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“O crime contra Rubén Espinosa aterroriza todos os jornalistas”

Jornalistas mexicanos exigem investigação implacável Veem uma mensagem de que a violência contra a imprensa não tem limites

Pablo de Llano Neira

Assim como certa vez Mario Vargas Llosa se perguntou em que momento o Peru deu errado, no México a mesma pergunta é repetida a cada crime brutal: “Será que já chegamos ao fundo do poço?”.

O escritor e jornalista norte-americano Francisco Goldman, que há anos mora na Cidade do México, acredita ter encontrado uma resposta no protesto de domingo na capital, motivado pelo assassinato do jornalista Rubén Espinosa e de quatro mulheres que o acompanhavam. “Vendo ao meu lado um grupo de jovens amigas que não paravam de chorar, que talvez conhecessem alguma das vítimas, e ouvindo a irmã de Espinosa dizer que seu irmão tinha sido e continua sendo seu anjo, ocorreu-me que, sim, já chegamos ao fundo do poço”. Mas ele não tem certeza disso, porque a violência no México é feita de areia movediça. “Na verdade, a sensação é de que estamos andando de um lado para o outro, feito um caranguejo, neste lodo podre, de surpresa horrível em surpresa horrível.”

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A repórter Marcela Turati, integrante da organização Periodistas de a Pie, uma rede jornalística muito atuante na questão da liberdade de imprensa, opina que o assassinato de Espinosa mostra que a ameaça não tem limites. “O crime contra ele aterroriza toda a categoria. Com seu assassinato, quebrou-se aquilo que ele achava que o protegeria –de nada serviu que trabalhasse para veículos nacionais importantes, que tivesse vindo para a Cidade do México, que era considerada uma cidade-bolha, na qual a violência dos governos locais não chegava. Esse assassinato mexe com todos nós e nos faz perguntar se alguma coisa funciona neste país para proteger os jornalistas, se é possível fazer algo para que não ocorram mais crimes, se alguém se importa com isso”.

Marcela Turati: “Esse assassinato nos faz perguntar se alguma coisa funciona neste país para proteger os jornalistas, se alguém se importa com isso.”

“O paradoxo”, diz Guillermo Osorno, diretor do site Horizontal.mx, “é que o México também é um dos países com mais instrumentos públicos para a proteção da liberdade de expressão: temos uma lei federal, uma procuradoria, um mecanismo de proteção aos jornalistas e uma área especializada na proteção aos jornalistas na Comissão Nacional de Direitos Humanos. E então, como explicar a alguém de fora o terrível agravamento da violência contra os jornalistas? O problema é o próprio Estado. Cinco em cada dez agressões a jornalistas são perpetradas por um funcionário público, que geralmente trabalha nos governos locais, e até agora nenhum funcionário foi castigado. A indiferença e a impunidade estão gerando zonas de silêncio em todo o país”.

O veterano Gerardo Arreola concorda que a morte de Espinosa é um divisor de águas no alcance da violência contra os meios de comunicação. “Representa um salto: ocorreu depois de a vítima sofrer uma perseguição por causa do seu trabalho, foi executada com a clara intenção de enviar a mensagem de represália, e ocorreu no coração da Cidade do México”. Para Alejandro Almazán a reação da Justiça precisa ser contundente e rastrear cada circunstância que possa ter relação com o caso, como as tensões entre as autoridades e Espinosa por causa do seu ativismo: “Javier Duarte [governador de Veracruz] deve ser investigado. Todas as conjecturas o apontam como responsável. E, se o Governo de Mancera [prefeito da Cidade do México] insistir que o motivo do crime foi um roubo ou em vincular as vítimas ao crime organizado, estará validando um regime que assassina jornalistas e ativistas”, afirma.

Juan Villoro: “Recentemente, o governador Duarte pediu aos jornalistas que se ‘comportassem bem’. Assim, criminalizou antecipadamente as possíveis vítimas”.

“O governo de Duarte não faz nada para proteger os jornalistas”, critica Juan Villoro. “Além disso, buscou promulgar uma lei para prender quem informasse sobre a violência nas redes sociais, a qual foi suspensa pela Suprema Corte. Recentemente, o governador pediu aos jornalistas que se ‘comportassem bem’. Assim, criminalizou antecipadamente as possíveis vítimas. Veracruz foi um bastião do PRI. Enquanto esse partido governar, o jornalismo estará em risco. É urgente buscar alternativas que, lamentavelmente, ainda não apareceram. A tal ponto que, alguns anos atrás, a melhor alternativa de oposição nas eleições para a prefeitura de Xalapa foi um gato, proposto por ativistas civis”.

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