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Alemanha ameaça os países que se opõem às cotas de refugiados

Governo acusa a UE de se expor ao ridículo; sugere cortar fundos de quem não for solidário

Luis Doncel
O chanceler alemã, Angela Merkel, e o número dois de seu Governo, Sigmar Gabriel, em Berlim o passado 2 de dezembro.
O chanceler alemã, Angela Merkel, e o número dois de seu Governo, Sigmar Gabriel, em Berlim o passado 2 de dezembro.JOHN MACDOUGALL (AFP)

Há meses que o Governo alemão tenta convencer os países membros da União Europeia em acertar uma distribuição mais equitativa dos refugiados. Mas depois que os ministros do Interior não conseguiram entrar em acordo por um sistema de cotas e em plena crise que levou países como a Alemanha, Áustria e Eslováquia a colocar controles na fronteira, Berlim agora aumenta o tom e ameaça com represálias se os países da UE –especialmente os do Leste, entre eles a Hungria, República Tcheca e Eslováquia, os mais contrários às cotas obrigatórias– não cederem.

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O Governo de Angela Merkel resistiu até agora, pelo menos diante dos microfones, em lançar acusações duras contra os países da Comunidade Europeia e em anunciar medidas de pressão. Essa atitude já mudou.

“Não acontece nada aos países que se negam [a aceitar cotas]. Por isso precisamos começar a falar de medidas de pressão”, disse o ministro do Interior, o democrata-cristão Thomas de Maizière, em uma entrevista ao canal de televisão ZDF.

De Maizière acrescentou que “a minoria não solidária” é formada por países que recebem muitos fundos estruturais”, indo na mesma direção do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker: aqueles que se negarem a aceitar uma determinada porcentagem de refugiados poderão sofrer alguma represália econômica. “Se não encontrarmos um caminho, teremos um problema muito grande na Europa”, concluiu o ministro.

Nesta terça-feira, a Comissão Europeia afirmou que “não há base legal” para reduzir ajudas estruturais aos países que rejeitem acolher refugiados. “Os acordos de cooperação e programas operacionais para o atual período de programação não oferecem uma base legal para reduzir os fundos estruturais e de investimento europeus atribuídos”, explicou, em uma entrevista coletiva, o porta-voz do Executivo comunitário, Margaritis Schinas, ao ser perguntado pela proposta alemã.

O número 2 do Governo e líder dos socialdemocratas, Sigmar Gabriel, também usou palavras duras para descrever o que ocorreu na segunda-feira, em Bruxelas. “A Europa voltou a fazer um papel ridículo”, afirmou Gabriel, que no dia anterior tinha elevado a 1 milhão o número de pedidos de asilo que a Alemanha poderá receber este ano, em vez da atual previsão oficial de 800.000.

O vice-chanceler considera inaceitável que a Alemanha se torne o “pagador de toda a Europa” e que o restante dos países “participe quando se trata de receber dinheiro mas não quando precisa assumir responsabilidades”. Gabriel afirmou que a atual crise imigratória representa uma ameaça maior que a da Grécia.

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