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Obama convoca empresariado em sua estratégia na relação com Cuba

Para derrubar embargo a Cuba, Casa Branca une forças com os mais interessados

Silvia Ayuso
Cubano comemora a reabertura da embaixada dos EUA em Havana.
Cubano comemora a reabertura da embaixada dos EUA em Havana.Desmond Boylan (AP)

Objetivo declarado da Casa Branca: acabar com a “fracassada política” de embargo a Cuba. Obstáculo: o Congresso norte-americano, que tem a última palavra para suspender as restrições de mais de meio século à ilha. Solução: unir forças com os mais interessados nas mudanças dentro dos Estados Unidos, um setor privado ansioso para não perder o grande potencial de negócios que vê na ilha.

Esse foi o objetivo principal da reunião tanto informativa quanto exploratória de novas medidas de flexibilização que a Casa Branca promoveu na quarta-feira, a portas fechadas, com cerca de 70 empresários cubano-americanos, membros da indústria e do setor agrícola, advogados, representantes de grupos de interesse e de laboratórios de ideias ligados a Cuba, segundo apurou o EL PAÍS.

“Querem que sejamos a vanguarda” das mudanças, explicou, sob condição de anonimato, um dos empresários que participaram da reunião, realizada apenas dois dias depois do restabelecimento de relações diplomática com a ilha após mais de meio século.

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“Basicamente nos disseram: vocês, empresários, podem ir muito mais longe do que nós. Procurem as brechas no embargo por onde possam entrar e digam ao Governo cubano que mostre interesse em trabalhar conosco, e nós vamos trabalhar com mais intensidade”, resumiu.

“A Casa Branca quer poder contar com esses grupos para o que for feito no futuro”, confirmou outro convidado à reunião promovida precisamente por grupos que fazem um forte lobby pela suspensão do embargo.

Do encontro participaram altos funcionários do Governo Obama, como seu assessor Ben Rhodes, coorganizador das negociações secretas que levaram ao anúncio da normalização de relações em dezembro. Também estava presente a secretária de Estado adjunta para a América Latina, Roberta Jacobson, e seu braço direito, Mark Feierstein, além do encarregado de negócios da recém-inaugurada embaixada norte-amerciana em Havana, Jeffrey DeLaurentis. Valerie Jarret, amiga do presidente, também passou para saudar os presentes em nome de Obama e agradecer pelo apoio à política para Cuba, segundo as fontes ouvidas por este jornal.

Até onde mais Obama está disposto a chegar por conta própria é a grande pergunta. Alguns dos participantes saíram convencidos de que é “iminente” o anúncio de novas medidas do Governo para flexibilizar ainda mais as relações comerciais e até as viagens individuais à ilha –proibidas até hoje. Uma fonte oficial da Casa Branca, no entanto, negou tais extremos. “Não tenho nada a anunciar sobre novas regras para viagens”, respondeu a uma pergunta concreta a respeito.

Por outro lado, a fonte confirmou, também sob condição de anonimato, que ainda pode haver espaço para uma maior liberação dos limites a contratos com a ilha, seja via medidas presidenciais como as que, em janeiro, já flexibilizaram as viagens e o comércio ou por outros instrumentos.

“O presidente tem sido muito claro em seu apoio a medidas para melhorar as viagens e o comércio, aumentar os contatos pessoa a pessoa, apoiar a sociedade civil em Cuba e o nascente setor privado cubano, assim como promover o livre fluxo de informação dos cubanos, para eles e entre eles”, declarou a fonte.

“Ficou claro que continuarão procurando oportunidades para melhorar a política bilateral e o presidente poderá dar passos adicionais se julgar conveniente”, confirmou um dos consultados que compareceram à reunião, na qual o Governo também deu mais detalhes sobre a reabertura das embaixadas e tratou a questão dos direitos humanos.

Enquanto novas medidas são cogitadas, assim como suas datas, os empresários constituem para a Administração Obama uma peça fundamental de “pressão” continuada ao Congresso a respeito do embargo. O exemplo esboçado é a empresa Airbnb. Com seu desembarque em Cuba em abril, a plataforma de aluguel de moradia não só abriu uma oportunidade de negócio na ilha, mas também aumentou a pressão ao Congresso para que libere as viagens à ilha, que é a prioridade declarada da Casa Branca, convencida de que não há melhor diplomacia do que o turismo e os encontros diretos entre os povos.

Além dos empresários, o Governo Obama sabe que conta com outro aliado: a população norte-americana, que, segundo uma pesquisa publicada nesta semana, apoia amplamente os recém retomados laços diplomáticos e a suspensão do embargo.

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