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Decepção política funda a República Federativa do Brasil inflado

Após boneco de Lula, já surgiram versões em lona de Dilma, Alckmin, Haddad e Pimentel

Rodolfo Borges
Bonecos de Alckmin e do secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, em protesto no dia 20 de outubro contra a reorganização escolar da rede estadual.
Bonecos de Alckmin e do secretário de Educação de São Paulo, Herman Voorwald, em protesto no dia 20 de outubro contra a reorganização escolar da rede estadual.CRIS FAGA (ESTADÃO CONTEÚDO)

O grande personagem político do Brasil em 2015 tem 12 metros de altura e, apesar de ser preenchido por ar, pesa 150 quilos. No ano em que o país viu enfim nascer a aguardada Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, e o Partido Novo surgiu com a promessa de se firmar como a primeira legenda autenticamente liberal da política nacional, nenhuma novidade foi capaz de mobilizar tantas paixões quanto o boneco inflável Pixuleco, o famoso Lula Inflado. Concebido pelo Movimento Brasil, a caricatura de lona do ex-presidente Lula (alimentada por dois motores de propulsão) passou a protagonizar protestos país afora, virou alvo de atentados a faca e inspirou a criação de outros infláveis de protesto.

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Desde que o Lula Inflado apareceu no gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no dia 16 de agosto, gerando uma infinidade de memes na Internet, quase todo grande protesto político passou a contar com figuras infláveis, com custo médio de produção entre 10.000 reais e 20.000 reais. Só a presidenta Dilma Rousseff já ganhou duas versões, batizadas de Pinóquia e Bandilma. Em Minas Gerais, Lula protagoniza outro boneco, com roupa de presidiário, a exemplo do inflado original, mas com chifres e com Dilma e o governador do estado, Fernando Pimentel (PT), acoplados ao lado (veja galeria de fotos). Em São Paulo, primeiro surgiu um boneco para satirizar as políticas de mobilidade do prefeito Fernando Haddad (PT), o Raddard, para depois aparecer o Chuchuleco, crítica ao governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O conturbado clima político e a crise econômica, que eleva a taxa de desemprego desde o início do ano, parecem compor o ambiente ideal para a proliferação dos bonecos de protesto. Pesquisas de opinião recentes confirmam o desgaste das maiores lideranças políticas do país. Além da queda na popularidade de Dilma e Lula, houve aumento na rejeição de nomes vistos como opções ao Governo petista, como o senador Aécio Neves, a ex-ministra Marina Silva e o governador Alckmin. A insatisfação tem levado mais gente às ruas, e o sucesso do Pixuleco parece ter tornado irresistível a utilização de infláveis nas manifestações.

A nova febre dos inflados políticos, que têm o poder de simbolizar o protesto em apenas uma imagem, começou antes mesmo do Lula Inflado, segundo Denise Faria, gerente da Companhia do inflável. No início do ano, a empresa produziu um elefante branco com a estrela do PT que foi usado em uma manifestação de empresários. "Costumamos fazer bonecos de dois ou três metros de políticos, mas apenas durante campanhas eleitorais", conta a gerente, cuja empresa é responsável por um dragão de três cabeças inflável que a Força Sindical usou neste mês para protestar contra a inflação, o desemprego e os juros altos na avenida Paulista.

Responsável por fabricar os patos amarelos que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) espalha pelo Brasil em protesto contra o possível aumento de impostos, Denilson Souza, dono da fábrica Big Format, calcula em 25% o aumento da busca pelos serviços de sua empresa neste ano. “A procura por infláveis em geral aumentou bastante, também por pessoas físicas, e com certeza a exposição nos protestos contribuiu para isso. Mas nem todo mundo fecha os pedidos depois de se deparar com o tamanho do investimento”, conta o fabricante, que já produziu um lote de Pixulecos em tamanho pequeno.

Lula

Apesar da proliferação de infláveis políticos, Lula inflado segue sendo o grande fenômeno da turma, com reproduções vendidas de 20 a 40 reais e carregadas em todos os protestos contra o Governo, inclusive dentro da Câmara dos Deputados. Idealizado inicialmente como um balão, que exigiria a utilização de gás hélio, o boneco ficou no chão por questões de segurança e quase não sai do papel por conta dos custos. Os 12.000 reais necessários para criá-lo foram reunidos graças a vaquinhas. Essa mobilização, aliás, pode ser uma das razões de seu sucesso.

Para o cientista político Paulo Kramer, professor da Universidade de Brasília (UnB), a espontaneidade e a falta de estruturas políticas por trás da iniciativa contaram a favor do Lula inflado. "Mas o momento também ajudou. Lula está em seu nível mais baixo de prestígio", avalia Kramer, para quem o Pixuleco se tornou um "passo muito significativo no processo de desconstrução da imagem pública que ele já vem sofrendo há algum tempo". Não por acaso, militantes ligados ao PT acertaram facadas por mais de uma vez no boneco. Apesar dos sustos e arranhões, contudo, a capacidade do Pixuleco de irritar os partidários do ex-presidente Lula permanece intacta.

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