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BCE mantém empréstimos de emergência aos bancos gregos

Instituição suíça acompanha de perto acontecimentos e está pronta para rever a decisão

Claudi Pérez
Segurança leva dinheiro a uma sucursal bancária em Atenas.
Segurança leva dinheiro a uma sucursal bancária em Atenas.MARKO DJURICA (REUTERS)

O Banco Central Europeu se reuniu neste domingo e decidiu manter a liquidez de emergência aos bancos gregos, apesar do rompimento das negociações entre o Governo de Alexis Tsipras e os parceiros do euro após a convocação de um referendo na Grécia sobre o pacote de resgate europeu. O BCE, porém, continua acompanhando de perto os acontecimentos e está pronto para rever a decisão, se necessário.

A Grécia, por sua vez, também convocou uma reunião para discutir na tarde deste domingo a situação em seu sistema bancário. O ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, em declarações à BBC negadas pouco depois pela Grécia, supostamente afirmou que o Governo analisará ao longo da noite se impõe controles de capital e fecha os bancos na segunda-feira. Nos caixas eletrônicos se formaram filas para sacar dinheiro, tão logo se soube na noite de sexta-feira da decisão do primeiro-ministro Alexis Tsipras de convocar um referendo sobre a proposta europeia. Além disso, segundo fontes do bloco europeu, no sábado já haviam saído da Grécia 400 milhões de euros (1,4 bilhão de reais).

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, duvida de que o BCE vá retirar o oxigênio do sistema financeiro grego, o que seria um desastre para o país. O BCE “não pode cortar o suprimento” dos gregos, disse Valls, que alerta para o risco real de que a Grécia saia da zona do euro se ele “não” ganhar o referendo.

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Uma fonte “bem situada” do BCE, citada pela rede britânica BBC, não se mostra tão otimista quanto Valls, pois assegura que o órgão regulador porá fim às linhas de assistência aos bancos gregos. “Acreditamos que o Governo grego não terá mais remédio a não ser anunciar feriado para os bancos amanhã (segunda-feira) enquanto introduz controles de capital”, o que neste caso significa restrições sobre a quantidade de dinheiro que os gregos poderão retirar de seus bancos, segundo essa fonte.

Na avaliação de Valls, o órgão regulador europeu não deveria cortar o fluxo ao sistema bancário grego, até mesmo levando em conta que o resgate do qual depende agora a economia grega expira na terça-feira, ou seja, até que a Grécia não cumpra em 30 de junho o pagamento do 1,5 bilhão de euros (5,4 bilhões de reais) que tem de quitar com o FMI. “O BCE é independente, mas não duvido de que assumirá suas responsabilidades”, disse Valls à emissora Europe 1. “Não acredito que corte o suprimento, falando de outro modo.” Ele também alertou os gregos para o risco do possível “não” no referendo convocado por Tsipras para o domingo que vem. “O povo grego tem de poder decidir com lucidez. Se houver um voto negativo, há risco real de o país sair da zona do euro.” Finalmente, ele fez um chamado ao Governo grego para que “retorne à mesa de negociações”.

As declarações de Valls chegam apenas algumas horas antes da reunião dos governadores do Banco Central Europeu para decidirem se mantêm as linhas de liquidez aos bancos gregos, de modo a permitir que continuem operando depois das retiradas maciças de fundos e de depósitos nos últimos dias. Se o BCE retirar seu apoio, o sistema não demoraria muito para cair.

Ainda na segunda-feira, na abertura, os bancos terão pela frente longas filas de pessoas tentando sacar seu dinheiro, o que os deixaria sem fundos e os obrigaria a uma espécie de quota –limites à quantidade de dinheiro que os cidadãos podem sacar dos bancos. Já no sábado, ante o temor da imposição de limites, milhares de gregos fizeram fila para sacar nos caixas eletrônicos, esgotando o dinheiro em muitos deles.

Além do mais, sem o financiamento do BCE, os caixas dos bancos ficarão vazios, o que deixará toda a economia sem financiamento, incluindo o Estado grego, ao qual só entregam dinheiro os bancos do país, já que ninguém mais quer fazê-lo. Se o Estado não tem dinheiro, não poderá pagar os funcionários nem as aposentadorias e pensões, com as dramáticas consequências que isso pode ter em um país no qual a pobreza já fez estragos depois de vários anos de brutal crise econômica.

Varoufakis, por sua vez, afirmou ao tabloide alemão Bild que a “chave” para resolver a crise está nas mãos da chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel. O ministro grego ressaltou que Atenas continua aberta à negociação com os credores e a novas propostas. “Os chefes de Governo da UE têm de agir. E, entre eles, Merkel, como representante do país mais importante, tem a chave (...). Espero que a use”, afirmou o ministro grego.

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