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Primeiros indícios de que há um continente em Marte

Robô 'Curiosity' detecta pela primeira vez uma crosta continental no planeta vermelho

Nuño Domínguez
O robô 'Curiosity' captado pela sonda MRO em 8 de abril.
O robô 'Curiosity' captado pela sonda MRO em 8 de abril.NASA

Há um robô do tamanho de um utilitário que anda por Marte disparando raios laser. Sua luz concentra a potência de um milhão de lâmpadas em um ponto milimétrico e permite analisar as rochas a distância. Essa tecnologia abre uma janela única para o que ocorreu no planeta há bilhões de anos e, graças a ela, o Curiosity acaba de encontrar indícios do que poderia ser o primeiro continente achado em Marte.

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Os resultados do experimento ChemCam, publicado nesta segunda-feira na Nature Geoscience, indicam que há rochas marcianas com uma composição muito similar à da crosta continental da Terra. Esse tipo de rocha forma todos os continentes terrestres e tem uma composição diferente da crosta que há sob os oceanos. Essa atividade geológica foi fundamental para que a Terra pudesse desenvolver vida e os novos dados apontam que o planeta vermelho tinha uma atividade semelhante, muito maior do que se pensava até agora.

Uma das amostras de rocha da possível crosta continental detectada em Marte.
Uma das amostras de rocha da possível crosta continental detectada em Marte.NASA

O périplo do Curiosity pela cratera Gale começou em 6 de agosto de 2012. Em seu caminho o robô se deparou com pedras de uma estranha cor clara, diferentes dos basaltos escuros abundantes no planeta. A origem dessas rochas esbranquiçadas, escrevem os autores do estudo, parece ser uma “crosta de vários quilômetros de espessura” que ficou em parte exposta no setor norte da cratera.

Depois de queimar 22 dessas pedras com o laser e analisar seus componentes, os responsáveis pelo ChemCam garantem que são ricas em feldespatos, o que indica que têm uma origem magmática. De fato, ressaltam, sua composição é similar à da crosta continental mais antiga encontrada na Terra. Sua existência significa que o planeta vermelho tinha em seu interior uma atividade geológica muito maior do que se pensava. De modo análogo ao que aconteceu no nosso planeta, esse magma teria moldado a crosta até fazer aflorar a matéria-prima necessária para formar continentes.

Jesús Martínez-Frías, pesquisador do Instituto de Geociências (IGEO, CSIC-UCM) e membro da equipe de ciência do Curiosity, destaca a importância desse achado. “Não é a primeira vez que se sugere a existência de uma crosta continental, mas é a primeira em que se detecta e analisa uma in situ”, afirma. Até agora se assumia que em Marte havia duas grandes placas, uma mais fina no hemisfério norte, e que foi o fundo de um enorme oceano, e outra mais grossa no sul, onde se encontra o veículo, explica.

A nova descoberta é “muito importante”, embora ainda seja cedo para confirmar a existência de “um grande continente”, ressalta Martínez-Frías. Os dados mostram que o planeta não só é muito mais diversificado em minerais do que se pensava, mas que também eles foram transformados pelo magma para dar lugar a uma grande variedade de rochas. Isso, por sua vez, tem importantes implicações para a possibilidade de vida. Marte pode ser um gêmeo da Terra, muito mais bem dotado na origem para gerar a vida. De fato, há a possibilidade de que toda a vida da Terra provenha do planeta vermelho. De todo o modo, a existência de atividade geológica reforça as possibilidades de biologia em Marte. “É essa vitalidade geológica que cria, modifica e destrói ambientes nos quais a vida pode surgir e evoluir”, observa Martínez-Frías. “Estamos somente começando a compreender o contexto passado dessa diversidade geológica em Marte”, adverte;

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