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França espera proposta da Espanha na luta contra o Estado Islâmico

"Vamos ver o que os espanhóis propõem", diz Le Drian, ministro francês da Defesa

Guillermo Altares
Soldados franceses no hotel Radison de Bamaco.
Soldados franceses no hotel Radison de Bamaco.Joe Penney (reuters)

O presidente francês, François Hollande, e seu ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, começam na terça-feira uma viagem para EUA e Rússia para formar uma coalizão internacional contra o Estado Islâmico (EI), responsável pelos ataques da sexta-feira 13 novembro, em que 130 pessoas foram mortas em Paris. No entanto, o objetivo da França é estabelecer uma coalizão tão ampla quanto possível, e afirma ter recebido propostas concretas de todos os seus parceiros europeus, incluindo a Espanha, segundo afirmou neste domingo o ministro francês da Defesa à emissora de rádio Europe 1.

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O Executivo espanhol disse na quinta-feira, por diferentes vias, que estava disponível para enviar um contingente militar maior ao Sahel e à República Centro-Africana para aliviar as tropas francesas e permitir que estas concentrem seus esforços na guerra contra o Estado Islâmico, notícia publicada pelo EL PAÍS em sua edição de sexta-feira (leia aqui, em espanhol). No entanto, uma hora após o ataque de sexta-feira contra um hotel na capital do Mali, durante o qual 27 reféns e 13 agressores foram mortos, o Governo disse que não havia feito tal oferta à França (leia aqui, em espanhol), apesar de o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel García Margallo, ter confirmado os planos naquela mesma manhã à emissora 13TV.

"Vamos ver o que os espanhóis propõem, evidentemente que se as forças europeias vierem em apoio às forças francesas e as aliviarem, o que deveria ser, é a Europa da Defesa em funcionamento", disse Le Drian em uma entrevista de 40 minutos no programa matinal Le Grand Rendez-Vous. A resposta do ministro da Defesa, um dos membros do Executivo mais próximos do presidente Hollande, foi dada quando questionado sobre a presença francesa no Mali, onde desde 2013 realiza uma operação contra o EI no Sahel.

O conjunto de países da UE mostrou seu apoio concreto à França. Aqui entram em jogo os espanhóis"

"A França pode sustentar as frentes do Mali, francesa e síria?", foi perguntado o ministro no programa da emissora privada. Ao que ele respondeu: "É o que fazemos. Não está previsto reduzir a intensidade da força Berkane no Mali, porque nós conduzimos operações nós mesmos em postos avançados". Outro repórter perguntou: "É verdade que há uma operação em curso agora mesmo?". Drian respondeu: "Nesse exato momento, sim. A força Berkane atua em todos os momentos. Aqui entram em jogo os espanhóis. A reunião de terça-feira demonstra a sua eficácia", afirmou.

Em busca de uma força europeia

Le Drian fazia referência ao Conselho de Ministros de Relações Exteriores da União Europeia, que se reuniu na terça-feira a pedido da França em cumprimento ao artigo do Tratado de Lisboa que prevê o apoio dos parceiros caso um país seja atacado. "Cada Estado-membro anunciou que iria nos ajudar e estamos fazendo um inventário das proposições e da situação de cada um para obter resultados concretos. Já disse que há uma fragata belga e outra britânica no leste do Mediterrâneo", com o grupo aeronaval do porta-aviões Charles de Gaulle, que estará operacional a partir de segunda-feira.

Durante a entrevista, o ministro da Defesa repetiu três vezes o que considera a estratégia para "aniquilar" o Estado Islâmico: "Todo o mundo precisa de todo o mundo". "O conjunto de países da UE mostrou seu apoio concreto à França. Por um lado, há um certo número de Estados que participarão nos ataques concretos sobre o território sírio e iraquiano. Sei que os britânicos estão pensando nisso. Eles não são os únicos. Além disso, outros Estados serão capazes de aportar apoio logístico para ajudar a França nessa situação, e alguns vão aliviar o esforço militar francês em outros teatros, por exemplo, há países que vão aportar forças para nos ajudar na África, onde temos 10.000 soldados", afirmou.

"O objetivo não é enfraquecer, é aniquilar o Estado Islâmico", disse o ministro da Defesa francês. "Todos os que quiserem vir são bem-vindos. Diferentes atores já anunciaram a sua participação, cada um tem o seu papel", acrescentou Le Drian, que diversas vezes durante a entrevista à Europe 1 salientou a necessidade de se estabelecer uma coalizão tão ampla quanto possível, não só formada pelos parceiros europeus, a Rússia e os Estados Unidos, mas também envolvendo países árabes. Perguntado se seriam necessárias tropas no terreno, ele argumentou: "A vitória e a destruição do EI passam necessariamente pela presença de tropas no terreno", mas, acrescentou, "isso não significa que vai haver uma presença francesa no terreno".

A entrevista começou com uma pergunta contundente: "Estamos diante da Terceira Guerra Mundial?”, à qual o ministro francês respondeu: "Temos de manter um senso de proporção e colocar isso em perspectiva. Mas essa é a primeira vez que enfrentamos um inimigo com duas cabeças, um estado terrorista, messiânico, apocalíptico, que se organiza como um Exército. Por outro lado, temos um movimento terrorista internacional que tem como objetivo atacar o mundo ocidental, colocar em risco a democracia. São duas guerras diferentes em uma guerra. Eu diria que é a primeira guerra mundial híbrida".

Dez dias após os atentados de Paris, Hollande enfrenta uma intensa semana diplomática para definir a forma que terá a coalizão e qual papel cada Estado cumprirá. Na segunda-feira, se reunirá em Paris com o primeiro-ministro britânico, David Cameron; na terça-feira, viajará para Washington para se reunir com o presidente Barack Obama; na quarta-feira, retorna a Paris, onde o aguarda uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel; e, na quinta-feira, subirá novamente em um avião para conversações em Moscou com o presidente Vladimir Putin.

O porta-aviões Charles de Gaulle, que viaja acompanhado por um grupo aeronaval que inclui uma fragata britânica e outra belga, estará operacional a partir de segunda-feira com seus 26 aviões a bordo para intensificar os bombardeios contra o EI no território que controla na Síria e no Iraque.

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