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Mais cáries, menos gols

A má saúde dental dos jogadores prejudica o rendimento de equipes como o Barcelona

Javier Salas
A boca dos jogadores do United foi analisada nesse estudo.
A boca dos jogadores do United foi analisada nesse estudo.Eddie Keogh (REUTERS)

Muitos jogadores de futebol estão perdendo a força pela boca. É uma afirmação rigorosamente certa e que deixa à margem as fanfarronices nas coletivas de imprensa: os jogadores profissionais não cuidam das gengivas e dos molares como fazem com seus joelhos e tornozelos. É a conclusão que se vai consolidando a partir dos primeiros estudos publicados sobre a má saúde buco-dental dos astros da bola no Brasil, Espanha e Reino Unido. Descuidam da boca e isso tem reflexo no campo de jogo.

Um de cada cinco jogadores de elite admite que o estado de sua boca tem impacto negativo em sua qualidade de vida

Oito equipes de futebol profissional da Inglaterra e de Gales (com o Manchester United entre elas) aceitaram ser voluntárias para que um grupo de dentistas estudasse suas bocas para conhecer seu estado, e o resultado é chamativo: uma maioria esmagadora dos jogadores tem problemas sérios nas gengivas (77% com gengivite, 80% com periodontite irreversível), quase quatro de cada dez tinha cáries ativas no momento do exame e mais da metade uma erosão dentária. Um panorama que surpreende por se tratar de jogadores de elite, para os quais a saúde deveria vir em primeiro lugar, em todos os âmbitos. Mas é um abandono que chama ainda mais a atenção quando os próprios jogadores reconhecem que isso afeta não só a sua vida, mas também o desempenho na profissão.

Assim, 45% dos 187 jogadores estudados afirmam estar com algum incômodo na saúde bucal, 20% reconhecem que o estado de sua boca tem impacto negativo em sua qualidade de vida e 7% admitiram que os prejudica na hora de treinar ou jogar futebol. Isso foi o que disseram à equipe de dentistas da University College de Londres (UCL) que trabalhou com eles para realizar esse estudo publicado por uma revista de referência em medicina esportiva, a British Journal of Sports Medicine. Mas os especialistas sabem que esse problema afeta o estado físico muito além do que os próprios jogadores podem perceber.

Um estudo no Barça mostrou que os jogadores da equipe tinham em média mais de duas cáries ativas e um descaso generalizado com os dentes

"A má saúde oral afeta a qualidade de vida e o bem-estar dos jogadores”, resume o encarregado do estudo, Ian Needleman. Segundo esse especialista da UCL, isso pode incluir infecções catastróficas e abcessos, dor em pequeno grau e sensibilidade que afete a qualidade do sono e a alimentação, questões essenciais para um esportista de elite. “Está bem documentado cientificamente que essas doenças orais, especialmente as das gengivas, e as infecções bucais podem provocar inflamação no resto do corpo”, explica Needleman.

Esse tipo de problema entre os jogadores está acima da média da população, quando o lógico seria que se cuidassem mais: em torno de 40% dos futebolistas têm cáries e a metade padece de desgaste dental, em grande medida por culpa da acidez das bebidas esportivas, afirmam os pesquisadores.

As conclusões desse trabalho coincidem com estudos prévios, como o que foi publicado em 2011 sobre o quadro do FC Barcelona, e que serviu de primeiro grande aviso da má saúde dental dos jogadores de elite. Ronaldinho, Iniesta, Puyol e Chygrynskyi —o que pior estava— tinham a boca em tão mau estado como os jogadores do Manchester agora, com uma média de mais de duas cáries ativas por jogador, o que demonstra que nada parece ter mudado nesses anos, sobretudo no uso de bebidas esportivas nocivas para os dentes.

Na história recente do futebol houve muito mais baixas por culpa de dentes e gengivas do que parece razoável entre jovens que dedicam seus dias a se cuidarem. Agora, depois de conhecer esse trabalho da UCL, outros esportistas de elite pediram sua ajuda, como a equipe olímpica do Reino Unido, com a qual começarão a trabalhar de agora em diante, segundo antecipa Needleman.

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