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FBI também investiga concessão da Copa do Brasil 2014

Os agentes analisam o Mundial pelos vínculos entre o ex-presidente da CBF e a FIFA

Ricardo Teixeira em uma imagem de 2011.
Ricardo Teixeira em uma imagem de 2011.Felipe Dana (AP)

Como avisou a procuradora-geral dos Estados Unidos, a investigação do FBI que “derrubou” o poderoso presidente da FIFA, Joseph Blatter, não conhece limites. Os agentes analisam também a organização do Mundial de 2014 em virtude dos estreitos vínculos entre o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o secretário-geral da FIFA, Jérôme Valcke (mão direita de Blatter), segundo informou o Estadão com base em fontes que conhecem o caso. As confissões realizadas por diversos delatores confirmaram a existência de subornos prévios à designação do Mundial da África do Sul, em 2010, como há tempo se suspeitava, e as autoridades norte-americanas revisarão a escolha das duas próximas Copas – Rússia 2018 e a polêmica Catar 2022 –, o que poderia inclusive provocar tensões internacionais.

Teixeira, que presidiu a CBF entre 1989 e 2012, é o principal alvo das diversas investigações em andamento sobre a confederação do Brasil. Mas, pelo menos até agora, ele não está na lista de indiciados por lavagem de dinheiro e evasão fiscal divulgada pelo Departamento de Justiça dos EUA na semana passada e que resultou na detenção de sete dirigentes em Zurique (entre eles, o sucessor de Teixeira, José Maria Marin). Até o momento, não se sabe se Teixeira será um dos “conspiradores” citados pelo FBI, cujas identidades ainda não foram reveladas. O ex-genro de João Havelange era diretor do Comitê Organizador da Copa do Mundo 2014 quando se exilou em Miami, em 2012, enfrentando gravíssimas acusações que depois seriam confirmadas e atingiriam o próprio Havelange – que perdeu sua condição de presidente honorário da FIFA e de membro do Comitê Olímpico Internacional (COI).

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Os investigadores analisam mais de mil documentos e contratos assinados pelos organizadores nos anos prévios à realização do torneio, depois que a candidatura única do Brasil ao Mundial (que correspondia à América do Sul) foi preparada pelo próprio Valcke. As suspeitas sobre o Mundial 2014 somam-se à investigação do contrato de 150 milhões de dólares (cerca de 465 milhões de reais) assinado entre a Nike (mencionada nos autos do processo como “uma empresa de material esportivo) e a CBF na época de Teixeira, entre outros contratos. Valcke, por sua vez, nega terminantemente a existência de condutas ilegais em supostas transações milionárias que vieram à tona na imprensa.

Marco Pólo Del Nero, atual presidente da CBF, abandonou Zurique às pressas um dia após as detenções, véspera da reeleição de Blatter. Queria “responder pessoalmente” às acusações no Rio e em São Paulo. As fortíssimas pressões sobre ele nascem de seu estreitíssimo vínculo com Marin, formalmente acusado de receber generosas propinas por campeonatos internacionais e brasileiros. Segundo a Folha de S. Paulo, Del Nero assinou o balanço de demonstrações financeiras da CBF de 2014 e participou (como vice-presidente da entidade, eleito por Marin) de pelo menos 10 dos 13 contratos comerciais que a confederação firmou desde 2012, quando seu mentor chegou à presidência por ser o vice mais velho.

O futebol brasileiro vive uma enorme tormenta, e Del Nero manobra sem descanso para impedir uma revolta de patrocinadores e federações estatais de futebol. Isso o obrigaria a apresentar sua renúncia, já pedida publicamente por personalidades como o senador Romário e Ronaldo, e promovida de forma privada por diretores de clubes e certos dirigentes regionais em meio à frieza do Governo, que nunca escondeu seu o pouco apreço pela direção da CBF. Dilma Rousseff já deixou claro que a investigação sobre a corrupção na FIFA “fará bem ao futebol mundial e ao brasileiro”.

Zico pretende seriamente apresentar sua candidatura à presidência da FIFA nas eleições do fim do ano

Ainda não se sabe quem é o conspirador 12 da investigação do FBI, e Del Nero negou repetidamente a possibilidade de que seja ele próprio. Todo o establishment do futebol brasileiro parece de repente estar sob suspeita, embora isso até agora não tenha afetado as competições. O presidente convocou uma assembleia extraordinária da CBF para o próximo dia 11, quando serão debatidas as modificações nos estatutos da entidade. Desse modo, ele tenta conter o lobby dos clubes que buscam a criação de uma liga independente. Neste fim de semana, algumas das principais figuras do futebol brasileiro, como Zico e Ronaldo, vão se reunir em Berlim para a final da Champions League. Lá discutirão os próximos movimentos e pedirão o apoio dos patrocinadores da CBF. Zico pretende seriamente apresentar sua candidatura à presidência da FIFA nas eleições do fim do ano e garantiu a este jornal que vai falar quando voltar ao Brasil, a partir do dia 9.

Na quinta-feira do Corpus Christi na Granja Comary, em Teresópolis, os jornalistas perderam o início do treino da seleção esperando a chegada de Del Nero, que visitou os atletas internacionais para lhes desejar sorte antes do desafio pós-Mineiraço da Copa América. O presidente da CBF cruzou o portão sem baixar os vidros escuros de deu carro e sem dar declarações à imprensa. Como disse um fotógrafo carioca, de todo jeito houve mais aproximação (e foi mais barato) que no ano passado, quando ele costumava aterrissar em Comary a bordo de um helicóptero.

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