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Uber quer voar no México

Empresa de transporte estuda oferecer serviço de helicóptero na capital mexicana

Luis Pablo Beauregard
O helicóptero turístico da Cidade de México.
O helicóptero turístico da Cidade de México.Gobierno del Distrito Federal

O tráfego, na Cidade do México, é uma questão de sorte. A distância entre Santa Fé, moderna região localizada na zona oeste do Distrito Federal, e o centro financeiro da capital, pela avenida da Reforma, é de apenas 16 quilômetros. Com sorte, o percurso pode ser feito em 15 minutos. Nos horários de pico, porém, o mesmo trajeto pode levar pelo menos uma hora e meia para ser percorrido. Segundo o Governo do Distrito Federal, o transporte por helicóptero poderá se tornar rapidamente uma realidade pelas mãos da Uber, a conhecida empresa de transporte.

O Fundo Misto de Promoção Turística do Distrito Federal foi encarregado de apresentar as vantagens da cidade para os presentes ao International Luxury Travel Market (ILTM), versão americana da principal feira de turismo de luxo do mundo. Os representantes do órgão, encarregado de divulgar a capital nos eventos internacionais, falaram sobre o novo aeroporto da cidade, concebido por Norman Foster e Fernando Romero. Também mostraram detalhes sobre a reforma da Masarik, uma das ruas mais sofisticadas da capital. Mas foi a menção ao transporte de luxo que mais chamou a atenção dos participantes.

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“Eles revelaram que a Cidade do México deverá contar em breve com o serviço do Uberchopper; que será possível pedir um helicóptero como se pede um carro da Uber”, disse Minerva Padilla, agente de turismo de Tijuana presente ao evento. “Achei muito interessante. Sei que o Uber está mudando a forma de as pessoas se locomoverem nas cidades, mas não sabia que já ofereciam esse serviço. Parece bastante exótico”, comenta.

Testes em outras cidades

“Até onde sabemos, é algo que será implementado na Cidade do México”, afirma Rafael Hernández, que proferiu a palestra em nome do Fundo Misto de turismo da capital para agentes de viagens nacionais e estrangeiros. “O Uber nos informou que está adequando os seus produtos às necessidades das cidades onde tem obtido bastante sucesso. O Uberchopper já foi experimentado por eles em São Paulo. Não que o aplicativo mostre os helicópteros que estejam próximos, mas com ele é possível fazer uma reserva”, explica.

Confusão na Argentina e na Colômbia

A polêmica criada em torno do Uber se estende a outros países da América Latina. Os taxistas de Buenos Aires, um setor numeroso e bem organizado, conseguiu, até o momento, impedir a chegada do Uber à Argentina. A empresa começou a fazer movimentos discretos para se instalar naquele país em fevereiro, quando usou a rede Linkedin para tentar recrutar trabalhadores.

Os taxistas de Buenos Aires e a imprensa perceberam a iniciativa, o que deu origem a uma enorme polêmica, a partir da qual os sindicatos se mobilizaram para exigir do prefeito da capital, Mauricio Macri, também candidato às eleições presidenciais, que se comprometesse em vetar a entrada do Uber na cidade. Houve reuniões bastante tensas, mas não foi necessário que se chegasse a um compromisso formal. Após a polêmica, a própria empresa comunicou, por meio de um porta-voz oficial, que não tem previsão de data para sua entrada na Argentina.

O setor de táxis ocupa um posto chave na economia de Buenos Aires, megalópole onde esse sistema de transporte, antes muito barato – agora já não é tanto assim, em decorrência da inflação –, é bastante popular. A capital argentina é, com efeito, uma das cidades com a maior quantidade de táxis do mundo – sendo grande parte deles dirigida por aposentados que usam a atividade como forma de complementar sua pensão. Há na cidade mais de 38.000 alvarás de táxis.

Na Colômbia, o debate voltou à tona algumas semanas atrás, após a divulgação, por uma usuária do Uber, de um vídeo em que ela aparece sendo agredida por taxistas que exigiam que saísse do veículo, argumentando a ilegalidade da atividade. A empresa registra mais de 10.000 carros associados e mais de 150.000 usuários em Bogotá, Cali, Medellín e Barranquilla. É cada vez mais comum ouvir pessoas dizendo que encontram no Uber a rapidez, a segurança e uma boa qualidade de serviço que não encontram nos táxis tradicionais. Ao mesmo tempo, o sindicato dos taxistas se queixa de concorrência desleal. Por isso, o Executivo tem procurado chegar a algum tipo de consenso que possibilite a regulamentação do serviço.

Algo semelhante a isso já foi feito pelo Uber no México. Em meados de setembro, a empresa fez uma promoção por ocasião da comemoração do mês da pátria que previa uma viagem de helicóptero de Guadalajara, capital de Jalisco, até Tequila. A viagem para a região onde se produz a famosa bebida custava 3.500 pesos (cerca de 850 reais) por casal e só estava disponível para usuários frequentes que tivessem feito pelo menos 15 viagens de automóvel com o uso do aplicativo.

Luis de Uriarte, porta-voz do Uber no México, explica: “Podemos fazer isso a qualquer momento”. Mas acrescenta que o Uberchopper, testado em São Paulo, Lisboa, Cidade do Cabo, Los Angeles e Rio de Janeiro, não funciona da maneira como os funcionários de turismo do Distrito Federal imaginam. “São pontuais, e em circunstâncias muito específicas. Para o Uber, é muito importante incentivar as cidades e fomentar o turismo”.

O Uber e a Cidade do México vivem uma lua-de-mel após vários meses de conflito. Como em outras grandes cidades do mundo, os taxistas inicialmente rejeitaram a chegada da empresa, vista por eles como uma concorrência desleal. O Governo do DF se viu obrigado a regulamentar o serviço. As unidades precisam estar cadastradas junto às autoridades e 1,5% do valor de cada viagem deve ser depositado em um fundo destinado à mobilidade, aos táxis e aos pedestres. O Uber avaliou esse acordo como “pioneiro” e vem consolidando a presença na capital mexicana, a décima maior operação da empresa no mundo, com 500.000 usuários.

O transporte por helicóptero tem adquirido popularidade na capital. Os executivos o utilizam para evitar os congestionamentos nas avenidas, onde a velocidade média nos horários de pico é de sete quilômetros por hora. A proliferação de helipontos no alto dos edifícios da Reforma, considerada a via mais cobiçada da cidade, multiplicou as opções para os homens de negócios. Algumas empresas oferecem o serviço por 1.062 pesos, cerca de 250 reais (a hora de voo custa 4.250 pesos, cerca de 1.000 reais).

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