreu há cinco anos, mas desta vez também em deputados. Assim, toda a máquina foi colocada para funcionar por volta do meio-dia, quando seus principais líderes foram votar.

Maduro convocou uma “ofensiva popular” para que ninguém ficasse em casa. Pela televisão, as mensagens de propaganda se repetiam, apesar de se tratar de um dia de eleições. Uma figura, de novo, era onipresente: a de Hugo Chávez. De fato, até nas redes sociais a hashtag utilizada pela situação era #LosDeChavezAVotar (algo como “quem for de Chávez, vá votar”).

Há três anos, nas últimas eleições venezuelanas nas quais o falecido líder bolivariano concorreu, estima-se que Chávez tenha obtido 800.000 votos nas horas da tarde que acabaram sendo decisivas na vitória final. Uma situação semelhante ocorreu meses depois, quando o opositor Henrique Capriles, que saía com uma ampla vantagem, acabou derrotado de novo, desta vez por Nicolás Maduro. Graças à chamada Operación Remolque, conseguiu reunir cerca de meio milhão de votos. Apesar do clima de tensão e violência que rondou a campanha, o dia transcorreu com normalidade e os incidentes foram casos isolados. A fotografia mais repetida era a das longas filas que se formavam em frente aos centros de votação desde muito cedo. Nelas, o comentário recorrente, entre chavistas e opositores, era de quão cansados estavam quanto à situação vivida pelo país, sobretudo a escassez de alimentos e remédios. A confusão de muitos na hora de votar, por não entenderem o sistema de voto eletrônico, gerou uma boa dose de votos nulos.

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