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Governo do México responde ao ataque xenófobo de Donald Trump

Secretário do Interior qualifica declarações de Trump como "preconceituosas e absurdas"

Jan Martínez Ahrens
Donald Trump no anúncio de sua candidatura republicana.
Donald Trump no anúncio de sua candidatura republicana.Richard Drew (AP)

A Torre Trump tem 206 metros de altura. Orgulhosamente cravada no número 721 da Quinta Avenida de Nova York, em seu apartamento de cobertura vive um multimilionário de cabelos loiros platinados e gostos extremos. Ele se chama Donald Trump e, em alguns dias, costuma atirar contra o vazio, desde o pico de seu sucesso, para sentir o gosto de se chocar contra o mundo. Barack Obama, as mulheres, os mexicanos... a lista de seus ódios é interminável, e, bomba na mão, o converteu em uma das personalidades mais detestáveis dos Estados Unidos. Sua saraivada xenófoba mais recente chegou na terça-feira quando, ao anunciar sua pré-candidatura à presidência dos Estados Unidos, Trump acusou os mexicanos de levar “drogas e estupradores” a seu país e, para remediar a situação, propôs a construção de um muro na fronteira, que, além disso, teria que ser pago pelo México. O insulto foi tão desmedido que o próprio Governo de Enrique Peña Nieto, normalmente cauteloso com as tempestades procedentes de Washington, teve que sair em defesa do orgulho da nação.

Em um gesto pouco habitual, o secretário de Governança (Interior) do México, Miguel Ángel Osorio Chong, deixou de lado os confusos assuntos internos e respondeu publicamente ao multimilionário. Não apenas tachou suas palavras de “preconceituosas e absurdas” como recordou uma verdade que está por trás da grandeza dos Estados Unidos: “O senhor Trump desconhece a contribuição de todos os migrantes, de praticamente todas as nações do mundo, que chegaram aos Estados Unidos para ajudar seu desenvolvimento”.

São os mexicanos que estão nos EUA que contribuem para o desenvolvimento do país e ajudam a fortalecê-lo como grande potência mundial Miguel Ángel Osorio Chong

Osorio Chong, uma das figuras políticas de mais peso no México e que flerta com a possibilidade de participar da corrida presidencial, aproveitou para voltar as atenções aos milhões de mexicanos que vivem nos Estados Unidos e cuja orientação política se converteu em um imenso reservatório eleitoral de ambos os lados da fronteira. “São as e os mexicanos que estão nos EUA, por diferentes circunstâncias, que sem dúvida contribuem para o desenvolvimento dos Estados Unidos e ajudam a fortalecer o país como grande potência mundial”.

As invectivas de Trump, como recordou Chong, surgem em um momento de disputa eleitoral e têm como objetivo descarado buscar o voto da extrema-direita norte-americana. Mas, com sua virulência, deixam à tona os preconceitos raciais que ainda existem no grande vizinho do norte. É um alvo que Trump já buscou acertar em ocasiões anteriores. Na mesma noite em que o cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu ganhou três prêmios Oscar, Trump zombou do diretor e aproveitou para tachar o México de país corrupto. O ataque doeu aos mexicanos, e, somado às farpas lançadas contra Iñárritu pelo ator Robert Downey Jr., desencadeou uma gigantesca onda de resposta nas redes sociais. Algo semelhante ao que está acontecendo com o ataque mais recente de Trump.

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O fato de esse antagonismo persistir em pleno século XXI, embora cada vez menor e mais isolado, mostra a complexidade dos laços entre os dois países. Com uma fronteira comum de 3.185 quilômetros, o México vive sua relação com os Estados Unidos com sentimentos conflitantes. A amizade e a dependência, a admiração e o orgulho fazem parte desse universo. E, mais que qualquer fronteira, assinalam o território comum de dois países de trajetórias históricas muito distantes, mas condenados a entender-se.

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