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Milhares de refugiados entram na Croácia após bloqueio húngaro

Alemanha recebe 7.266 imigrantes em 24 horas, o dobro do que no dia anterior

Foto: reuters_live | Vídeo: Vídeo y Bernardo Pérez
ÓSCAR GUTIÉRREZ

A chegada de refugiados à Croácia se intensificou depois que a Hungria fechou suas fronteiras. A polícia croata afirmou nesta quinta-feira que 6.200 migrantes entraram no país nas últimas horas. A cifra supera as previsões do próprio Governo croata, que na quarta-feira calculou que 4.000 deles chegariam nos próximos dias a caminho da Eslovênia e de lá para a Áustria e Alemanha, onde o ritmo de desembarques também voltou a crescer. Na quarta-feira, as autoridades alemãs registraram a entrada de 7.266 imigrantes e refugiados, o dobro do número verificado na véspera. A Croácia está encaminhando os migrantes para centros de refugiados próximos a Zagreb, a capital, mas o primeiro-ministro Zoran Milanovic advertiu que o seu país não tem capacidade para acolher os 20.000 estrangeiros previstos.

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Boa parte dos refugiados que chegam à Croácia passa por Sid, localidade sérvia próxima à fronteira. A maioria dos que desciam dos ônibus na quarta-feira haviam embarcado na localidade de Horgos, no nordeste da Sérvia, um ponto de acesso à fronteira com a Hungria –que agora está fechada. Lá, as forças de segurança húngaras lançaram gás lacrimogêneo contra refugiados que aguardavam no lado sérvio para tentar cruzar a fronteira. A posição húngara já causou um duro golpe para o êxodo de migrantes. “Não estou triste, e sim decepcionado”, dizia o sírio Said, de 19 anos, a poucos metros de pisar na Croácia.

A cena era a seguinte: chegava um ônibus, desciam cerca de 50 refugiados que eram orientados a seguir por um caminho de terra, entre milharais, e dois quilômetros depois –tudo isso a pé, ainda em território sérvio– atravessavam uma fronteira sinalizada por três veículos da polícia croata. Durante boa parte da quarta-feira os refugiados continuaram chegando, num lento e regular conta-gotas. Mas à tarde, à medida que se espalhava a informação de que era possível passar pela Croácia para seguir o trajeto interrompido na véspera pela Hungria, começou a crescer o número de ônibus que chegavam a Sid trazendo refugiados e migrantes. “Quantos ônibus estão vindo?”, perguntava um agente croata a um jornalista recém-chegado. Quatro ônibus acabavam de chegar. “Quatro?!”, espantou-se. O congestionamento naquela fronteira era questão de tempo.

Rotas migratórias.
Rotas migratórias.

Uma coisa os refugiados que chegam à Europa já deixaram claro: todos eles querem alcançar o seu destino. Se uma fronteira é fechada, como fez a Hungria, quem seguia para o norte tentava encontrar um atalho pelo oeste. Se por lá não houvesse maneira, bateriam à porta de outro país. E agora é a vez da Croácia, que, como já anunciou o premiê Milanovic, permitirá a passagem de todos os refugiados que desejarem seguir seu rumo, possivelmente na direção da Eslovênia.

O sírio Said não entende como a situação chegou a este ponto. Caminhando na quarta-feira em direção à fronteira da Sérvia com a Hungria, encontrou um jornalista húngaro à beira de um milharal e lhe perguntou: “Por que o seu país faz isto?”. Não havia resposta. Então ele sussurrou: “Seu primeiro-ministro é um racista”.

A história de Said é a história recente do seu país. Estudava Economia em Latakia, berço da família do presidente Bashar al Assad e da poderosa minoria alauíta, uma variação do islamismo xiita. “Ainda é o lugar mais seguro da Síria”, garante Said. Mas a guerra e o controle “mafioso” que os alauítas impõem nessa província litorânea –“cinco famílias controlam tudo”, reitera o jovem– o levaram a partir. Ele é sunita, mas viaja com um amigo alauíta.

Zona minada

Por volta das 17h (12h em Brasília), Said chegou à última encruzilhada da estrada que separa, entre lavouras, os territórios da Sérvia e Croácia. Como todos os outros, foi colocado em um dos três furgões policiais que esperavam a chegada dos migrantes. O grupo foi então levado ao povoado de Tovarnik, já na Croácia.

As autoridades croatas enviaram na quarta-feira uma equipe de retirada de minas terrestres à zona fronteiriça para assegurar que áreas minadas durante a guerra de independência do país (1991-95) estejam devidamente sinalizadas. Pelo caminho avançava outro grupo de refugiados sírios, vindos de Aleppo, uma das frentes mais conflagradas da guerra. Seus rostos eram um fiel reflexo da exaustão. Mas Majid, de 17 anos, e Mustafá, de 14, não escondiam o sorriso no rosto. Iam tão apressados que a polícia precisou ordenar que parassem para não passarem reto.

Às 18h, o improvisado centro de acolhida de Tovarnik estava quase lotado. Sua capacidade é de aproximadamente 500 pessoas, e lá dentro 450 refugiados esperavam para se registrar. De lá, ônibus fretados pelo Governo croata saíam regularmente levando os migrantes registrados a um acampamento em Jezêvo, já na periferia de Zagreb, a 200 quilômetros. E, se as palavras de Milanovic forem cumpridas, de lá todos prosseguirão para a Eslovênia.

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