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Podemos quer se livrar do rótulo de esquerda para crescer

Formação emergente busca a transversalidade, apesar da queda nas pesquisas

Francesco Manetto
Pablo Iglesias, em Badalona (Barcelona) o passado junho.
Pablo Iglesias, em Badalona (Barcelona) o passado junho.ALBERT GARCÍA

Pablo Iglesias enfrenta o desgaste do Podemos nas pesquisas no momento mais decisivo da contagem regressiva para as eleições catalãs de 27-S (27 de setembro) e para as gerais previstas para o outono. O secretário-geral do partido está condenado a buscar a fórmula para frear a tendência de baixa certificada pelas pesquisas, desde janeiro, e ao mesmo tempo, administrar várias frentes que foram abertas. O urgente será medir a viabilidade do seu projeto em um clima no qual a mensagem de transversalidade parece superada. O Podemos, identificado pelos eleitores como de esquerda, tem que voltar a se reafirmar. O programa será o primeiro passo.

O Podemos voltou, segundo pesquisa do Centro de Investigações Sociológicas (CIS) publicada esta semana, a uma porcentagem de intenção de voto muito parecida à de um ano atrás: 15,7% contra 15,3%. A opinião dos dirigentes, especialistas em análise de estudos de opinião, são parecidas com as de agosto de 2014 e se resumem em: prudência máxima, as pesquisas envelhecem rápido. A diferença mais notável é a tendência, já que naquela época o partido crescia e agora encontra-se em uma fase de ligeira e constante queda.

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Essa circunstância vai de encontro às aspirações iniciais dos estrategistas do partido, que buscavam ocupar o espaço político do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE). “A opção pela transversalidade está superada”. O Podemos é, portanto, “esquerda”, afirma o cientista político Pablo Simón, professor da Universidade Carlos III. Isso, na sua opinião, “condiciona a margem de manobra dos pactos”. “Está claro que o Podemos não pode jogar com o não a tudo”.

Embora, segundo reconhecem no partido, os equilíbrios entre responsabilidade institucional e audácia sejam a chave, o partido precisa voltar a se reafirmar, redefinir seu projeto, mas sempre com a aspiração de “ganhar”, à margem dos rótulos. “O Podemos é a opção que mais tem probabilidade de conseguir uma mudança real nas políticas que levaram ao desastre”, afirmou Pablo Echenique, anteriormente entre os críticos e agora fiel a Iglesias, avaliando o CIS. “Confio que as pesquisas definitivas, que são as urnas, dirão algo muito diferente”. Definitivamente, “há partido”.

Grécia e as primárias

Iglesias precisa voltar a crescer no momento em que algumas frentes, pelo menos de um ponto de vista simbólico, afetam negativamente o partido, segundo os especialistas: o resgate da Grécia e o conflito entre Alexis Tsipras e o Eurogrupo; os efeitos das eleições primárias as quais, apesar de ter levado 80% dos votos, foram duramente criticadas e confirmaram uma queda importante de participação; as divergências sobre estratégias eleitorais que o núcleo duro enfrenta com um grupo de dirigentes territoriais, que em setembro continuaram pressionando para que haja uma candidatura de “unidade popular”. A direção blindou seu plano – concorrer sozinho nas eleições gerais, exceto por alianças pontuais na Catalunha, Comunidade Valenciana, Galícia e Baleares – com um referendo interno, mas tanto Alberto Garzón, candidato da Esquerda Unida (IU), como setores do Podemos acreditam que Iglesias e Íñigo Errejón mudarão de ideia. Catalunha e as eleições de 27 de setembro serão a primeira prova. Todos buscam capitalizar o resultado da candidatura Catalunya sí que es Pot (Catalunha, sim, é possível), integrada pelo Podemos, pela Iniciativa pela Catalunha Verde (ICV) e Esquerda Unida. Errejón, secretário de Política e responsável pelas campanhas do partido, será supervisor da estratégia dessa comunidade. E Garzón, por sua vez, continuará buscando uma lista de forças alternativas de esquerda. “Com um bom resultado, seria incompreensível que a situação não se repita nas gerais”.

O conflito da esquerda

O Podemos rechaçou desde o começo definir o mapa político em função das categorias de esquerda ou de direita. Mesmo assim, esse discurso, aceitado inicialmente pela Esquerda Anticapitalista, agora começa a oscilar. Os eleitores, segundo o CIS, colocam o Podemos na esquerda ideológica, assim como o IU, e o associam ao PSOE como a primeira referência para uma aliança de Governo. Ou seja, identificam esse projeto político como uma hipotética muleta dos socialistas.

É possível um pacto com o ERC?

O Podemos está em condições de se entender com a Esquerda Republicana da Catalunha? Seus líderes nacionais, com Pablo Iglesas à frente, apoiaram desde o nascimento do partido uma fórmula indefinida de “direito de decidir”. Mas a maioria mostrou-se contrária à independência da Catalunha. No entanto, o candidato da candidatura integrada por Podemos, ICV e Esquerda Unida, Catalunya sí que es Pot, Lluís Rabell, tem em mãos o ERC e o CUP (Candidatura de Unidade Popular) para formar uma maioria de esquerda depois de 27 de setembro. As duas formações “deverão escolhar”, depois dessas eleições, entre eleger Artur Mas presidente ou permitir uma “Maioria social de esquerda” liderada pela sua candidatura.

Em entrevista à EFE, Lluís Rabell considera que tanto a ERC quanto o candidato de Junts pel Sí, o ex-eurodeputado do ICV, Raül Romeva, fizeram uma “aposta equivocada” ao fazer parte de uma lista unitária desenhada, na sua opinião, para “esconder” uma “força desgastada” como a Convergência Democrática da Catalunha e o presidente da Generalitat (autogoverno da Catalunha).

Para Rabell, o CDC aproveitou a “boa vontade de muita gente” para evitar se apresentar “de rosto descoberto” e está usando uma “aspiração legítima para tentar recuperar o governo, sem se submeter ao equilíbrio da sua política ou explicitar seu programa”, ocultando-se atrás de figuras da sociedade civil, que depois das eleições “não governarão”.

“Creio que a briga da mudança será vencida ou perdida na esquerda, do jeito como as pessoas a entendem. Haverá muitas mudanças nos próximos anos se, em 2015, o Podemos ficar à frente do PSOE, ou ao menos competir com eles, ou se ver obrigado a aprovar um governo do PSOE de longe”, escreve Diego Pacheco, membro do Conselho Cidadão da Comunidade de Madri e entre os críticos do partido.

O programa

A elaboração do programa eleitoral será chave para a definição do projeto e a mobilização das bases. A direção do Podemos impulsionou nas últimas semanas um processo participativo de elaboração do programa, que já recebeu centenas de propostas e que será o termômetro definitivo, antes das eleições gerais, da capacidade de impacto das suas bases e círculos. Depois de viajar para a moderação e de selar pactos autônomos com o PSOE, o Podemos enfrenta novamente o debate sobre sua identidade e espírito de fundação. Iglesas deixou claro, há um ano, em uma conversa com este jornal em Estrasburgo. “Podemos não pode ser um partido a mais, nem perder o fator surpresa”.

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