_
_
_
_
_

Para a Alemanha, Tsipras derrubou todas as pontes com a Europa

Vice-chanceler Sigmar Gabriel considera difícil pensar em retomada das negociações

Luis Doncel
Partidário do não interrompe discurso de Merkel semana passada.
Partidário do não interrompe discurso de Merkel semana passada.C. BILAN (AFP)

Ao longo da semana, vários líderes alemães disseram que um não grego equivaleria a um não à Europa. Neste domingo, depois de saber o resultado do referendo, Berlim se manteve firme. “Após rejeitar as regras do jogo da eurozona, é difícil de imaginar continuar negociando programas bilionários”, disse o número dois do Governo e líder dos sociais-democratas, Sigmar Gabriel, em entrevista ao jornal Der Tagesspiegel. “Tsipras derrubou as últimas pontes com a Europa”, acrescentou o vice-chanceler (vice-primeiro-ministro).

Mais informações
Grécia vota contra a austeridade
O risco de colapso bancário deixa a Grécia nas mãos do BCE
“Chorei muito para tomar essa decisão”, diz eleitora grega
OPINIÃO | Política elevada

Depois da vitória do não, a chanceler Angela Merkel enfrentará a partir de segunda-feira o que talvez seja o momento mais delicado de seus dez anos de mandato. Merkel, que na segunda viajará a Paris para discutir a situação com o presidente François Hollande, repetiu inúmeras vezes que o princípio da “solidariedade em troca de reformas” é irrevogável. E, caso ela se esquecesse disso em algum momento, em seu partido a lembrariam imediatamente.

Já antes da inesperada convocação do referendo, teria sido complicado para Merkel convencer muitos de seus colegas democrata-cristãos a aceitarem um novo plano de auxílio. Mas depois do não grego, numa consulta que a Alemanha recebeu quase como uma afronta pessoal, a chance de chegar a um acordo se complicou ainda mais. E o não dá força aos que, como o ministro Wolfgang Schäuble, consideram impossível a situação e acham que o melhor é deixar a Grécia cair e avançar na integração dos 18 países que ficarem no euro. Em Berlim se acredita, além disso, que se transigirem agora com o Syriza, isso alimentará forças semelhantes, como o Podemos na Espanha.

Mas a decisão não será fácil. Merkel terá que ouvir Governos como o francês, mais disposto a chegar a um acordo. E voltará a receber ligações de Washington, nas quais será lembrada da necessidade de assegurar a estabilidade na zona do euro. E também as perdas associadas a uma saída do euro seriam multibiliionárias, como acaba de alertar o Bundesbank. Jens Weidmann, presidente do banco central alemão, informou na semana passada ao Governo que se a Grécia deixar a união monetária o Bundesbank não poderá transferir aos cofres públicos nos próximos anos parte de seus lucros, o que provocaria um rombo no orçamento federal. Fontes do Bundesbank estimam essas perdas potenciais em até 45 bilhões de euros (perto de 170 bilhões de reais).

Os democratas-cristãos contam com o apoio do Partido Social-Democrata. Estão longe os tempos em que o SPD criticava a chanceler por sua política europeia e exigia um Plano Marshall para a Grécia. Desde que governa com os democratas-cristãos em Berlim —e muito particularmente desde a vitória do Syriza en Atenas—, o vice-chanceler Gabriel compete em rigidez com Merkel.

O líder do SPD advertiu Alexis Tsipras que a Europa não se deixaria ameaçar por um “Governo comunista”, e na semana passada —num evento com Merkel— disse que a vitória do não representaria “uma clara decisão contra a permanência na eurozona”. Apesar da defesa das teses gregas feita pelo partido Die Linke, das centenas de pessoas que na sexta-feira se reuniram no bairro berlinense de Kreuzberg para apoiar o Governo de Tsipras, e das que no sábado irromperam num ato de Merkel, a opinião pública alemã fica majoritariamente ao lado de seu Governo.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_