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Será que o consumidor precisa pagar tão caro por uma coxinha?

Diferença de preços do salgado em diferentes lugares chega a 180% em São Paulo

Clique na foto e confira a variação de preços de alguns alimentos comuns do café da manhã e do lancha da tarde.
Clique na foto e confira a variação de preços de alguns alimentos comuns do café da manhã e do lancha da tarde.

Recém chegada a maior cidade da América Latina, esta jornalista mineira foi comprar na padaria da esquina do trabalho um simples pão de queijo. Comeu no balcão com gosto a iguaria da sua terrinha e ao passar pelo caixa foi surpreendida pelo valor da conta: seis reais. "É esse preço mesmo senhora, eu também acho bastante abusivo", disse a funcionária ao entregar a notinha. É certo que São Paulo é uma das cidade com um dos maiores custos de vida do Brasil e, como cidade cosmopolita, possui uma infinidade de opções de estabelecimentos dos mais diferentes preços e gostos. Mas será que o consumidor precisa pagar tão caro por um simples lanchinho da tarde ou café da manhã?

Após percorrer os quatro cantos da cidade e pesquisar o preço de diferentes itens vendidos nas padarias paulistas, a reportagem do EL PAÍS verificou uma variação de até 650% do valor de um mesmo produto. Dos itens pesquisados, o café com leite (a média) foi o que apresentou a maior disparidade de preço. Enquanto em uma padaria do Itaim Paulista, na Zona Leste da cidade, a bebida custava 1 real, em outro estabelecimento no Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul da cidade, a média saía por 7,50 reais.

Em segundo lugar no ranking das maiores variações ficou um dos salgados preferidos dos brasileiros: a coxinha. A diferença detectada chegou a 180%. A coxinha mais cara encontrada pela reportagem foi em uma padaria de Pinheiros, na Zona Oeste da cidade, que vendia o salgado por 7 reais. A mais barata custava 2,50 reais em um estabelecimento na Zona Leste. (Veja a tabela de preços)

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A variedade de preços pode ser explicada em grande medida pelo momento econômico que o país atravessa e pelo alto índice da inflação que deve chegar a 9,32% até o fim do ano, segundo a última previsão do boletim Focus, divulgado pelo Banco Central. E também porque o aumento da inflação se torna desculpa para qualquer alta. "Quando a inflação sobe muito, é normal que a variação dos preços aumente também. Alguns demoram mais para repassar os preços para não assustar e perder os clientes. Outros superfaturam os valores dos produtos. Realmente é do jogo da atividade", explica Evandro Buccini, economista da consultoria Rio Bravo.

Segundo o especialista, a alta da inflação deste ano é influenciada principalmente pelo aumento dos preços administrados, como o da energia elétrica. "A energia está 60% mais cara do que no ano passado. No caso das padarias e restaurantes, o custo da conta de luz é bem relevante já que usam grandes fornos e geladeiras. Mesmo com a demanda fraca, eles acabam repassando o preço", afirma.

No entanto, essa variação de preços também é baseada na localização, no custo do aluguel e na qualidade da matéria-prima, segundo o economista Heron do Carmo. "Os preços tendem a variar sempre de região para região, um pão de queijo na rua Oscar Freire [no bairro dos Jardins, em São Paulo] é mais caro. A região é mais nobre, possui um aluguel mais caro e precisa de um atendimento diferenciado. Essa variação também é bem grande em outros setores de serviços- como de manicure e cabeleireiro- que em geral mantêm o preço acima da inflação. Muitas vezes, pagamos mais caro pela qualidade e pelo status", explica.

Os valores dos produtos, no entanto, não variam apenas de região para região. Em um mesmo bairro, a reportagem encontrou uma variação de 122% no preço do pão de queijo, por exemplo. No bairro de Pinheiros, a iguaria custava 2,70 reais em uma padaria, enquanto a poucos quarteirões, em outro estabelecimento, o valor era de 6 reais. "É um fato que, muitas vezes, o consumidor acaba pagando o preço da própria comodidade, prefere comprar no local mais perto ao invés de pesquisar e andar por aí. Faz parte do preço", diz do Carmo.

Os especialistas advertem, entretanto, que quem dá a resposta aos preços altos é o próprio consumidor que pode ou não continuar comprando em lugares onde são aplicados preços mais abusivos. "A regra é a da livre concorrência dos preços. Cada comerciante define o seu preço. Porém, com o aumento dessa variabilidade e com o salário apertado no fim do mês, o que se vê é o aumento da pesquisa de preço por parte dos consumidores", afirma Buccini.

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