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Uma Dilma frágil encara outra vez a prova de fogo das manifestações

Os anti-PT querem mostrar força para por fim ao alívio momentâneo do Planalto na crise

Protesto em Brasília, em abril.
Protesto em Brasília, em abril.Lula Marques/ Fotos Públicas

O senador Romero Jucá (PMDB-RR) sintetizou como poucos uma das maiores dificuldades da presidenta Dilma Rousseff nos últimos meses. “O Governo está falando uma linguagem que a sociedade não está entendendo”, disse ele em entrevista à Folha de São Paulo neste sábado. Diante de uma das maiores crises políticas em quase duas décadas, e com os protestos que cobram o impeachment da presidenta de volta às ruas neste domingo, Jucá só vê uma saída: “Ou o Governo muda ou o povo muda o Governo”.

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É essa a expectativa dos manifestantes que irão a atos em centenas de cidades. Com somente oito meses no poder após ser reeleita, é a terceira vez que a presidenta encara o “Fora Dilma” e “Fora PT”, termômetro nas ruas de seus inacreditáveis 8% de apoio. O cálculo é o seguinte: quanto mais altos forem os gritos contra Dilma, maior será a força dos atores políticos que, no Congresso e fora dele, pressionam por uma saída radical para crise, após uma semana em que o Planalto conseguiu alívio momentâneo com vitórias políticas e jurídicas.

Pelas movimentações nas redes sociais, é possível deduzir que as manifestações pelo Brasil deste domingo devem ser menores do que os anteriores. Mas, isso não refresca a situação da presidenta, que além dos protestos, virou alvo constante de panelaços cada vez que faz um pronunciamento na TV. Por ora, o Planalto tenta enviar sinais de tranquilidade. “Vamos preservar a relação que sempre tivermos, de respeito às manifestações. Temos manifestações favoráveis aos governos e manifestações críticas. Faz parte do aprendizado democrático do nosso país”, diz o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto. Por via das dúvidas, os ministros foram aconselhados a evitar atos públicos no dia de hoje, para não acirrar ânimos já exaltados com a gestão petista.

Da última manifestação organizada pelos grupos anti-Dilma, no dia 12 de abril, para cá, a economia só piorou. O número de desempregados cresceu —a taxa de desocupados passou de 6,4% para 6,9% nas principais capitais—, ao mesmo tempo em que a inflação subiu, aumentando o mau humor dos brasileiros, que já estavam contrariados com a sequência de denúncias contra o PT pela Operação Lava Jato.

Um 'primeiro-ministro' novo por semana. O da vez é Renan

C. J.

Sem força para manter firme o leme do país, Dilma Rousseff abre espaço para que a imprensa eleja, a cada dois meses, um novo primeiro-ministro informal, um verdadeiro choque para um país de presidencialismo forte como o Brasil. O primeiro a assumir esse protagonismo foi o titular da Fazenda, Joaquim Levy, escolhido para restabelecer a credibilidade do Governo, depois de oito anos de Guido Mantega, alinhado com a proposta da expansão de gastos públicos para garantir a manutenção de empregos, que agora cobra a sua conta.

Eduardo Cunha foi outro, alçado ao posto de primeiro ministro ao assumir a presidência da Câmara dos Deputados, em fevereiro deste ano, e comandar votações importantes, muitas delas contrárias ao Governo. A sanha vingativa de Cunha também acabou por beneficiá-la. O presidente da Câmara estendeu demais a corda no cabo de guerra com a presidenta, e assustou o establishment com sua voracidade para colocar em prática o plano de manter o Palácio do Planalto sob as ordens da sua "Câmara independente".

A bola da vez, agora, é o presidente do Senado, Renan Calheiros, que fechou um acordo de estabilidade com a presidenta pela execução de uma agenda fiscal e econômica, que vão da facilitação para repatriar recursos no exterior até incentivo aos exportadores. Calheiros ganhou mais poder na semana que passou, depois que o Supremo decidiu que qualquer análise de contas públicas, uma das apostas da oposição para o impeachment, tem de ser encaminhada pelo presidente do Congresso, ou seja, Renan, e ainda, precisa ser debatida por senadores e deputados, e não só pelos membros da Câmara, como queria Cunha. O risco de ter Renan como primeiro ministro para Dilma  ter o constrangimento de ver seu velho-novo aliado denunciado na Operação Lava Jato —o senador e Cunha estão entre os investigados.

Em três meses, as investigações comandadas pela Polícia Federal também avançaram, escancarando ainda mais as operações ilícitas em que estavam envolvidos grandes nomes do partido, como o ex-ministro José Dirceu. “Temos que mudar este país, não podemos aguentar mais esse Governo que está aí”, diz o jurista Modesto Carvalhosa em vídeo gravado para o movimento Vem Pra Rua, um dos organizadores dos protestos deste domingo.

A mensagem que une os principais organizadores dos protestos — o Vem pra Rua, os Revoltados onLine e Movimento Brasil Livre—, é defender que Dilma Rousseff precisa cair, antes de concluir seu mandato, para começar a colocar o país nos trilhos novamente. “A saída de Dilma pode servir como um sopro de esperança para o futuro político do Brasil”, diz Fabio Ostermann, um dos líderes do MBL, que sustenta um pedido de impeachment da presidenta na Câmara argumentando que ela cometeu crime de responsabilidade por manobras fiscais nas contas do Governo, a chamadas pedaladas fiscais.

A promessa de que tudo vai melhorar no dia seguinte à queda de Dilma é o que inflama os seguidores dos movimentos, uma ideia que foi incorporada ao discurso de representantes mais radicais de vários partidos, inclusive do PSDB que vai participar mais ativamente dos atos deste domingo, e até de empresários. Essa tese, no entanto, refluiu um pouco nas últimas semanas. Grandes empresários e editoriais na grande imprensa começaram a discutir publicamente os riscos de apostar pelo impeachment, e a alternativas que se abrem após a eventual saída da presidenta não são claras. Tirar Dilma fortaleceria o PMDB —um partido também no coração do escândalo da Lava Jato—  ou abriria espaço para o PSDB em caso de novas eleições, e os dois partidos não encontraram um pacto nesta crise que satisfaça todos os envolvidos. Seja como for, o fato é que há sinais de que a crise é mais profunda e mesmo essas duas legendas, ou quaisquer outras, não parecem ser confiáveis para os brasileiros.

No último protesto de abril, uma pesquisa coordenada por Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da USP, e Esther Solano, professora de relações internacionais da Unifesp, mostrou que mais de 70% dos que tomaram a avenida Paulista não confiam em partidos ou em políticos. Para 96% das pessoas entrevistas, o PT não é confiável, mas o PMDB não ficava tão atrás: 82% também não confiam no partido do vice-presidente, Michel Temer.

Em resumo, Dilma parece ir ganhando tempo nesta crise política não por suas virtudes, mas porque as alternativas a ela, caso seu mandato seja abreviado, são fracas até o momento. Mas como seguir até 2018 sem o apoio minúsculo, seja dos partidos aliados ou das ruas? Para muitos analistas, e agora Jucá, a dificuldade da presidenta está em não ouvir o recado da população para além dos gritos de impeachment. Entra na insatisfação difusa um discurso anticorrupção e pelo "corte na carne" no Governo em meio às dificuldades econômicas. “Algumas medidas poderiam ser adotadas para que ela restaurasse o respeito popular, como a redução do número de ministérios. Um gesto que não geraria tanta economia, mas tem um poder simbólico enorme”, diz Renato Meirelles, do instituto Data Popular.

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