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Tsipras pede aos gregos uma segunda oportunidade no governo

As últimas pesquisas, que dão uma ligeira vantagem ao ex-premiê no domingo

Tsipras e Iglesias durante o comício em Atenas.Foto: atlas | Vídeo: PAUL HANNA (Reuters)
María Antonia Sánchez-Vallejo

Acolhido por representantes da esquerda europeia, entre os quais Pablo Iglesias, o líder do Podemos, Alexis Tsipras, ex-primeiro-ministro da Grécia, pediu na sexta-feira a milhares de simpatizantes concentrados no encerramento da campanha do Syriza, em Atenas, uma segunda oportunidade para “poder continuar a luta por um país mais justo, soberano e livre dos obstáculos do passado”. Na última vez em que tinha pisado na praza Sytagma ele pedira um maciço oxi (não) no referendo que seria realizado dois dias depois, em 5 de julho. Na sexta-feira ele se mostrou convencido de que no domingo o Syriza “receberá seu terceiro mandato em um ano, desta vez, o definitivo”.

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Como vinha fazendo durante a campanha, Tsipras propôs romper definitivamente com o passado, encarnado em seu principal adversário, o conservador Vanguelis Meimarakis, que, segundo as pesquisas, disputará a vitória com ele até o último voto no domingo. “O Governo do Syriza não vai ser um parêntese na história da Grécia, como pretenderam muitos em obscuros escritórios. Enganaram-se. Não nos renderam nem sequer com a asfixia creditícia e os bancos fechados. E voltarão a se enganar agora aqueles que acreditam que o povo não nos dará seu apoio maciço para governar. Vamos governar outra vez.”

Tsipras se referiu várias vezes no comício à batalha que a Grécia travou nas negociações com os parceiros da União Europeia. Para Pablo Iglesias, o exemplo dessa luta foi tamanho que não teve dúvida em qualificá-lo como um “leão”. “No domingo na Grécia vencerá a esperança. O rosto da desesperança é o de Mariano Rajoy”, declarou à mídia espanhola antes do comício. “Os gregos escolherão no domingo a volta ao passado ou continuar com um futuro que nos permita imaginar uma Europa mais justa, uma Europa social que defenda os direitos das pessoas diante do excessivo poder dos poderes financeiros”, disse Iglesias, que vê no Syriza um exemplo que será seguido pelo trabalhismo de Jeremy Corbyn e o Sinn Féin.

"Negociar é enormemente difícil. O que os gregos têm claro é que Alexis tem sido um leão, um leão defendendo sua gente, um leão dando a cara pela Grécia”, acrescentou. Por esse motivo, argumentou, os gregos voltarão a respaldá-lo nas urnas, para não “voltar ao passado, para não voltarem a assumir posições servis nem se ajoelharem diante da Alemanha”. O secretário-geral do Podemos recordou o referendo de julho: “Tsipras demonstrou algo que nenhum dirigente na Europa fez. Perguntou às pessoas”. Iglesias não deu importância à dissidência no interior do Podemos, onde alguns dirigentes apoiaram publicamente a Unidade Popular, uma cisão do Syriza, liderada pelo ex-ministro Panayotis Lafazanis. “A posição do Podemos é clara: apoiamos Tsipras”, disse.

Apagão nas pesquisas de opinião

  • À meia-noite de sexta-feira entrou em vigor o apagão nas pesquisas. Não há dia oficial de reflexão (as sedes dos partidos continuam abertas), mas está proibida a difusão de sondagens de opinião.
  • Somente uma pesquisa entre as seis divulgadas na sexta-feira, a primeira do dia, contempla a vitória da conservadora Nova Democracia.
  • A última divulgada dá uma vantagem de 2,5 pontos ao Syriza.
  • A que para muitos é a mais confiável –acertou em janeiro- concede 27,4% ao Syriza e 26,9% à Nova Democracia.
  • O virtual empate entre os partidos mais votados complicará a formação de um governo estável, embora o ganhador receba um bônus de 50 cadeiras, independentemente do porcentual de apoio que conquiste e da diferença para o segundo colocado.
  • Entre os indecisos, cujo porcentual ainda oscila entre 10% e 15%, segundo as pesquisas, há uma maioria de eleitores do Syriza em janeiro.
  • A Nova Democracia tem 84% de seus eleitores de janeiro, enquanto o Syriza só havia mantido, nas pesquisas, o apoio de 64% dos que então lhe deram o voto.

Na mesma hora em que saíram as últimas pesquisas antes do apagão na divulgação de sondagens de opinião, à meia-noite –uma das mais confiáveis, segundo os especialistas, a do MRB para a Star TV, dá para Tsipras somente meio ponto de vantagem–, um Tsipras firme e decidido, “sem sombra de dúvida ante a vitória de domingo”, enfrentou o que bem pode ter sido seu comício mais difícil, depois de uma campanha breve e dominada pelo desânimo. Até o último momento seu objetivo foi mobilizar a camada de indecisos. Às vésperas do dia da votação, o Syriza tinha garantido o apoio de 64% dos seus eleitores de janeiro, enquanto seu rival, a Nova Democracia, contava com 84%. A afluência ao ato de encerramento foi modesta, em conformidade com a apatia reinante durante a campanha eleitoral.

Durante o comício, Tsipras não fez referência a acordos concretos, mas sim à sua firme negativa em colaborar com a Nova Democracia. “Hoje não cabe falar do dia seguinte nem de pactos, isso já se verá”, explicava entre os assessores Yorgos Vasiliadis, dirigente do Syriza e secretário de Estado contra a Corrupção. “O Syriza vai ganhar de maneira clara e contundente, apesar do que dizem as pesquisas. As sondagens na Grécia se enganam muito, como foi demonstrado no referendo. Há indecisos, mas pelos dados que temos a maioria deles acabará votando no Syriza.” Ali perto, Konstantinos Spanos, militante, atribuía pouca importância ao desalento dos eleitores do partido. “Ao perder uma batalha não se perde a guerra. E na Grécia a guerra apenas começou. Neste país inventamos a maratona, somos corredores fundistas, não dos 100 metros. Seguiremos adiante, de novo.”

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