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57% das pessoas com HIV no mundo ainda não recebem o tratamento

A OMS recomenda que todos os infectados sejam medicados desde o primeiro momento

Centro de tratamento do HIV na República Democrática do Congo.
Centro de tratamento do HIV na República Democrática do Congo.JUNIOR D.KANNAH (AFP)

A relativa tranquilidade com a qual se enfrenta a infecção pelo HIV nos países ocidentais não se estende ao restante do planeta, que é onde está a maior parte dos casos. O ponto fundamental é o acesso à medicação, essa combinação de remédios que tornou a doença crônica na maioria das pessoas infectadas que a recebe. Na Espanha, por exemplo, o Ministério da Saúde calcula que mais de 92% das pessoas diagnosticadas estão em tratamento e, no Brasil, que é referência mundial no tratamento, estima-se que 404.000 pessoas das 589.000 (quase 70%) diagnosticadas tenham acesso ao medicamento, que é gratuito. Mas, no mundo, segundos os dados da UNAIDS, o panorama muda: existem 16 milhões de pessoas medicadas, o que representa 47% dos infectados. O resto, 21 milhões (53% dos infectados) ainda não tem acesso aos antivirais.

Um ano atrás, a UNAIDS calculava que mais de 50% dos afetados que precisavam já recebiam a medicação. Era uma grande conquista. E não significa que houve um retrocesso. O que aconteceu em 2015 é que os critérios da própria OMS mudaram: já não se estabelece que é preciso tratar a partir de determinada deterioração do sistema imunitário (o que é destruído pelo efeito do HIV). Agora a evidência científica demonstrou que o melhor é medicar desde o começo. É preferível enfrentar os possíveis efeitos secundários dos medicamentos do que a deterioração do sistema imunitário. Isso causa a Aids, a imunodeficiência que faz com que o doente sofra múltiplas infecções, até chegar a uma debilitação geral que o mata. Com a mudança dos requisitos, aumentou o número de pessoas que devem ser tratadas. E, novamente, são menos da metade dos que necessitam.

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Essa é a maior novidade de 2015. Em números gerais, a epidemia mantém sua queda paulatina. Ainda que esteja longe de ser controlada. Em 2014, o último ano com dados, ainda existiram 1,2 milhão de mortes ligadas à Aids. São muitas, mas confirmam a diminuição dos últimos anos. Em 2005 esse número chegou ao seu máximo, com 2,2 milhões. Das oito regiões nas quais a UNAIDS divide o planeta, em seis o número diminuiu desde 2011, por exemplo. E isso inclui o centro e sul da África, locais com mais mortes (790.000, 65% do total), Ásia-Pacífico e América Latina, com 42.000 mortes, 31% a menos do que em 2011, quando a região atingiu sua maior cifra.

A diminuição das mortes fez com que cada vez mais pessoas vivam com o HIV. Essas já são 36,9 milhões. Isso, em si, é uma boa notícia, mas implica, sobretudo nos países menos ricos, um importante esforço para mantê-los medicados. Não só econômico, mas de infraestrutura.

O número de infectados também vem diminuindo. Isso se deve às campanhas de prevenção e, principalmente, ao aumento das pessoas que fazem tratamento antiviral. Esse demonstrou ser uma barreira eficaz contra a propagação do vírus. As pessoas que o seguem e nas quais faz efeito – a maioria – conseguem reduzir a quantidade de HIV no sangue, tanto que se tornam não contaminantes. Apesar disso, existiram dois milhões de contaminações no último ano. Muitas, mas 41% a menos do que os 3,4 milhões de 1984.

Onde não são vistos avanços é no número de pessoas que continuam sem saber sobre seu estado. Nisso os países mais ricos e os pobres mostram a mesma tendência, com uma pequena diferença: a porcentagem de pessoas que não sabem que têm o HIV está por volta de 30% no Ocidente, e 50% na África, por exemplo.

Esse dado é especialmente importante se pretendemos cumprir o objetivo de ter a epidemia controlada em 2030. Para isso a OMS fixou um objetivo intermediário: que, em 2020, 90% dos infectados saibam que o estão, 90% recebam medicação; e que, desses últimos, 90% controlem o vírus até mantê-lo indetectável em seu sangue. Como se vê, um objetivo ambicioso para daqui a cinco anos, que pode ser conseguido somente com um maior esforço político e a ajuda dos genéricos, que baratearam o tratamento dos 6.000 euros (24.592 reais) anuais a 300 euros (1.230 reais) nos países mais pobres.

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