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Desemprego de 8% no Brasil ainda está longe do fundo do poço

Há um ano, taxa era de 4,7% nas seis principais capitais Até outubro 818.000 vagas foram cortadas

Carla Jiménez
Candidatos na fila para uma vaga em um supermercado.
Candidatos na fila para uma vaga em um supermercado.FERNANDO CAVALCANTI

O Brasil já perdeu 818.918 postos de trabalho de janeiro a outubro deste ano, segundo dados do Cadastro Geral do Ministério do Trabalho. A taxa de desemprego já alcança a cifra de 7,9% em outubro nas seis principais capitais do país, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Há um ano, a taxa era de 4,7% nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre. Na capital baiana, o desemprego já chega a 12,8% (era de 8,5% em outubro de 2014).

O que já é ruim vai ficar ainda pior até o final do ano. As projeções do mercado é que o número de desempregados chegue a 1,5 milhão até dezembro, lembrando que o final de ano é o que concentra demissões. “O fundo do poço ainda está longe”, avalia João Saboia, especialista em mercado de trabalho da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Se continuarmos nesse ritmo, poderemos chegar rapidamente aos níveis de 2003, quando a taxa de desemprego era de 12%”, lamenta Saboia, ainda que não precise em quanto tempo essa previsão pode se realizar.

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Pela Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, outra métrica do IBGE, que faz um levantamento trimestral com abrangência nacional, o desemprego chega a 8,9% entre julho e setembro deste ano. No mesmo período do ano passado, a taxa trimestral era de 6,8%.

Entre os oito anos do governo Lula (2003-2010) e os quatro primeiros da presidenta Dilma  Rousseff foram criados 20 milhões de empregos, o que manteve o Brasil no quadro de pleno emprego. Os erros de gestão do primeiro mandato de Dilma, que descontrolaram a inflação, e os exageros de gastos públicos no ano passado, somados à desaceleração da China que afeta a América Latina, estão cobrando seu preço. Os cortes de vagas chegam como um duro golpe para o país, e para o Governo Rousseff, fruto de uma crise econômica que se retroalimenta com a crise política que assolou o país desde o início do segundo mandato da presidenta. “Vejo uma década perdida até 2020”, prevê o economista Luís Eduardo Assis, lembrando que 2015 vai terminar muito pior do que as piores projeções feitas no início do ano. “Perdem-se postos de trabalho, a renda salarial e o comércio já sente os efeitos”, completa.

Pelas contas de Assis, a tal década perdida começa no primeiro ano de Dilma, justamente quando a presidenta confiou demais nos anos dourados do seu antecessor. Um dos equívocos da presidenta foi apoiar a economia no sucesso da Petrobras, responsável por puxar investimentos na economia. A Lava Jato, porém, tirou a petroleira do rumo, assim como o Governo.

Os problemas da presidenta se agravam ainda mais com os nós políticos que paralisaram seu Governo e que parecem não ter fim. Desde o início do ano a mandatária enfrenta a perda de prestígio com protestos de rua, baixa popularidade, traições no Congresso de supostos aliados e a pressão pelo seu impeachment. Há algumas semanas ela até havia encontrado uma certa calmaria depois que seu principal inimigo, o deputado peemedebista Eduardo Cunha, presidente da Câmara, perdeu força ao ficar sob a mira da Lava Jato com as denúncias de contas na Suíça.

Na semana passada, no entanto, Dilma sofreu um duro golpe com as gravações que flagraram o líder do PT no Senado, Delcídio do Amaral, propondo fuga e mesada paga pelo banco BTG Pactual ao advogado do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. O novo escândalo volta a aumentar o clima de desconfiança e de paralisia do Governo e por consequência da economia. “A recessão está se aprofundando”, afirma Assis. Tudo isso às vésperas do final do ano, época em que as pessoas tentam renovar suas esperanças, mas no Brasil está difícil.

O desânimo geral com as más notícias e o desemprego em curso mantêm um clima de apreensão entre os brasileiros, que temem ser o próximo a ficar sem trabalho. Sob esse clima, gastam menos, o que torna a vida das empresas mais difícil, pois sem vender seus produtos e serviços, têm menos dinheiro em caixa, e se veem pressionadas a demitir gente. Eis o ciclo vicioso que explica a recessão de 2015 no Brasil, que deve fechar o ano com queda de 3% do PIB. Num beco sem saída, Dilma enfrenta expectativas tão desalentadoras para 2016 como às deste ano.

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