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Pessimismo no Brasil bate recorde com crise econômica e corrupção

Levantamento do Ibope mostra que 47% dos brasileiros estão pessimistas com o futuro

Protesto do Dia Nacional de Paralisação em frente à Volkswagen, em São Bernardo do Campo, São Paulo.
Protesto do Dia Nacional de Paralisação em frente à Volkswagen, em São Bernardo do Campo, São Paulo.Adonis Guerra (SMABC)

Bateu um desânimo geral entre os brasileiros diante das notícias negativas deste ano. Uma pesquisa do Instituto Ibope, realizada em 141 cidades, revela que 36% dos brasileiros estão pessimistas em relação ao futuro do país, e outros 12% estão muito pessimistas. Ou seja, 47% da população está sem esperança sobre o que virá. É o pior resultado desde 2001, ano do apagão, quando o racionamento de energia tirou o humor do país. Mais do que isso, mostra a rota descendente da confiança popular durante a gestão da presidenta Dilma Rousseff, o que explica a hostilidade persistente de alguns setores a sua pessoa. No começo do seu primeiro mandato, em 2011, 73% se declaravam otimistas com o futuro. No ano passado, esse porcentual caiu para 49%.

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Atualmente, 20% estão confiantes, e uma parcela de 28% não se diz nem otimista e nem pessimista. O estado de ânimo atual não chega a surpreender, diante dos escândalos de corrupção, e a crise econômica que afeta o cotidiano dos brasileiros.

Quando a avaliação leva em conta o poder de compra e a região dos entrevistados, os nordestinos e os de menor poder aquisitivo lideram o pessimismo, justamente os que compõem prioritariamente o perfil de eleitores da presidenta. No Nordeste, 51% estão pessimistas ou muito pessimistas, contra 50% dos que foram ouvidos no Sudeste, 41% do Norte e Centro-Oeste e 46% do Sul.

Mais da metade (53%) dos que ganham até um salário mínimo está pessimista em relação ao futuro, contra 49% dos que ganham mais de cinco salários.

O levantamento divulgado nesta sexta, que ouviu 2002 pessoas, mostra que as principais preocupações da população residem na saúde (o mais relevante, segundo 25% dos entrevistados), seguido pelas drogas (14%) e corrupção (13%), seguidos por segurança e educação (9% para cada um).

Num ano marcado pelo desemprego depois de mais de uma década de mercado de trabalho aquecido, muitos brasileiros manifestaram saudade dos tempos de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Confrontados com a frase “O desemprego hoje no país é menor do que no governo FHC”, 21% dos entrevistados pelo Ibope disseram discordar totalmente dessa afirmação, embora outros 21% concordem. Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso a taxa de desocupação era de dois dígitos, quase o dobro da atual, mas no dia a dia as pessoas não estão preocupadas com porcentuais de comparação. A paralisia depois de anos de prosperidade gera uma frustração que está refletida na pesquisa.

Os preços em alta são uma preocupação latente dos brasileiros. Para 25% das pessoas, a inflação atual é mais alta do que nos anos de Fernando Henrique, embora a realidade seja o contrário. O mal-estar com o Governo atual acaba contagiando a memória – nos anos FHC houve um pico inflacionário de 12% em 2002 – mas a expectativa é que esse problema que o Brasil enfrentou por mais de um século já estivesse equacionado. A alta de tarifas e da gasolina deu um salto no início do ano, corroendo a renda dos brasileiros. E ainda que o índice inflacionário oficial esteja na casa dos 8%, para quase metade dos brasileiros a ‘sensação térmica’ é que ela supera esse porcentual: para 18% das pessoas ouvidas pelo instituto ela está entre 9% e 12% e para 19% ela é maior que 12%. A divulgação do PIB negativo (-0,2%) nesta sexta aumenta a sensação de desalento. Diante da certeza de que o ano seguirá recessivo, dificilmente o pessimismo será revertido no curto prazo.

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