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María Dueñas: “Queria falar sobre o homem que perdeu tudo e ressurge”

Escritora espanhola veio ao Brasil lançar seu terceiro romance, La Templanza

Patricia Peiró
María Dueñas, em Segóvia.
María Dueñas, em Segóvia.Javier Salcedo

Personagens que vão e vêm e que, quando voltam, se transformaram. Quase se arruínam, se apaixonam, ressurgem de suas cinzas, percorrem o mundo. Países que um dia foram colônias e se convertem em jovens repúblicas, revoluções que alteram a ordem estabelecida. Para a escritora espanhola María Dueñas (Puertollano, 1964), são tão importantes as circunstâncias internas como as que rodeiam seus protagonistas, e concebe uma realidade na qual nada é estático. Seu último romance, La Templanza (A Temperança), se desenvolve em três cenários muito distintos: um México recém-independente, uma Cuba em seus últimos anos de colônia e uma Jerez para onde voltam os emigrantes espanhóis. “Os personagens e os entornos em movimento me interessam”, afirmou no Hay Festival Segóvia, um encontro literário realizado este mês na cidade espanhola, antes de seguir para o Brasil, onde promove seu último livro e participa, neste sábado, de bate-papo na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis, às 15h.

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A escritora confessara minutos antes da declaração, dada no Palácio de Quintanar, que é do tipo que precisa de uma organização rígida de trabalho para elaborar suas obras. E uma boa parte da preparação diz respeito ao processo de pesquisa. “Para escrever esse livro visitei Jerez muitas vezes, conheci os descendentes das grandes famílias bodegueiras, estudei não só a História com maiúscula, mas também com minúscula: livros de memórias, cartas, a imprensa da época...”. La Templanza narra a história de Mauro Larrea, um mineiro espanhol viúvo e com dois filhos que perde tudo de um dia para o outro e se vê obrigado a se mudar para Cuba. Acaba em Jerez após ganhar uma fazenda em uma partida de bilhar. Na cidade da Andaluzia conhece Soledad, uma mulher que transforma o seu mundo.

“Queria contar essa parte de um homem que perdeu tudo e ressurge, mas também mostrar essa outra cara, a do pai que vai para casa e tem uma relação especial com seus filhos”, afirma a autora. Para esse livro, Dueñas recuperou parte de suas raízes, uma vez que Puertollano é um enclave de mineração. “Minha filha inclusive se chama Bárbara, como a padroeira [dos mineiros]”, disse brincando. Para se documentar, mergulhou nos três lugares em que a história se ambienta. Em sua primeira viagem para fazer contato em Jerez para escrever a história chegou a ser reconhecida: “Eu estava sozinha, para começar a saber o que fazer, e a recepcionista do hotel me disse: ‘Você não vem escrever um livro aqui?’”. A escritora afirmou que, para ela, foi muito importante cheirar e passear pelas bodegas, algo que tentou transmitir no livro.

Um momento da palestra de María Dueñas em Segóvia.
Um momento da palestra de María Dueñas em Segóvia.Javier Salcedo

Um dos elementos que mais deu trabalho à autora foi refletir o modo de falar de lugares tão diferentes e, além disso, no século XIX. A escritora jogou com as diferentes expressões para que o leitor não sentisse estranheza com a linguagem que os protagonistas empregam: “também queria fazer um exercício de virtuosismo dialectal, tinha que ser compreensível para todo mundo”. Dueñas afirmou também que evita as descrições minuciosas de cada um dos acontecimentos e situações porque, segundo afirmou, “considero os leitores pessoas inteligentes e acho que não é necessário tanto detalhe”.

O terceiro livro de Dueñas foi lançado na Espanha em março e, desde então, figura no topo da lista dos mais vendidos. Seus dois primeiros, O tempo entre costura-se e A melhor história está por vir, venderam juntos mais de 5 milhões de exemplares em 35 idiomas. No Brasil, foram mais de 200 mil exemplares.

Filóloga de carreira, a escritora praticamente descartou a possibilidade de retornar a sua cadeira na Universidade de Murcia porque considera “impossível” combinar seu trabalho de escrita ao de professora.

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