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Obama acena a Putin na ONU por causa do impasse no conflito da Síria

Presidente desconfia da ação militar e diplomática do líder russo em defesa de al-Assad

Marc Bassets
Barack Obama.
Barack Obama.TIMOTHY A. CLARY (AFP)

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o líder russo Vladimir Putin transferiram nesta segunda-feira sua rivalidade para a sede das Nações Unidas, em Nova York. Em discursos na Assembleia Geral da ONU, seguidos de uma reunião bilateral, Obama e Putin abordaram a guerra civil na Síria, que causou mais de 200.000 mortos e quatro milhões de refugiados.

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O ativismo militar e diplomático da Rússia nos últimos dias preocupa a Administração Obama, paralisada entre a luta contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI) e a oposição ao regime de Bashar al-Assad, a quem os EUA atribuem o início da guerra.

"Os Estados Unidos estão dispostos a trabalhar com qualquer nação, incluindo a Rússia e o Irã, para resolver o conflito", disse Obama à Assembleia Geral. "Mas não pode haver, depois de tanto sangue e matanças, um retorno ao status quo anterior à guerra.” O presidente dos EUA disse que, por realismo, será preciso aceitar compromissos, mas também uma transição para um governo na Síria sem al-Assad.

Há dois anos Obama e Putin não se reuniam e há pelo menos um  não se cruzavam em uma cúpula

Há dois anos Obama e Putin não realizavam uma reunião formal e há quase um ano não participavam de um encontro internacional. O conflito na Ucrânia, entre acusações mútuas de interferência, e a anexação da província ucraniana da Crimeia pela Rússia em 2014 esfriaram a relação entre os dois líderes. Obama tentou isolar Putin e, com seus parceiros europeus, impôs sanções econômicas. A Síria oferece à Rússia a oportunidade de desempenhar um papel importante no Oriente Médio diante da paralisia dos EUA e da União Europeia na Síria.

A Rússia enviou tropas e aviões para a Síria. Neste fim de semana, chegou a um acordo com o Iraque, Irã e com a Síria para compartilhar informações na guerra contra o EI. O intervencionismo russo coincide com a chegada diária na Europa de dezenas de milhares de refugiados provenientes de países em conflito, entre eles a Síria e o Iraque, parcialmente ocupados pelos jihadistas.

O acordo das potências da ONU com o Irã —aliado, como a Rússia, de al-Assad— permite, no papel, acelerar a cooperação contra o EI, objetivo comum de norte-americanos, russos e iranianos, mas Washington e Moscou discordam no diagnóstico sobre as causas da guerra civil e suas soluções.

Obama quer usar sua reunião com Putin para "entender" como o crescente envolvimento da Rússia na Síria servirá para resolver o conflito. Os EUA, que há um ano estão bombardeando posições islamistas, acreditam que a brutalidade do regime de al-Assad tem alimentado militantes islâmicos violentos e, portanto, não há solução para a guerra sem uma transição política que, a longo prazo, tire al-Assad do poder. A Rússia discorda. O país argumenta que, para derrotar o Estado Islâmico, é necessário aliar-se ao regime de al-Assad.

Síria oferece à Rússia a oportunidade de ter um papel relevante no Oriente Médio ante a paralisia dos EUA e da União Europeia no conflito

A estratégia de Obama, além dos bombardeios contra o EI na Síria e no Iraque, consistiu em um plano para treinar e armar grupos de rebeldes que se opõem a al-Assad e aos jihadistas. O plano fracassou. Pretendia treinar mais de 5.000 militantes. Apenas quatro ou cinco estão em combate.

Quando a guerra na Síria começou, em 2011, os EUA exigiram a saída de al-Assad. Dois anos depois, Obama estava prestes a pedir uma intervenção contra o ditador sírio. No último minuto, suspendeu o ataque. Os avanços do EI forçaram uma mudança de estratégia e transformaram al-Assad em um aliado de fato dos EUA contra os jihadistas. Agora, a Administração Obama admite que possa ter um papel durante a transição.

O encontro com Obama tira Putin do ostracismo no qual o presidente norte-americano tentou colocá-lo desde a separação da Crimeia e o coloca no centro de todas as conversas esta semana em Nova York.

Há anos que a Assembleia Geral da ONU —o encontro que reúne todo mês de setembro os representantes de mais de 140 países— não reunia tantos líderes, entre eles o presidente do Irã, Hassan Rohani; Putin, que há dez anos não discursava perante a Assembleia; e o cubano Raúl Castro, que nunca havia participado e planeja se encontrar com Obama nesta terça-feira.

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