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Embargo a Cuba divide o Partido Republicano

Legisladores republicanos encabeçam iniciativas contra embargo defendido por líderes

Silvia Ayuso
Jovem cubana vestida com a bandeira norte-americana em Havana.
Jovem cubana vestida com a bandeira norte-americana em Havana.ENRIQUE DE LA OSA (REUTERS)

A normalização de relações com Cuba colocou o Partido Republicano diante de um novo dilema: denunciar essa política, como fazem seus líderes, ou apoiar a aproximação respaldada majoritariamente tanto pelos norte-americanos – incluindo eleitores republicanos – como por um número crescente de políticos conservadores. Na semana em que o secretário de Estado, John Kerry, fará uma histórica visita a Havana para hastear a bandeira norte-americana em sua recém reaberta embaixada, o partido conservador continua sem resolver seu paradoxo interno.

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O que mais deve irritar o Partido Republicano é que foi sua principal rival na corrida à Casa Branca, Hillary Clinton, que colocou o dedo na ferida em um dos temas de política exterior que poderão marcar a campanha eleitoral. “Muitos republicanos no Capitólio estão começando a reconhecer a urgência de avançar. É hora de seus líderes embarcarem nisso ou ficarem de lado”, disse a candidata democrata ao pedir que se levante “de uma vez por todas” o embargo contra Cuba. Algo que somente o Congresso, que está em mãos republicanas, pode fazer.

O paradoxo do Partido Republicano é que, enquanto seus líderes e seus principais candidatos presidenciais – Marco Rubio, Jeb Bush e Ted Cruz – refutam qualquer aproximação à ilha, os políticos republicanos se colocaram à frente das cada vez mais numerosas iniciativas para acabar com o embargo e retirar suas restrições mais duras.

Pouco antes do recesso parlamentar de verão, o congressista republicano por Minnesota Tom Emmer apresentou junto com a democrata Cathy Castor – da Flórida – o projeto de lei “Cuba Trade Act of 2015” que propõe o fim do embargo. Essa iniciativa vem junto com a apresentada com o mesmo nome em junho no Senado pelo também republicano Jerry Moran, do Kansas.

Também em julho, um influente comitê do Senado, onde os republicanos são maioria, aprovou uma emenda para levantar a restrição de viagens à ilha. Essa ideia, cada vez mais popular entre os conservadores, conta além disso com uma proposta de lei própria, apresentada em janeiro pelo senador Jeff Flake, um dos republicanos que mais abertamente respalda a normalização de relações com a ilha. Outro congressista republicano, Kevin Cramer, apresentou em julho outra lei para abrir a ilha a empresas de telecomunicações e Internet norte-americanas.

Não há dúvida de que a política sobre Cuba divide o Partido Republicano. Que seja uma brecha insuperável é outra coisa.

“Existe uma divisão bem clara”, reconhece Carl Meacham, diretor do Programa América do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS). Para o antigo assessor do ex-senador republicano Richard Lugar, essa situação “demonstra a diversidade do partido”.

“A pergunta – aponta – é se isso irá se transformar em algo negativo para o Partido Republicano”. E isso acontecerá, alerta, “se não existir um consenso que siga mais ou menos a maneira de pensar das pessoas, em momentos nos quais a massa crítica está mudando de opinião diante da normalização de relações com Cuba.

O Partido Republicano está vivendo agora um “processo de educação” sobre a questão cubana, opina Marc Hanson, especialista em Cuba do Escritório em Washington para Assuntos Latino-Americanos (WOLA) e também ex-assessor parlamentar.

“Sabemos que entre os norte-americanos conservadores a proposta de acabar com a proibição de viajar a Cuba e com o embargo comercial é muito popular, mas somente agora estão começando a aparecer” essas vozes na câmara baixa, diz Hanson, e cita os congressistas Emmer de Minnesota, Justin Amash de Michigan e Ralph Abraham da Louisiana.

“Todos eles são conservadores muito sólidos de distritos muito conservadores e são os que estão começando a colocar os debates, o que é muito interessante”, frisa Hanson. Existem duas razões pelas quais esses republicanos estão impulsionando a mudança de atitude em relação a Cuba. De um lado, porque representam estados agrícolas e, por sua proximidade, “Cuba é um mercado natural para nossos agricultores e pecuaristas”. E de outro porque como libertários “não gostam que o Governo se meta em seus assuntos”, que é justamente o que acontece quando proíbe os norte-americanos de viajar e comercializar com Cuba.

A Câmara de Representantes é o principal obstáculo no processo de acabar com o embargo, já que sua liderança –que é quem pode fazer com que as iniciativas avancem ou fracassem, como aconteceu com a reforma da imigração – se nega veementemente a aprovar mudanças em relação a Cuba. O presidente da câmara baixa, o republicano John Boehner, reiterou que não permitirá a revisão do embargo “até que o povo cubano tenha liberdade, nem um segundo antes”.

Para Meacham, os republicanos que defendem essa posição “devem responder à pergunta de como voltar ao que tínhamos nos favorece. Deveríamos pensar sobre o que conseguimos voltando à política que tínhamos antes, em que isso nos ajuda”.

Tão perto, tão longe

O senador republicano Jeff Flake participou em 17 de dezembro da comitiva que voou a Cuba para trazer de volta o empreiteiro norte-americano Alan Gross, cuja prisão em Havana era o principal obstáculo à normalização de relações com a ilha anunciada no mesmo dia pelo presidente Barack Obama. Sete meses mais tarde, em 20 de julho, Flake realizou como convidado de Cuba a reabertura de sua embaixada em Washington. Uma normalização de relações diplomáticas que seu colega de bancada e candidato presidencial republicano Marco Rubio denuncia como "grave erro" e "concessão" ao regime cubano. O também senador e candidato republicano Ted Cruz propôs, por seu lado, mudar o nome da rua 16 onde se encontra a embaixada cubana para Avenida Oswaldo Payá, em homenagem ao dissidente morto em 2012 em um acidente de trânsito que sua família diz ser responsabilidade do Governo cubano.

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