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Sónar, o grande festival que não quer crescer

Vitrine de música eletrônica em São Paulo tem programação de vanguarda e público fiel

Marina Rossi
The Chemical Brothers, no Sónar em 2010 em Barcelona.
The Chemical Brothers, no Sónar em 2010 em Barcelona.

Este não é um festival de música eletrônica para aqueles que gostam de comprar o ingresso, esperar pelo dia do show, entrar, ouvir o som e ir embora. Tampouco é apenas um festival de música eletrônica. No Sónar, a música é o meio, e não o fim. E pela terceira vez, esse caldeirão de sons e criatividade esteve em São Paulo.

Criado em 1994 em Barcelona pelo trio Ricard Robles, Enric Palau e Sergi Caballero, o Sónar não se limita a apenas shows com DJs populares na cena musical. O festival é feito também de encontros, workshops, debates sobre arte, tecnologia e criatividade. “É um mapa criativo”, diz Ricard Robles. “O Sónar é um laboratório cultural, não é um espaço só de entretenimento.”

Talvez por isso, os shows aconteçam somente no último dia do festival, que em São Paulo começou na terça-feira. Nos três primeiros dias, a programação ficou por conta do Sónar+D, quando palestras, debates, exibições, sessões de cinema e apresentações foram realizados com curadoria de Hermano Vianna, Ronaldo Lemos e Alê Yousseff. Temas como “novos negócios da música” e “tendências de produção” foram debatidos.

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Neste sábado, shows noturnos vão encerrar a programação. A dupla britânica The Chemical Brothers é a principal atração, mas o palco também dará espaço para artistas como o mineiro Zopelar e a chilena Valesuchi. “Se o cara foi chamado para tocar no Sónar, é porque existe algum burburinho em volta dele”, diz Camilo Rocha, jornalista e DJ brasileiro. Portanto, vale ficar de olho na programação completa (veja aqui).

Segundo Camilo Rocha, o equilíbrio entre a música de vanguarda e os artistas mais consagrados é, inclusive, uma das fórmulas que fazem o festival perdurar por tanto tempo. “O Sónar tem seu papel de vitrine, de lançar novos nomes, mas também tem destaques bastante conhecidos.”

Apesar de contar sempre com uma atração mais conhecida, o Sónar preza por um público mais restrito, que conhece e gosta de música, e, claro, é aberto a novas experiências. “É um festival mais focado em um público que curte uma música mais avançada”, diz Claudia Asseff, jornalista e DJ, que está idealizando o primeiro museu do DJ do mundo, em São Paulo. Como música avançada, leia-se “tudo o que é feito na música eletrônica mais undreground, que é o hip hop mais alternativo, o rock mais indie”, segundo Claudia.

Ela já esteve em sete edições do Sónar em Barcelona, e participou da curadoria da primeira edição em São Paulo, em 2004. “As pessoas vão ao Sónar para conhecer uma música nova, mas também para ouvir uma música que estava esquecida no passado mas que tem qualidade”, diz, citando Duran Duran e Pet Shop Boys como algumas das atrações de outras edições. “Mas este festival não está interessado em popularizar.”

Embora São Paulo figure na lista das cidades com intensa vida noturna e grandes baladas, o que faz com que diversos outros festivais aconteçam aqui ou nos arredores, Ricard Robles explica que a programação do Sónar é mais complexa do que a dos festivais de música eletrônica. “É difícil comparar. A natureza dos eventos é muito deferente”, diz. “[o Sónar] é feito para uma massa crítica que não é tão ampla”. Por isso, segundo Robles, o festival “não é um produto massivo.”

A última vez que a festa esteve em São Paulo foi em 2012. A falta de uma periodicidade também faz com que o Sónar fique mais à margem da programação cultural da cidade. Segundo Robles, o desejo inicial era de que ocorresse uma edição do festival todos os anos no Brasil. “Em 2004, na primeira edição, tínhamos o desejo de voltar ao Brasil anualmente”, disse. Mas entraves burocráticos e a instabilidade econômica atrapalharam os planos.

Para Camilo Rocha a realização do Sónar no Brasil contribui para o amadurecimento da música eletrônica no país. “ O Sónar tem uma pegada menos juvenil do que outros grandes festivais, como o Tomorrowland”, diz. “Ele quebra alguns estereótipos acerca da música eletrônica.”

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