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Separatistas ganham as eleições catalãs mas perdem seu plebiscito

Junts pel Si, a coligação do presidente da região, Artur Mas, garante maioria absoluta no Parlamento, mas não conseguiram chegar aos 50% dos votos em números absolutos

Artur Mas celebrando a vitóriaFoto: atlas
Miquel Noguer

Os partidos que apoiam o separatismo da Catalunha, região mais rica e populosa da Espanha, viram concretizar-se, no domingo, dia 27 de setembro, seu objetivo de vencer as eleições regionais sem deixar margem para dúvidas. A coalizão Junts pel Sí (Juntos pelo Sim) e Candidatura de Unidade Popular (CUP)  obtiveram 72 das 135 cadeiras em disputa do Parlamento autônomo. Mas os dois partidos não conseguiram chegar aos 50% dos votos em números absolutos. Isso porque as eleições são proporcionais, como no caso das eleições para o Congresso no Brasil. Um eleitor de um Estado mais populoso demanda mais votos que um representante de um Estado com menos votantes. Assim, regiões com menor densidade populacional lograram eleger mais representantes independentistas do que outras mais populosas.

O resultado pode animar o Governo espanhol a deter o plano separatista liderado pelo atual presidente catalão Artur Mas, do partido Convergência Democrática da Catalunha, que integra o Junts pel Sí.

Artur Mas e o grupo independentista tinham proposto para o dia 27 de setembro um plebiscito sobre a independência, algo que os demais partidos acabaram acatando, mas já avisando previamente que nunca aceitariam a secessão unilateral. A candidatura de Mas venceu as eleições sem dúvida, mas não o plebiscito, já que o separatismo ficou com 47,8% dos votos em números absolutos. Contudo, a vitória dos separatistas nas eleições é inapelável.

Com 97,8% dos votos apurados, Junts pel Sí conseguiu 62 cadeiras, às quais se somam as dez da CUP. Com 72 das 135 vagas em disputa, o separatismo tem a maioria absoluta do Parlamento, mas agora terá de lidar com a falta de uma maioria popular clara, com um Governo hostil e, a partir de agora, com a heterodoxa composição tanto do Junts pel Sí como da CUP. Na verdade, de agora em diante estará em jogo inclusive a continuidade de Mas, pois a CUP garantiu que não pretende votar favoravelmente à sua candidatura, algo que os resultados da eleição tornam imprescindível. Esta situação se refletia no rosto do presidente, muito tenso, que contrastava com a algazarra das bases que defendem a soberania. Ao mesmo tempo, o candidato da CUP, Antonio Baños, lançou um aviso: “Artur Mas não é imprescindível”.

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O presidente catalão disse que conta com “grande legitimidade” para avançar no sentido da independência e pediu ao Governo “que aceite a vitória da Catalunha e do sim”. Também negou que devam ser contados os votos em vez de as cadeiras. “Se tivéssemos feito um referendo como o escocês, teríamos contado apenas os votos”, disse.

Nesta segunda-feira, começarão as negociações entre o Junts pel Sí e a CUP. Os dois partidos têm o objetivo de chegar à independência da Catalunha, mas divergem na forma e nos tempos de fazê-lo, o que pode complicar muito a situação.

O projeto de Artur Mas e Oriol Junqueras, líder do também independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), começa com uma declaração de início do processo de independência, que se realizaria no Parlamento autônomo nas primeiras semanas da legislatura. O conjunto do plano no sentido da independência estaria concluído em 18 meses. A CUP, por sua vez, é partidária de uma declaração de independência imediata e de uma ruptura geral com o atual sistema político.

Ciudadanos, a segunda coligação, destronou o Partido dos Socialistas da Catalunha (PSC) e o Partido Popular, do presidente espanhol Mariano Rajoy, como principais formações contrárias à independência da Catalunha. O partido Ciudadanos foi o grande vencedor da noite, apesar de ficar a quase 40 cadeiras do vencedor. O partido conseguiu o segundo posto do Parlamento catalão com 25 deputados, um resultado inimaginável para a formação de Albert Rivera há apenas dois anos. O Ciudadanos capitalizou, portanto, o voto dos contrários à independência para desespero dos socialistas, partido do ex-presidente Felipe González e, especialmente, do PP, que se viram relegados.

A candidata do Ciudadanos, Inés Arrimadas, fez na noite deste domingo uma declaração de intenções depois de se impor como segunda força em boa parte das grandes cidades. Pediu a demissão de Mas e novas eleições na Catalunha argumentando que “a maioria do Ciudadanos deu as costas ao projeto independentista”.

Os outros partidos de âmbito nacional colheram maus resultados. Só o PSC salvou a pele graças à extraordinária mobilização do cinturão industrial de Barcelona, que levou à participação global de 77% dos catalães com direito a voto. O partido de Miquel Iceta perdeu quatro dos 20 deputados que tinha, um resultado medíocre que foi dissimulado pela falta de uma maioria absoluta do Junts pel Sí e pela queda do PP, que ficou no penúltimo lugar do Parlamento com apenas 11 deputados.

Também obteve um péssimo resultado a união entre Podemos e Iniciativa (Catalunya sí que es Pot, em português Catalunha Sim, É Possível). A coligação que tinha apoiado o líder do Podemos, Pablo Iglesias, ficou com 10 cadeiras, três a menos do que as que conseguiu sozinho o ICV há três anos. Isso obrigará a uma nova estratégia do Podemos com vistas às eleições gerais e a sua expansão territorial. Pior ainda foi a Unió Democràtica, a cisão do CiU, que se apresentou com um programa nacionalista não separatista. Não obteve sequer um deputado. Seu líder, Josep Antoni Duran, colocou o cargo à disposição do partido.

O resultado será complicado de administrar tanto para os ganhadores como para o Governo. O Executivo de Mariano Rajoy, satisfeito pela falta de uma maioria independentista em votos, não pensa em fazer nada até as eleições de dezembro. As urnas dirão depois quem deve liderar a pasta catalã.

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