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Andrés Pastrana: “Na Venezuela, uma ditadura governa”

Maduro impede pela segunda vez que dois ex-presidentes latino-americanos visitem López

Nicolás Maduro na quarta-feira em Caracas.
Nicolás Maduro na quarta-feira em Caracas.HANDOUT (REUTERS)

O habitualmente conciliador ex-presidente da Colômbia Andrés Pastrana se referiu em termos duros ao governo de Nicolás Maduro na última etapa de sua visita à Venezuela. Sua paciência parece ter se esgotado depois de que, pela segunda vez em pouco mais de quatro meses, o regime o impediu de entrar na prisão militar de Ramo Verde, nos arredores montanhosos de Caracas, onde está preso há quinze meses o líder oposicionista Leopoldo López.

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“Fica claro que na Venezuela uma ditadura governa”, disse o ex-presidente colombiano assim que percebeu que haviam fracassado as gestões com as autoridades militares encarregadas do presídio. Em uma derradeira tentativa, ele falou por telefone com o oficial responsável, que lhe transmitiu a negativa do governo. “Nicolás Maduro nos chama de desocupados porque não sabe o que é trabalhar nem o que é democracia”, disse. Ao contrário de sua visita anterior, quando fez a tentativa com o ex-presidente chileno Sebastián Piñera, desta vez ele estava acompanhado do ex-governador boliviano Jorge Quiroga, que também se expressou em termos semelhantes. “Aqui está instalada qualquer coisa menos uma democracia. Não nos deixaram ver López porque aqui a vida vale menos que um telefone celular. Leopoldo é o homem mais corajoso do mundo.”

Quiroga se refere ao motivo pelo qual o dirigente oposicionista, que há cinco dias se declarou em greve de fome, não pode receber visitas. Há uma semana, durante uma revista, as autoridades do presídio apreenderam um telefone celular entre seus pertences. Ao examiná-lo encontraram um vídeo, de 3:40 minutos de duração, no qual López convocava os venezuelanos a se manifestarem neste sábado, 30 de maio, e afirmava que não ingeriria alimentos enquanto não fosse fixada a data definitiva das eleições parlamentares, garantida a presença de observadores internacionais não controlados pelo regime venezuelano e libertados os presos políticos.

Na iniciativa da greve de fome ele foi acompanhado por um companheiro de prisão, o ex-prefeito de San Cristóbal Daniel Ceballos, que, depois da revista, foi transferido para uma penitenciária em Guárico, um Estado quente no centro da Venezuela, onde teve o cabelo raspado e passou a usar o uniforme dos presos comuns. Pastrana e Quiroga também tentaram, sem sucesso, visitá-lo durante a manhã de sexta-feira. As autoridades do presídio permitiram a entrada de sua esposa, Patricia. “Daniel está muito magro, com seis ou sete quilos a menos, e está vivendo em condições sub-humanas no presídio-modelo do sistema penitenciário. Não quis tomar soro, mas água, e o recipiente onde a armazena está ficando vazio. E é mentira o que afirma o governo, que uma equipe médica está acompanhando sua saúde. São só duas pessoas, que lhe medem a pressão e logo depois vão embora”, denunciou Patricia quando a imprensa lhe pediu que descrevesse o estado de saúde do marido. Pastrana considerou um despropósito que a Cruz Vermelha não esteja acompanhando essa situação crítica e exigiu a presença de uma equipe médica.

Ceballos completou na sexta-feira uma semana sem ingerir comida e, segundo sua esposa, está disposto a acentuar sua imolação se houver uma nova vítima da repressão ou um novo ataque à imprensa. “Eu o encontrei muito forte e bem convencido do passo que está dando”, acrescentou Patricia de Ceballos, com a voz embargada e confortada a todo o momento por Lilian Tintori, esposa de López, e o próprio Quiroga.

Pastrana e Quiroga puderam, porém, visitar na noite de quinta-feira outro dos presos políticos venezuelanos mais importantes, o prefeito da área metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, que convalesce de uma operação em sua casa e enfrenta acusações de conspiração e associação para delinquir.

O ex-presidente colombiano, e também ex-prefeito de Bogotá, decidiu não acompanhar a manifestação da oposição e deixou o país na própria sexta-feira. Quiroga, por sua vez, sugeriu que está preparado para caminhar com os familiares de López. “Lilian me deu instruções. Já tenho minha camisa branca”, afirmou o oposicionista boliviano, em referência à roupa que os manifestantes usarão neste sábado, a pedido da mulher de López. O protesto não conta com o aval de toda a oposição. Existem profundas divergências entre a facção mais propensa à destituição imediata de Maduro e aquela mais disposta a aproveitar o desmoronamento do governo nas pesquisas para consolidar a vantagem nas próximas eleições.

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