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Cresce a pressão sobre a Europa para forçar um pacto na cúpula da Grécia

Washington e o FMI intensificam seus apelos para que a UE evite um novo fracasso

O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras deixa seu gabinete em Atenas.
O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras deixa seu gabinete em Atenas.COSTAS BALTAS (AFP)

Crise, tragédia, drama: são todas elas palavras gregas, e todas elas descrevem perfeitamente o estado da negociação entre Atenas e seus credores, que encara um de seus momentos definitivos. Washington e o FMI redobram as pressões sobre a Europa para evitar um novo fracasso. O Governo de Alexis Tsipras ofereceu o enésimo plano “definitivo” para facilitar um acordo na cúpula desta segunda-feira e evitar uma confusão colossal em seu sistema bancário, cujas fugas de depósitos podem acabar levando o país inteiro à bancarrota.

Tsipras há dias ameaça com o “grande não” da Grécia às exigências dos credores, em referência ao poeta Konstantinos Kavafis, que assim descreveu a resistência grega ao fascismo nos anos de chumbo do século passado. Contra Kavafis, Elvis Presley: uma alta fonte europeia citava hoje o “it’s now or never” – é agora ou nunca – do Rei do Rock para resumir o estado de ânimo das relações entre a Grécia e seus credores. Washington se une a essa cacofonia com o tom lúgubre das grandes ocasiões: o secretário do Tesouro, Jack Lew, pediu à Grécia que adote “decisões difíceis”, mas avisou aos europeus que as consequências de uma nova decepção seriam “terríveis” para todo o continente. Os europeus há semanas dizem que a zona do euro está mais bem preparada do que em 2012. Mas os EUA acreditam que a Europa poderia sofrer consequências graves no caso de uma reedição da crise, sem que o BCE tenha novos cartuchos para gastar e com as dívidas públicas muito mais vultosas.

A Grécia enfrenta uma situação potencialmente explosiva com seus bancos, mas se mantém firme e sustenta que Berlim e companhia também precisam fazer concessões. Milhares de pessoas se manifestaram no domingo em Atenas contra a austeridade. Não era uma concentração stricto sensu a favor do Governo, apesar da presença de numerosas bandeiras do partido governista  Syriza e de algumas vozes governistas terem feito coro ao lema da convocação nas redes sociais (“Nem um passo atrás, não nos deixamos chantagear”).

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Na concentração diante do Parlamento havia sobretudo aposentados e funcionários públicos, mobilizados pelo poderoso sindicato dessa categoria. Pensionistas e servidores públicos encarnam dois dos limites teoricamente irrenunciáveis do Governo: as pensões e a preservação dos empregos.

Nova oferta

Apesar dos protestos, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, deixaram claro que Atenas precisa negociar antes com as instituições e com o Eurogrupo (instituição que reúne ministros da zona do euro e outras autoridades) para esboçar um acordo técnico que sirva como base para o pacto político a ser discutido na cúpula europeia desta segunda. Centrado no curtíssimo prazo, Tsipras cumpriu seu prometido e anunciou o envio da enésima oferta grega, intensificado seus contatos diplomáticos com Merkel, Hollande e o chefe da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Da proposta helênica sabe-se pouco, apesar de Atenas geralmente deixar vazar detalhes. Fontes oficiais citadas pela Reuters e Bloomberg relataram que essa oferta inclui a eliminação das pré-aposentadorias a partir de 2016, a possibilidade de alterar o impostos sobre consumo (IVA) e um aumento de impostos sobre as grandes empresas. As fontes gregas ouvidas acrescentaram que, em contrapartida, a Grécia espera alguma concessão relacionada ao alívio da dívida.

Não está nada claro se o plano grego será suficiente, nem se os sócios irão se comprometer com a reestruturação: o acordo continua no ar, apesar das terríveis pressões sobre o sistema financeiro grego, que na semana passada viu se esvaírem mais de 4 bilhões de euros (14 bilhões de reais) em depósitos. O BCE se reúne novamente na segunda-feira para estudar o que fazer com a respiração por aparelhos oferecida às instituições bancárias. Os analistas dão por certo que, sem um acordo político na madrugada da segunda-feira, será imposto um controle de capitais para evitar a quebra dos bancos. Mas as fontes consultadas em Bruxelas apontam que o esperado acordo poderia dilatar-se até a cúpula de chefes de Estado e de Governo da UE da próxima quinta-feira.

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