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UE oferece dinheiro à Turquia para que país freie fluxo de refugiados

Países do bloco europeu oferecem inicialmente 12,2 bilhões de reais a Ancara

Claudi Pérez
O presidente Erdogan neste sábado em Burhaniye.
O presidente Erdogan neste sábado em Burhaniye.Yasin Bulbul (AP)

A Europa colocou em cena neste domingo sua nova relação com a Turquia, oferecendo três bilhões de euros (12,2 bilhões de reais) e outras vantagens se Ancara contiver o fluxo de refugiados em direção ao continente. A Alemanha quer ainda mais: convocou uma minicúpula para criar uma frente unida e melhorar substancialmente essa oferta, desde que a Turquia controle suas fronteiras. Diante da feroz oposição do bloco oriental, a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel quer abordar os refugiados na sua própria origem, acolhendo, segundo algumas fontes, 400.000 pessoas com direito a asilo que procedam diretamente da Turquia, evitando assim as máfias do tráfico humano. A Comissão Europeia (Poder Executivo da UE) detalhará o plano, voluntário, dentro de 15 dias.

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Na difícil e tormentosa relação entre essas duas criaturas da geopolítica que são o Oriente e o Ocidente, a Turquia é fundamental para a Europa, mas ao mesmo tempo esse vínculo sempre atraiu inúmeros problemas. A cúpula UE-Turquia é a confirmação de uma mudança de tendência, após anos turbulentos que melhoraram subitamente com o estouro da crise de refugiados. A Turquia passou muito tempo flertando com Moscou, esfregando as mãos por causa do gás russo e farta das advertências de Bruxelas sobre os direitos civis, o Curdistão e os planos de Recep Tayyip Erdogan para transformar o regime presidencialista de facto em um de jure. A derrubada de um caça russo revelou os problemas da relação com Moscou. E a crise de refugiados devolve seu protagonismo na Europa – a cúpula de Bruxelas encenou esse “relançamento” nas relações UE-Turquia, segundo o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu.

O frio e fugaz cumprimento entre Rajoy e Hollande

Um cumprimento fugaz, um olhar frio e pouco mais do que isso. O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, cruzou neste domingo em Bruxelas com o presidente francês, François Hollande, mas ambos não trocaram uma só palavra a respeito da colaboração contra o terrorismo jihadista. Rajoy descartou reunir-se com Hollande para discutir o assunto em Paris, em meio à cúpula contra a mudança climática. “Essas coisas não são feitas assim, em reuniões contra a mudança climática”, argumentou.

Rajoy rejeita qualquer decisão sobre a colaboração antiterrorista com a França sem antes consultar o Parlamento espanhol. “As decisões que forem tomadas sobre esse assunto não serão precipitadas. Precisam ser como todas as que forem tomadas a respeito: bem pensadas, dentro de um plano conjunto, levadas ao Parlamento e conversadas previamente com os partidos políticos.”

“Compartilhamos o destino do continente europeu e os desafios geopolíticos, incluindo o assunto migratório”, disse Davutoglu com a pompa das grandes ocasiões. O primeiro-ministro voltou ao seu país com um calhamaço de promessas embaixo do braço: a UE, que até recentemente relutava em ceder um bilhão de euros, agora oferece “em princípio” três bilhões, embora não divulgue detalhes sobre esse compromisso. “Não é dinheiro em troca de refugiados, isso seria imoral; trata-se de melhorar as condições para os refugiados sírios”, apontou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

Os países sócios se comprometem a liberalizar os vistos um ano antes do previsto, desde que Ancara antecipe para 2016 a aplicação dos acordos de readmissão, pelos quais o país fica obrigado a aceitar os imigrantes irregulares sem direito a asilo que tiverem entrado na Europa pelo território turco. Outra contrapartida será a reabertura do processo de adesão da Turquia à UE, após anos paralisado. Tanta generosidade tem um objetivo: que Ancara se envolva mais na crise de refugiados, mesmo se para isso a EU precisar ignorar as violações dos direitos na Turquia de Erdogan.

Mais de 876.000 migrantes chegaram à Europa pelo Mediterrâneo nos últimos meses, segundo o Acnur (agência da ONU para refugiados), e Tusk informou que o total de desembarques supera 1,5 milhão. O destino principal é a Alemanha: Merkel, cada vez mais nervosa com esse assunto, pressionou fortemente em favor da Turquia, dentro e fora da reunião. Berlim organizou uma minicúpula paralela, abrindo uma frente que busca melhoras substanciais para Ancara em troca do cumprimento das suas promessas.

A Alemanha quer que a UE ofereça um programa ambicioso de reassentamento, para acolher refugiados que estejam na Turquia se o país melhorar o controle de suas fronteiras. Merkel incluiu nesse grupo os países de entrada (Grécia), de trânsito (Áustria) e os destinos preferidos (Suécia, Finlândia, Holanda, Bélgica, Luxemburgo e a própria Alemanha), com pouco sucesso, segundo fontes consultadas. Mesmo assim, a Comissão aceitou o desafio: em 15 dias preparará uma proposta para os países que voluntariamente quiserem explorar a possibilidade de trazer refugiados diretamente da Turquia.

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