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Desfecho de eleição na Venezuela é encruzilhada diplomática para Brasil

Vitória de Macri na Argentina trouxe para a mesa do Mercosul críticas a Maduro Brasília pode ser empurrada a deixar gestão silenciosa da crise no país caribenho

Rodolfo Borges
Maduro fala durante comício em 30 de novembro.
Maduro fala durante comício em 30 de novembro.STRINGER/VENEZUELA

A "diplomacia silenciosa" com que o Brasil tenta, nas palavras do chanceler Mauro Vieira, "promover o entendimento" numa Venezuela em ebulição pré-eleitoral pode ser forçada a ganhar voz alta a partir do dia 6 de dezembro. O desfecho da eleição parlamentar venezuelana, incluindo a forma com que Nicolás Maduro decida lidar com um possível revés, atrai todos os holofotes para a reação de Brasília — especialmente depois da vitória de Maurício Macri na Argentina, um duro crítico de Caracas.

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"Com a queda de credibilidade do Governo [Nicolás] Maduro e a eleição de Macri na Argentina, a diplomacia brasileira foi se adaptando. A última declaração [por conta do assassinato de um líder opositor] é crítica como nunca houve em tempos de chavismo. Mas, ainda assim, foi moderada", analisa Eduardo Viola, professor de Relações Internacional da Universidade de Brasília (UnB). Na mensagem divulgada pelo Itamaraty, o Governo brasileiro condena "com firmeza" a morte de Luis Manuel Diaz e "recorda que é da responsabilidade das autoridades venezuelanas zelar para que o processo eleitoral que culminará com as eleições no dia 6 de dezembro transcorra de forma limpa e pacífica".

Um dia antes do assassinato de Diaz, o chanceler Mauro Vieira compareceu ao Senado para audiência na qual tentou tranquilizar os senadores da oposição sobre os esforços do Brasil em relação à Venezuela e disse que era preciso "esperar o resultado das eleições". Uma fonte diplomática ouvida pelo EL PAÍS lembra, contudo, que o processo eleitoral não começa nem termina no dia 6, e sugere que a sensibilidade da região com o Governo Maduro aumentou por conta dos eventos dos últimos meses — entre eles está a decisão do Centro Carter, um respeitado organismo de monitoramento eleitoral, de deixar a Venezuela.

O Planalto e a chancelaria brasileira sempre repetiram que, num ambiente polarizado como o venezuelano, mais valia fazer gestões discretas e tentar pontes com os dois lados, incluindo nomes da oposição, do que fazer declarações à imprensa. Mas, desde a morte de Hugo Chávez, já era possível sentir uma alteração de temperatura nas relações entre Brasil e Venezuela. Outras notas da diplomacia brasileira já haviam criticado episódios emblemáticos, como a prisão do ex-prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, no começo do ano. Num passo inusual, Dilma enviou carta a Maduro sobre as eleições na Venezuela. Seu conteúdo não foi revelado, mas sabe-se que continha certo tom crítico e preocupação pelos rumos da política venezuelana.

Nos planos do Governo Dilma Rousseff, possíveis mudanças na relação com a Venezuela não devem ocorrer de forma tão rápida quanto a imaginada pelo futuro Governo Macri — o presidente eleito na Argentina já falou em aplicar a cláusula democrática do Mercosul contra a Venezuela dependendo do comportamento nestas eleições. Dilma falou da necessidade de "fatos qualificados" para acionar a cláusula. Ou seja, os planos brasileiros dependem, também, de como vai discorrer o processo eleitoral.

Se as pesquisas que dão pelo menos 20 pontos percentuais de vantagem à oposição se confirmarem, o trabalho do continente será lidar com os atritos que devem decorrer dos embates entre o Governo Maduro e seus adversários — há o temor de que o chavismo aplique manobras para esvaziar um Parlamento controlado por oponentes pela primeira vez em 17 anos. Caso a expectativa das pesquisas não se confirme, por outro lado, devem ser levantadas dúvidas sobre a lisura do processo —algo que não acontece seriamente desde ao menos 2004. O sistema de votação eletrônico é considerado confiável e auditável, mas não livre das pressões da máquina estatal. Se países como Estados Unidos e, agora, Argentina, condenarem o processo, pressionarão o Brasil a fazer o mesmo. Em qualquer das duas alternativas, a diplomacia brasileira terá dificuldade de manter o silêncio.

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