_
_
_
_
_

Procuradoria detalha provas de movimento de Cunha na Suíça

Em novo pedido de investigação enviado ao STF, procuradoria detalha contas no exterior

Gil Alessi
O documento do Merril Lynch assinado por Cunha.
O documento do Merril Lynch assinado por Cunha.Reprodução

A Procuradoria Geral da República enviou ao Supremo Tribunal Federal nesta sexta-feira um novo pedido de abertura de investigação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. É o segundo enviado ao STF no âmbito da Lava Jato envolvendo o peemedebista. De acordo com a PGR, o deputado, sua mulher, Cláudia Cordeiro Cruz, e uma de suas filhas, Danielle Dytz da Cunha Doctorovich, devem ser investigados por serem os titulares de duas contas secretas na Suíça. Há indícios de que elas tenham sido abastecidas com dinheiro fruto do pagamento de propina envolvendo o esquema de corrupção na Petrobras. Além disso, os ativos não foram declarados ao fisco. Segundo informações preliminares, mais de 16 milhões de reais passaram pelas contas de Cunha e seus familiares, que estavam em nome de empresas offshore sediadas em paraísos fiscais.

Mais informações
Cunha inicia ofensiva para tentar se manter politicamente vivo
STF entra de cheio na batalha de Brasília e estende agonia da crise
Supremo freia Cunha por impeachment e Governo ganha tempo
Suíça detalha caminho do dinheiro e fecha o cerco sobre Cunha
“Quero desmentir”, a expressão preferida do deputado no Twitter

A TV Globo divulgou hoje cópias do passaporte do parlamentar - que teria sido usado na abertura das contas - e um documento do banco Merril Lynch na Suíça assinado por ele. São as primeiras provas concretas que embasam as denúncias contra o peemedebista tornadas públicas. No despacho enviado ao STF, o procurador-geral em exercício, Eugênio Aragão, afirma que os indícios de que os ativos são de Cunha são grandes: "Há cópias de passaportes - inclusive diplomáticos - do casal, endereço residencial, números de telefones do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto”. Segundo o Ministério Público, "há indícios suficientes de que as contas no exterior não foram declaradas pelas pessoas mencionadas e, ao menos em relação Eduardo Cunha, de que são produto de crime”. Mesmo que o dinheiro depositado não fosse fruto de ação criminosa, não declarar patrimônio no exterior ao fisco configura delito.

O episódio das contas na Suíça pode custar a Cunha o seu mandato. Isso porque ele afirmou, perante a CPI da Petrobras, que não possuía dinheiro no exterior. Caso fique provado que ele mentiu, a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar pode cassar o mandato. O PSOL e a Rede Sustentabilidade já entram com um pedido para que o acaso seja analisado – 64 parlamentares assinaram o documento, nenhum da oposição. Mesmo após a divulgação de um documento assinado pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, de que as contas de fato são de Cunha, ele sempre negou a titularidade. Nos bastidores correm informações de que ele estaria negociando com o PT a leniência do Governo com relação ao episódio em troca de não aceitar pedidos de impeachment contra Dilma. O Planalto e o peemedebista negam.

A PGR pediu o bloqueio das contas - que já havia sido feito pelas autoridades suíças -, já que como o processo foi transferido para o Brasil existia o risco do desbloqueio. O pedido feito ao Supremo tem como ponto de partida uma série de documentos enviados pela Justiça do país europeu à PGR no começo do mês. Além das contas que são objeto do inquérito, o Ministério Público informou que outras duas contas na Suíça que tinham Cunha como beneficiário foram fechadas após o início da Lava Jato. Uma delas chegou a transferir mais de 1 milhão de dólares para a conta de Cláudia Cruz.

Outras duas contas na Suíça que tinham Cunha como beneficiário foram fechadas após o início da Lava Jato

No texto, o Ministério Público também elenca uma série de veículos de luxo em nome da Jesus.com, uma das empresas do casal, incluindo um Porsche Cayenne avaliado em 122.000 reais. Ainda no despacho consta que as informações fornecidas pelos bancos suíços indicam que deputado tinha ativos no exterior há mais de 20 anos no Merril Lynch. Uma avaliação do perfil de risco do peemedebista afirma que ele tem “perfil agressivo de investimento, e com interesse em crescimento patrimonial”.

Além disso, a PGR aponta que o patrimônio do deputado cresceu 214% em 12 anos. A declaração de patrimônio feita por ele em 2014 à Justiça Eleitoral trazia o valor de 1,6 milhão de reais. Em 2002 o valor declarado era de 525.000.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_