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Obama elogia dinamismo da África e busca reforçar luta contra o terrorismo

Presidente norte-americano destaca que o continente é o “que cresce mais rápido"

Pablo Ximénez de Sandoval
Obama com a esposa de seu pai (esq.), e sua meia-irmã.
Obama com a esposa de seu pai (esq.), e sua meia-irmã.S. LOEB (AFP)

Em sua quarta –e talvez última– visita à África como presidente, Barack Obama se concentrará neste fim de semana em reforçar a cooperação militar com os Estados subsaarianos que servem de muro de contenção das milícias radicais mais violentas do continente. Obama aterrissou na sexta-feira no Quênia, a terra de seu pai, e depois fará uma parada na Etiópia. O Quênia e a Etiópia fazem fronteira com a Somália e, por isso, são a trincheira de onde o Ocidente combate a expansão do terrorismo islamista com origem nesse país do Chifre da África, principalmente a milícia Al Shabab, um grupo afiliado à Al Qaeda e conhecido por ataques como o do centro comercial de Westgate, em Nairóbi, em 2013.

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Em seu primeiro dia no Quênia, Obama elogiou o dinamismo da África, um “continente em movimento” e a “região que cresce mais rápido”, com uma classe média e salários em constante expansão.

Mas o giro africano na realidade começou na terça-feira, em Washington, com a visita oficial do presidente da Nigéria. Nas viagens ao continente em 2009 e 2013, Obama não esteve na Nigéria, a maior economia da África e o primeiro produtor de petróleo do continente, e provavelmente não irá ao país. Na terça-feira, Obama recebeu o novo presidente eleito em março, Muhammadu Buhari, e disse diante dele que a Nigéria é “um dos países mais importantes do mundo”. As conversações estiveram focadas na luta contra a guerrilha islamista Boko Haram, que opera na zona fronteiriça com o Níger e se tornou conhecida em todo o mundo em abril de 2014, com o sequestro maciço de mais de 200 meninas, que continuam em seu poder.

Ao viajar ao Quênia e à Etiópia, o presidente enfrenta críticas por tratar por alto de algumas questões de direitos humanos. Na terça-feira, o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, descartou com firmeza a possibilidade de conversar com Obama sobre a questão dos direitos dos homossexuais no país, onde é um tabu. “Não é um assunto para as pessoas deste país”, disse. “Temos questões muito mais importantes a tratar com os Estados Unidos.” Ambos se reúnem neste sábado e a pressão sobre Obama para que aborde o tema da repressão aos homossexuais se intensificou nas últimas horas.

Ao viajar para o Quênia e a Etiópia, o presidente Obama enfrenta críticas por passar por alto de algumas questões de direitos humanos

A Etiópia recebe 800 milhões de dólares (270 milhões de reais) por ano em ajuda militar para conter a milícia Al Shabab. Mas o regime de Hailemariam Desalegn está longe de ser uma democracia respeitável. Dezenas de jornalistas fugiram do país por causa da perseguição à liberdade de expressão. A viagem à Etiópia “mostra que a segurança e o desenvolvimento com frequência são mais importantes que os direitos humanos, com uma visão muito de curto prazo”, disse a The Washington Post a diretora da Human Rights Watch, Sarah Margon. A assessora de segurança nacional Susan Rice garantiu na quarta-feira que Obama não titubeará em falar de questões espinhosas durante a visita.

A visita ao Quênia coincide com a Cúpula Empresarial Global. Os EUA são o segundo investidor no continente, com mais de 80 bilhões de dólares. Mas estão vendo a China ganhar terreno, com uma agressiva política de compra de recursos naturais. Em intercâmbios comerciais, há muito tempo os Estados Unidos foram ultrapassados pela China em termos de influência na África. O gigante asiático é o primeiro investidor estrangeiro na maior economia do leste africano, o Quênia (mais de 450 milhões de dólares), com o dobro dos EUA. A relação comercial da África com Pequim se situa em 200 bilhões de dólares, mais que o dobro da mantida com Washington. Obama critica a maneira como a China devora os recursos, desprezando o meio ambiente.

A viagem tem também um importante aspecto pessoal. Obama viaja à terra de seu pai como presidente, depois de ter ido como senador em 2006 e cidadão comum por várias vezes desde a primeira visita, em 1987. Ele havia prometido que faria a atual viagem, mas o presidente queniano era alvo de um processo no Tribunal Penal Internacional por instigar a violência étnica que deixou mais de 1.200 mortos depois das eleições de 2007. A retirada das acusações contra Kenyatta em dezembro abriu a porta para que Obama cumprisse a promessa.

Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, se reunirá com membros da família de seu pai

Obama foi recebido na sexta-feira no aeroporto de Nairóbi com um abraço de sua meia-irmã Auma. O primeiro ponto da agenda do primeiro presidente negro dos EUA foi uma reunião com membros da sua família por parte de pai, com quem jantou na sexta-feira no restaurante do hotel. A seu lado estava Mama Sarah, esposa de seu avô, e a quem o presidente chama de avó.

A questão da segurança do presidente concentrou o debate nas horas que antecederam a viagem. A autoridade de aviação do Quênia fez soarem os alarmes ao divulgar o itinerário do presidente e as horas em que o espaço aéreo seria fechado para a aterrissagem e decolagem do Air Force One. A Casa Banca garantiu que não pensa em mudar seus planos por causa desse deslize, mas essa é uma viagem especialmente sensível em matéria de segurança. A Al Shahab demonstrou sua capacidade de atuar dentro do Quênia. Somente na semana passada o Exército dos EUA realizou seis ataques aéreos contra esse grupo na Somália, segundo a CNN.

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