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ONU: o que resta é “administrar os riscos futuros” da mudança climática

Responsável da ONU para o clima alerta para risco de aumento de temperatura em até 5ºC

Christiana Figueres, responsável pela área de mudança climática da ONU.
Christiana Figueres, responsável pela área de mudança climática da ONU.Albert Garcia

O mundo está ficando sem tempo na luta contra a mudança climática. Cientistas fixaram que a temperatura máxima suportada pelo planeja no fim do século será de dois graus a mais em relação aos níveis pré-industriais. A Organização das Nações Unidas (ONU) analisou os compromissos que, até 1o de outubro passado, tinham sido enviados por 147 Governos. Segundo detalhou na quarta-feira, dia 29, Christiana Figueres, responsável pela área de mudança climática da ONU, a extrapolação desses compromissos previstos para o período de 2020-2030 indica que o aumento da temperatura rondará os 2,7 graus no fim do século, uma estimativa semelhante à difundida recentemente pela Agência Internacional de Energia.

As emissões de gases de efeito estufa atuais e as das décadas anteriores foram tais que a mudança climática se tornou irreversível. “Não vamos resolver a mudança climática; já estamos vendo seus impactos”, afirmou Figueres durante uma entrevista coletiva pelo telefone com vários veículos de comunicação de língua espanhola. Agora o que resta é “administrar os riscos futuros”.

Em um mês, em Paris, realiza-se a reunião internacional na qual 196 Estados tentarão fechar um acordo que substitua o de Kioto e que comece a ser aplicado a partir de 2020. Um dos pontos a serem abordados será a mitigação, que se traduz na redução das emissões dos gases de efeito estufa, principalmente de CO2. Os Governos tinham até 1o de outubro para apresentar seus compromissos voluntários de reduções (INDCs). Um total de 147 países foram até a ONU a tempo de contribuir; outros oito o fizeram depois de vencido o prazo. Figueres afirmou que estes últimos casos não foram levados em conta na análise que seu departamento elaborou, que foi apresentado nesta sexta-feira.

Obama e Xi participarão na cúpula de Paris

Figueres confirmou que na inauguração da cúpula de Paris, em 30 de novembro, estarão os presidentes de EUA e da China, Barack Obama e Xi Jinping. Também estará presente o presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, que na quarta-feira admitiu que se equivocou em 2007 quando disse que a mudança climática não podia ser convertida "no grande problema mundial".

Além da redução de emissões, no acordo de Paris também terá que se recolher a adaptação à mudança climática e o financiamento. Este último ponto, e a transferência de tecnologia, é o que mais está custando fechar. "O financiamento não está suficientemente claro", diz Figueres sobre o último rascunho. Aos países em desenvolvimento se pede que cresçam "sem emissões" nas próximas décadas, o contrário do que fez Ocidente.

Figueres se mostrou otimista diante desses compromissos: “Temos 100% dos países industrializados e mais de cem países em desenvolvimento”. Ou seja, há cerca de 150 países com uma estratégia “planejada” de luta contra o aquecimento. “É muito mais do que há cinco ou seis anos”, acrescenta. Além disso, lembrou que, se não forem aplicadas fórmulas de mitigação, o aumento da temperatura no fim do século estaria em quatro ou cinco graus, algo “absolutamente inviável”.

“Os esforços dos países já vão levar a uma queda na curva do crescimento das emissões”, insistiu Figueres, que reconheceu, no entanto, que os esforços “não são suficientes” para chegar a essa meta de longo prazo de dois graus.

Outro motivo para o otimismo demonstrado pela responsável pela mudança climática da ONU é que, segundo sua interpretação, os Estados apresentaram “esforços muito conservadores”, já que nenhum país quer se expor a ser identificado publicamente como não cumpridor. “Penso que, ao chegar a 2025 e 2030, muitos Estados terão feito esforços acima do estabelecido”, prevê.

Acordo de Paris

Além desses compromissos, os Estados terão de negociar um acordo na reunião de Paris, à qual comparecerão, entre muitos líderes mundiais, os presidentes dos EUA e da China. Esse acordo deve incluir mecanismos de controle das reduções de emissões e também a adaptação à mudança climática. E um dos aspectos que mais está complicando o pacto é o financiamento. “O financiamento não está suficientemente claro”, disse Figueres sobre o rascunho fechado pelos negociadores dos 196 Estados na semana passada em uma reunião em Bonn.

O financiamento e a transferência de tecnologia são chave. Pede-se aos países em desenvolvimento que “cresçam sem emissões” nas próximas décadas, detalha Figueres. Ou seja, que renunciem a algo que os países já desenvolvidos fizeram e que desencadeou a mudança climática.

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