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Banco da Espanha vê risco de ‘corralito’ se a Catalunha se separar

Governador do Banco espanhol, Luis Linde, diz que entidades não teriam acesso ao BCE Mas se trata de uma ‘condição muito improvável’

O governador do Banco de Espanha, Luis María LindeFoto: atlas | Vídeo: EFE/ATLAS

A independência catalã é um tema que volta à tona com força total às portas das eleições do parlamento da Catalunha, que acontecem em 27 de setembro próximo. Apesar de serem eleições legislativas, as urnas assumem a temperatura do momento e ganham força de plebiscito – à medida em que se fortalecem os ânimos tanto a favor como contra a separação dessa região do resto da Espanha. Assim se posicionam sobretudo os catalães, já que um plebiscito de fato foi considerado inconstitucional pela Justiça espanhola.

As disputas políticas são intensas, especialmente porque os grupos de lado e lado – os independentistas e os contrários à independência – são muito heterogêneos, com expectativas difíceis de conciliar. E a economia, é claro, se ressente dos efeitos dessa que é uma briga histórica. O governador do Banco Central espanhol, Luis María Linde, advertiu que há “risco” de corralito se a Catalunha se tornar independente da Espanha. Segundo ele, cenários em que existe uma tensão grave podem desembocar nessas situações, sofridas por países latino-americanos e mais recentemente pela Grécia. O corralito é um controle de capitais que impede que os correntistas possam dispor dos fundos que têm em suas contas bancárias.

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Em um café da manhã informativo organizado pela Europa Press, o governador ponderou que, embora seja uma possibilidade, um risco, trata-se de uma “condição altamente improvável”, em sua opinião. Em novembro de 2013, o funcionário disse que a independência da Catalunha levaria à falência de seus bancos. “A saída da União Europeia (UE) implica automaticamente a saída do euro. É um procedimento automático”, explicou.

O presidente da Generalitat (governo regional) da Catalunha, Artur Mas, criticou Linde por suas declarações. “É irresponsável e indecente ameaçar com coisas que ninguém num país democrático se atreveria a insinuar. Fazem isso porque não têm outro argumento”, afirmou. “Há pessoas que têm o poder e não querem perder o assento, como o governador do Banco da Espanha. Pessoas a serviço do Estado que não querem perder o poder”, disse.

No entanto, um relatório da própria Generalitat advertiu em 2013 sobre o risco de corralito numa hipotética secessão. A advertência figura no documento Internacionalização da Consulta e do Processo de Autodeterminação da Catalunha, um dos cerca de 20 elaborados pelo Conselho Assessor para a Transição Nacional, o grupo de especialistas criado há dois anos pela Generalitat para preparar o cenário da secessão da Catalunha.

Viabilidade do Estado

Artur Mas aumenta a contundência de suas respostas à medida que se aproxima a eleição de 27 de setembro. Quando lhe perguntaram sobre a viabilidade da economia catalã como Estado separado, o governador do Banco da Espanha limitou-se a dizer que há países “menores”, embora indicando que se trata de uma apreciação “teórica e uma pergunta sem interesse”.

O Conselho Assessor para a Transição Nacional, órgão criado por Mas para estudar o caminho à independência e suas consequências, advertiu num de seus relatórios sobre o risco de corralito. Um aviso que o candidato do PP, Xavier García Albiol, reiterou em campanha. Mas amparou-se na redação explícita do relatório para insistir que não ocorrerá essa situação. O documento afirma que “a estratégia do Governo espanhol de criar resistência e a resposta cidadã na Catalunha podem chegar a criar uma situação de grande instabilidade financeira (incluindo a possibilidade de um corralito): de fato, essa possibilidade é usada pela Espanha para dissuadir a Catalunha a avançar no processo de autodeterminação.” Mas afirma que o documento inclui essa hipótese embora seja “inimaginável”. “O Governo espanhol quer que haja problemas financeiros na UE? É inimaginável, faz parte [da estratégia] de influir no voto tanto quanto for possível, para que o medo triunfe.”

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