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Juiz ordena prisão preventiva do ex-presidente Otto Pérez Molina

Ordem põe em segundo plano primeiro turno das eleições presidenciais de domingo Promotor pede a prisão do mandatário por suborno, associação ilícita e fraude

Jan Martínez Ahrens
Presidente Otto Pérez Molina é escoltado para a prisão.
Presidente Otto Pérez Molina é escoltado para a prisão.L. S. (AP)

Poucas vezes na história da América Latina um incêndio político se consumiu tão rápido. O general Otto Pérez Molina passou em 24 horas de presidente da República da Guatemala a preso preventivo. Em um processo relâmpago, bastou o Congresso retirar sua imunidade para que Pérez Molina renunciar, o promotor pedir sua captura e o juiz chamá-lo para depor e, depois de ouvir em sessão pública a defesa e o ministério público, decidir prendê-lo por suborno, associação ilícita e fraude fiscal.

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A vertiginosa maquinaria que pôs fim à era de Pérez Molina foi acionada pela Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala (CICIG), uma promotoria especial amparada pela ONU que se transformou em garantidor da legalidade no país centro-americano. A investigação trouxe à luz uma ampla trama de corrupção alfandegária em cujo topo estavam a vice-presidenta e o mandatário. Esse foi o detonador. Mas a pólvora que evitou que o processo judicial acabasse na gaveta do esquecimento foi a indignação cidadã. A cólera que desde abril, em um crescente e maciço movimento nas ruas, pôs a classe política contra a parede, impossibilitando qualquer saída esperta.

Nesse cenário convulso, as eleições presidenciais do próximo domingo se tornaram um elemento secundário. O primeiro turno é visto pela população como um mero trâmite, com uma miríade de candidatos nanicos distanciados dos ares de regeneração que se apoderaram da Guatemala.

Nesse cenário convulso, as eleições presidenciais do próximo domingo se tornaram um elemento secundário

Uma nova era que viveu seu ponto alto com o julgamento do general Pérez Molina, o político que prometeu reconciliar o país e acabou unindo-o contra ele mesmo. O ex-presidente entrou na sala do tribunal como um soldado. Sentou-se no banco dos réus e esperou o ataque. Com o rosto impassível de quem já viu correr muito sangue, Pérez Molina ouvia as gravações contra ele apresentadas pelo promotor. Conversas constrangedoras e secretas que, pouco a pouco, foram trazendo à tona a fraude alfandegária que ele é suspeito de encabeçar junto com a vice-presidenta e antiga aspirante a Miss Guatemala, Roxana Baldetti. Uma estrutura paralela, denominada A Linha, que com apoio de meia centena de envolvidos, permitiu durante anos a importação de bens sem pagar as taxas alfandegárias. Em troca, a organização criminosa cobrava gigantescos subornos.

Sábado após sábado, dezenas de milhares de cidadãos, armados apenas com sua indignação e com a dinamite das redes sociais, tinham forçado a destituição do presidente

A imagem ficará durante anos na retina dos guatemaltecos. Todo o país pôde contemplar pela televisão o general vitorioso, o presidente obstinado comparecer perante a Justiça como um cidadão qualquer. O homem que doze horas antes era chefe de Estado, via agora seu destino nas mãos do implacável juiz Miguel Ángel Gálvez, o mesmo que dias atrás tinha ordenado a prisão da vice-presidenta.

“Estou aqui para dar a cara”, disse o ex-presidente ante o Tribunal

Pérez Molina não se intimidou. Como uma fera prestes a dar o bote, manteve o aprumo. Mas a batalha já estava perdida. Na rua, milhares de pessoas festejavam seu julgamento. Se fosse preso ou não, já era secundário. A onda de indignação contra a corrupção desencadeada em abril tinha alcançado seu objetivo. Sábado após sábado, dezenas de milhares de cidadãos, armados apenas com sua fúria e com a dinamite das redes sociais, tinham forçado a destituição do presidente. Derrubado o muro mais alto, caído o chefe de Estado, o final da história já não importava muito. A Guatemala, uma nação carcomida pela violência e pela pobreza, tinha dado uma lição ao mundo.

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