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Adolphe Sax, pai do saxofone

Criador e obra protagonizam o Doodle, pelo aniversário de nascimento do inventor

Fernando Navarro
Adolphe Sax.
Adolphe Sax.Zander&Labisch (Getty Images)

Há invenções e inventores que merecem um Doodle, mas, para além dessa brincadeira visual e curiosa com a qual o Google tenta nos surpreender quase que diariamente, há invenções e inventores que merecem um monumento. É o caso do saxofone e de seu criador, Adolphe Sax, que protagonizam o mais recente Doodle do Google e também estão representados há anos por uma estátua de bronze na cidade belga de Dinant, a pouco mais de 100 quilômetros ao sul de Bruxelas. Ali, às margens do rio Mosa, Sax, um dos luthiers (fabricante de instrumentos de cordas) mais famosos da história, produziu o saxofone, em 1840, quando tentava melhorar o som do clarinete, instrumento que tinha estudado e costumava tocar no Conservatório Real de Bruxelas.

O termo “saxofone” vem de seu sobrenome, Sax, e de phono, que significa som. Seria algo como “o som de Sax”. Um som que tinha a personalidade do clarinete, ainda que mais afiada, mas que podia se aproximar à intensidade alcançada por um instrumento de cordas. Sax também inventou, com menos sorte, uma espécie de trompa em forma de saxofone, mas com este descobriu um meio-termo para as sonoridades díspares e, com o tempo, encontrou o instrumento ideal para o jazz. Porque o saxofone, “um instrumento de cobre e em forma de cone parabólico”, como o próprio Sax o descreveu, é puro jazz: possui a força expressiva do trompete e a agilidade do clarinete.

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É o som do jazz moderno. Porque a invenção de Sax levou muitos anos para se introduzir no mundo jazzístico. À sombra do clarinete e visto como um instrumento menor, que propiciava uma suavização sonora, o saxofone só adquiriu importância com a eclosão do que ficou conhecido como “estilo de Chicago”, nos anos vinte do século passado. Em um estilo onde o que predominava era o individual, em vez dos conjuntos, um instrumento como o saxofone encontrou o seu lugar, impulsionado por músicos brancos jovens e entusiastas imitando seus ídolos de Nova Orleans. Os mais puristas ressaltaram que, com essa forma de solos e de dar voltas com o instrumento, o jazz morreria. Mas a verdade é que ele abriu todo um mundo de possibilidades. Inclusive se criou uma certa “saxomania” na época, com um outro grande berço, Kansas City, enquanto fora desse meio, uma obra-prima de Gershwin, Rapsodie in Blue, de 1924, empregava três saxofones.

Com o jazz visto como uma espécie de diálogo entre instrumentos, o saxofone adquiriu categoria de mestre através de grandes solistas, como Lester Young, Charlie Parker e Colemann Hawkins. Mas eles não são os únicos nomes a se destacar no gênero. Partindo daideia de que no jazz há os saxofones soprano, alto, tenor e barítono, outros magos do instrumento incluíram Cannoball Aderley, Ornette Coleman, Stan Getz, Johnny Hodges, Gerry Mulligan, Sonny Rollins, Wayne Shorter, Ben Webster e John Coltrane. Escutando qualquer um deles, nos damos conta de que, sem o saxofone, o jazz jamais teria sido o mesmo no século XX. Ornette Colemann dizia, aliás, que “as melhores declarações que os negros fizeram sobre a alma foram expressadas no saxofone”.

Para além de cores, raças e gêneros, o timbre volátil do saxofone ajudou a música contemporânea a ampliar seu espectro sonoro e a estender o campo das combinações sonoras. E mais: ao nos afundarmos em obras como Body and Soul, de Coleman Hawkins, Saxophone Colossus, de Sonny Rollins, Something Else, de Cannonball Adderley e A Love Supreme, de John Coltrane, sentiremos uma verdade irrefutável. A de que o mundo é um lugar melhor graças ao som do saxofone.

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