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Editoriais
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Mudança profunda

Macri busca recolocar a Argentina no continente depois de 12 anos de kirchnerismo

Mauricio Macri, com sua filha Antonia sobre seus ombros e sua esposa, Juliana Awada, celebram sua vitória no segundo turno das eleições da Argentina no último domingo, em Buenos Aires.
Mauricio Macri, com sua filha Antonia sobre seus ombros e sua esposa, Juliana Awada, celebram sua vitória no segundo turno das eleições da Argentina no último domingo, em Buenos Aires.IVAN ALVARADO (REUTERS)

A vitória de Mauricio Macri à frente de uma coalizão de centro-direita, que inclui a histórica União Cívica Radical de Raúl Alfonsín, sobre o candidato do peronismo situacionista Daniel Scioli, encerra 12 anos de kirchnerismo na Casa Rosada. Mas, acima de tudo, reflete uma decidida vontade de mudança por parte da sociedade argentina. O país está há anos com uma drástica desaceleração do crescimento e a inflação é galopante, mas os males da Argentina não são apenas econômicos; também têm a ver com a extrema polarização política, que obedece às formas populistas com as quais governou Cristina Fernández de Kirchner, e com uma crescente irrelevância no quadro regional, pelo desejo da presidenta de se vincular ao projeto que a Venezuela capitalizou nos últimos anos.

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Os argentinos decidiram mudar e romperam os velhos esquemas: é a primeira vez que acontece uma eleição de verdade no segundo turno, e é a primeira vez que vence o líder de um partido minoritário, Propuesta Republicana (PRO), fundado há apenas uma década e que chega com desejo modernizador enquanto defende posições liberais frente ao Governo anterior, que fez do protecionismo extremo uma de suas principais características.

Macri, que finalmente venceu Scioli por apenas três pontos de diferença em relação às expectativas inicialmente levantadas, mostrou no domingo que sua maior prioridade é combater a crise econômica por que passa a Argentina. Para fazê-lo, anunciou um Gabinete com seis pastas voltadas para esse fim no difícil contexto internacional de queda dos preços das matérias-primas. Mas Mauricio Macri poderia ter de enfrentar uma situação ainda mais delicada porque as reservas do Banco Central caíram de modo notável e talvez ele tenha de articular medidas de emergência frente uma oposição que não vai lhe dar trégua, sabendo que parte de sua vitória vem de muitos eleitores frustrados com o peronismo mais radical e que apostaram em Sergio Massa no primeiro turno das eleições.

A outra perna em que o presidente eleito vai se apoiar para romper a dinâmica de confronto instalada por sua antecessora é recuperar a voz da Argentina em um continente no qual a marca bolivariana atravessa momentos desfavoráveis. Macri disse no domingo que na próxima cúpula do Mercosul pedirá a aplicação da cláusula democrática contra a Venezuela, porque as denúncias de abusos que estão ocorrendo lá contra a oposição “são claras, contundentes, não são uma invenção”. Assim, ele empunha, e com urgência, a bandeira de outra transformação, que pretende mudar o enrugado projeto do socialismo do século XXI.

Os eleitores escolheram um projeto que promete modernidade contra o estilo errático de Cristina Kirchner. O que ainda não se sabe é como o peronismo vai digerir a derrota. Macri avisou que quer governar para todos, mas isso não será fácil em uma sociedade tão polarizada e na qual uma parte importante não vê com bons olhos suas promessas de liberalização. Seu sucesso dependerá da habilidade para conquistar consensos em relação a políticas que serão, inevitavelmente, conflitantes.

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