_
_
_
_
_

O refúgio alpino de Adolf Hitler

Uma visita ao Ninho da Águia, um presente para o ‘Führer’ transformado em centro turístico

Visita ao Ninho de Águia, no pico Hoher Göll, em Berchtesgaden (Alemanha).
Visita ao Ninho de Águia, no pico Hoher Göll, em Berchtesgaden (Alemanha).Martin Siepmann

Berchtesgadener, localidade alpina situada a 25 quilômetros da cidade austríaca de Salzburgo, é um verdadeiro paraíso natural. Capital da comarca Berchtesgadener Land, abriga um dos maiores parques nacionais da Alemanha, famoso por suas águias e marmotas. Essa pequena esquina da região da Baviera é famosa por suas cavernas de gelo, às quais se chega após três horas de caminhada; sua mina de sal, que conjuga a tradição mineradora com uma visita moderna e educativa, e, é claro, por ser uma das locações onde foram gravadas algumas cenas externas do filme de enorme sucesso A Noviça Rebelde (1965). Mas talvez a atração mais famosa de Berchtesgaden seja o Kehlsteinhaus, o Ninho da Águia, a mansão que o partido nazista deu de presente a Adolf Hitler por seu aniversário de 50 anos.

Mais informações
Toda a Europa com uma passagem
As melhores pizzas do mundo
Que tipo de viajante você é?
Lisboa é outra coisa
A América em 15 dicas
História da foto de farol mais famosa do mundo

O Ninho está localizado a 1.834 metros de altura, sobre um grande morro do pico Hoher Göll chamado Kehlstein; por isso seu nome, Kehlsteinhaus, que com certeza não tem nada a ver com alguma águia. Foi construído em 1939, assim como a estreita estrada na montanha pela qual se chega lá, que com 700 metros de desnível e seis quilômetros e meio de extensão continua sendo a mais alta da Alemanha e uma das mais inclinadas. Todo o complexo (inclusive a estrada) é considerado uma brilhante obra de engenharia para a época e pode ser visitado entre os meses de maio e outubro, ainda que o acesso com veículo particular não seja permitido. No entanto, a cidade dispõe de um serviço de ônibus que nos permitirá relaxar e desfrutar sem preocupações das magníficas vistas durante toda a aproximação até a entrada do Ninho: um túnel que adentra pela montanha, que se pode chegar também por uma trilha.

A passagem tem 124 metros escavados em rocha pura. Não é particularmente estreito, mas é pouco iluminado. É úmido e frio, parece interminável. O fato é que essa galeria perfurada no granito duro parece tirada de um filme de James Bond. O túnel, em cujas laterais se alternam paredes de rocha pura com partes cobertas por tijolos, nos leva até um elevador com detalhes em bronze e coberto por espelhos em seu interior. Outro avanço de engenharia para seu tempo, que nos levará por mais 124 metros pelas entranhas da montanha em apenas 41 segundos, abrindo suas portas já dentro do luxuoso refúgio do Führer.

Cerveja bávara, cozinha austríaca

Túnel de acesso ao Ninho de Águia, em Berchtesgaden (Alemanha).
Túnel de acesso ao Ninho de Águia, em Berchtesgaden (Alemanha).José M. Roncero

O interior do Ninho da Águia mudou completamente. Tanto os aliados como os alemães decidiram eliminar qualquer vestígio nazista e o local foi transformado em um centro de documentação contra as barbáries do nacional-socialismo. Além disso, o complexo foi reaberto ao público em forma de restaurante. Os cômodos do andar de baixo, entre eles o escritório de Hitler, foram transformados em adega e dispensa, e só podem ser visitados com um guia oficial. O restaurante conta com um amplo terraço com vista espetacular dos Alpes; nos dias de tempo aberto, a visibilidade pode chegar a 200 quilômetros. Como é de praxe, serve-se cerveja de trigo, Weißbier, que pode ser combinada com o tradicional Wiener Schnitzel, prato predileto dos austríacos, assim como outras delícias regionais a base de carne de porco, como as Weißwürste, ou salsichas brancas bávaras. Uma ironia histórica: Hitler era vegetariano e não bebia.

O que não fica tão claro é porque os Aliados não destruíram o Ninho depois da guerra. Alguns dizem que o local caiu nas graças de alguns comandantes aliados, como o general norte-americano Dwight Eisenhower. Outras vozes afirmam que devido ao pouco uso que Hitler fez do edifício, tinha apenas significado simbólico. Com maior probabilidade, foram sua localização e seu pequeno perfil tático que favoreceram mais a sua sobrevivência: bombardear um chalé no alto de uma montanha, encaixado entre picos ainda mais altos sem representar uma ameaça militar, não foi considerado uma prioridade, especialmente levando-se em conta a proximidade com Obersalzberg e o Berghof, segunda residência oficial de Hitler.

Por um motivo ou outro, a construção permaneceu intacta duranta Segunda Guerra Mundial e se tornou, depois dela, em posto de comando aliado. Em 1960, foi devolvida ao Estado Livre da Baviera, que atualmente usa todos os ganhos do local como restaurante para a manutenção desse complexo histórico e diversas obras de beneficiamento.

Entre águias e marmotas

Berchtesgadener Land, a região onde fica o famoso Ninho da Águia de Adolf Hitler, é um paraíso natural que abriga um dos maiores parques nacionais da Alemanha, famoso entre os germânicos por suas águias e marmotas. A cerca de 25 quilômetros da cidade austríaca de Salzburgo, dentro do parque encontramos o Königssee, o lago do rei, um magnífico lago glacial alpino de águas cristalinas que se pode atravessar de bote. Às margens do Königssee fica a igreja católica de São Bartolomeu, que todo dia 24 de agosto recebe uma grande peregrinação a partir da localidade austríaca de Maria Alm. Berchtesgaden também é uma região de escalada dominada pelo Watzmann (2.713 metros), o terceiro pico mais alto da Alemanha. Definitivamente, um lugar de referência para os amantes da natureza alpina.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_